Obras do Estádio Nacional se destacam por terem reduzido impacto ambiental, evitarem desperdício de material e terem alta eficiência no consumo de energia

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12/11/2011 às 03:00

Estádio sustentável de Brasília

Obras do Estádio Nacional se destacam por terem reduzido impacto ambiental, evitarem desperdício de material e terem alta eficiência no consumo de energia

Por

Victor Ribeiro, da Agência Brasília

“Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. A máxima do cientista francês Antoine Lavoisier (1743-94), pai da química moderna, nunca esteve tão atual com a crescente valorização de ações que tornem sustentável o progresso mundial. O novo Estádio Nacional de Brasília (ENB) é um dos ícones desse esforço de aliar o desenvolvimento à preservação ambiental, por meio de racionalização, reciclagem, reuso e coleta seletiva de resíduos.

Essas medidas constituem o escopo do projeto de sustentabilidade das obras do ENB – e que podem render o inédito selo internacional Leed Platinum, conferido pela prestigiada instituição US Green Building Council. Para se tornar referência, a obra deve seguir preceitos ambientais em todas as etapas, transformando-se numa verdadeira Ecoarena.

“Decidimos não construir apenas um estádio, mas uma arena verde, que segue os conceitos mais modernos de sustentabilidade, de aproveitamento dos recursos naturais. Não é apenas uma obra, mas um legado para a capital do país”, destaca o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz.

A água usada na lavagem das bicas das betoneiras e pela central de concreto, por exemplo, é reutilizada na lavagem dos pneus dos veículos que circulam pelo canteiro de obras. “Todo caminhão que sai da obra passa por um lava-rodas, que tira o excesso de barro, para que ele não suje as vias externas. Essa lavagem é feita exclusivamente por água de reuso e dispensa a água potável”, explica a coordenadora de Meio Ambiente do Consórcio Brasília 2014, Priscilla Mesquita Matos.

Segundo Priscilla, aproximadamente mil toneladas de detritos foram encaminhadas para reciclagem desde o começo das obras, em julho do ano passado. Já são 826 toneladas de metal, 182 toneladas de madeira, 9 toneladas de papel e papelão e 2 toneladas de plástico. “Para receberem esse material, todas as cooperativas de reciclagem precisam ter licença ambiental”, informa.

Além do que foi reutilizado, mais de 1 tonelada do chamado resíduo perigoso –constituído por material oriundo dos ambulatórios, objetos contaminados por óleo, pilhas e lâmpadas – foram incinerados. Outra medida é o reflorestamento. “Foi necessário retirar 81 árvores exóticas ao redor do estádio. Como compensação, oferecemos 5 mil mudas para plantio onde a Novacap quiser”, conta Priscilla.

Os materiais comprados para a construção do Estádio Nacional são ecologicamente corretos e vêm de duas empresas em Brasília. O cimento, por exemplo, é do tipo CP3, que contém a escória, substância oriunda da produção do cimento, que seria descartada no meio ambiente.

Grande parte dos detritos é reutilizada na obra. A areia escavada embaixo do campo de futebol do antigo Mané Garrincha, por exemplo, está estocada no canteiro. O concreto da antiga arquibancada foi britado e, hoje, pavimenta o espaço externo do canteiro de obra. Ao todo, foram mais de 200 toneladas de material.

O consórcio responsável pela construção efetua ainda uma série de projetos, como os ecopontos, para coleta seletiva. Vários kits-mitigação estão espalhados pela obra, compostos por um tambor de serragem, uma pá, um saco de lixo e uma aparadeira. Os operários estão capacitados para utilizar o equipamento o mais rápido possível em caso de algum vazamento químico.

Uma horta foi montada perto do refeitório dos operários. Os restos do café da manhã e do almoço, oferecidos pelas construtoras aos funcionários da obra, são encaminhados ao pátio de compostagem para serem transformados em adubo. Em contrapartida, toda hortaliça colhida da horta é servida nas 2,5 mil refeições diárias.

A obra da ecoarena está próxima de completar 40% de sua execução. Cerca de 3 mil operários atuam no canteiro e o terceiro turno já foi iniciado. Os trabalhos de escavação (96% concluídos) e fundação (96,8%) estão em fase final e a concretagem da arquibancada inferior está em ritmo acelerado, com 60% já executados.

Certificação internacional

A busca incessante pela sustentabilidade do estádio pode resultar em um grande êxito: a conquista do inédito certificado Leed Platinum. A vistoria final, que vai determinar a concessão do selo, ocorrerá somente em dezembro de 2012, mas a preocupação em alcançar a meta é diária.

“Todo dia é uma batalha. Realizamos um monitoramento detalhado de cada etapa concluída para não deixar escapar nada”, afirma o arquiteto Vicente Castro Mello, coautor do projeto arquitetônico da arena.

Para ele, não existe um fator que isoladamente garanta o reconhecimento internacional, apesar de a eficiência energética ser um dos destaques do projeto. “Fizemos um estudo bioclimático que, ao longo dos anos, vai resultar na redução do uso de energia”, conta Castro Mello.

O estudo bioclimático, segundo o arquiteto, é uma exigência de qualquer prédio verde. Ele consiste em um planejamento de como aproveitar melhor fatores climáticos, como a iluminação solar e os ventos, para minimizar o uso de lâmpadas e ar condicionado, por exemplo. Ou, ainda, a captação de água da chuva para a irrigação do gramado.

Depois de pronto, o estádio contará com captação de energia solar e de água da chuva. O piso no entorno do estádio será permeável. Além disso, a arena será capaz de gerar 2,5 megawatts de energia, o que corresponde ao abastecimento de mil residências por dia.

Reconhecimento

O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, recebeu no último dia 26 de outubro, em São Paulo, uma homenagem do Green Building Council Brasil (GBC Brasil) pela iniciativa de transformar a obra do Estádio Nacional de Brasília em mais um monumento da capital federal, exemplo de arrojo e sustentabilidade.

Ele foi o único homenageado na categoria Poder Público do prêmio Liderança em Ação – honra concedida pelo órgão máximo responsável por fiscalizar e incentivar em todo o planeta a execução de construções sustentáveis.

Segundo a diretora executiva da GBC Brasil, Maria Clara Coracini, o projeto de Brasília é um exemplo a ser seguido pelas demais unidades da Federação. “O estádio tem apoio incondicional do governador, profissionais de altíssimo gabarito, qualificados e comprometidos com a construção sustentável e a vontade genuína de realizar uma Copa Verde”, elogia. “É por isso que o GBC Brasil decidiu reconhecer publicamente o trabalho de Brasília”, reforçou.

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