28/09/2016 às 01:29, atualizado em 24/05/2017 às 10:00

A cidade onde envelheço vence o 49º Festival de Brasília

Na solenidade de encerramento na noite dessa terça (27), o longa-metragem de Marilia Rocha levou mais três troféus oficiais. Já o público elegeu Martírio, de Vincent Carelli, que também ganhou o prêmio do júri

Por Gabriela Moll, da Agência Brasília

Premiado com o Troféu Candango de melhor filme e R$ 100 mil, o longa-metragem A cidade onde envelheço foi o grande vencedor do 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que terminou na noite dessa terça-feira (27), em solenidade no Cine Brasília (106/107 Sul). Em nome da diretora, Marilia Rocha, o produtor João Matos agradeceu a todos e falou sobre o processo colaborativo do filme, que “foi intenso e rendeu belos frutos”.

O produtor João Matos recebeu o Troféu Candango de melhor filme do 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

O produtor João Matos recebeu o Troféu Candango de melhor filme do 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, representando a equipe de A cidade onde envelheço. Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

Na categoria curtas e médias-metragens, venceu a animação Quando os dias eram eternos, de Marcus Vinicius Vasconcelos. “É a primeira vez que uma animação ganha esse prêmio, e isso se deve ao trabalho de muitos artistas talentosos que abriram os caminhos”, elogiou o diretor. “Está na hora de ter um longa de animação na mostra competitiva.”

Ainda pela mostra competitiva, o prêmio especial do júri ficou com o longa Martírio. “Se a situação está ruim para nós, imaginem para os índios”, refletiu o diretor Vincent Carelli sobre a temática abordada. “Espero que esse filme seja um alerta para refletirmos que esse genocídio tem de acabar.”

A cerimônia de encerramento começou às 19h30, com a apresentação da Orquestra Popular Marafreboi, que misturou ritmos pernambucanos — como o frevo e o maracatu — em interpretação de Praiera, de Chico Science. No final, por volta das 23h30, o grupo voltou a tocar no foyer do Cine Brasília.

A Orquestra Popular Marafreboi abriu a cerimônia de premiação.

A Orquestra Popular Marafreboi abriu a cerimônia de premiação. Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

Homenagens no encerramento do 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

Em iniciativa inédita, foi entregue hoje a medalha Paulo Emilio Salles Gomes, título dado a figuras de destaque na crítica e na difusão do cinema brasileiro. O prêmio leva o nome do cineasta responsável pela criação do Festival de Brasília, que completaria um século de vida neste ano. O secretário de Cultura, Guilherme Reis, entregou a medalha ao crítico de cinema e ator Jean-Claude Bernardet e aproveitou para elogiar esta edição do evento. “Há mais de meio século, este festival se reafirma como local de discussão do cinema brasileiro. É uma enorme alegria chegarmos ao dia de hoje”, comemorou.

O crítico de cinema e ator Jean-Claude Bernardet recebeu a medalha Paulo Emilio Salles Gomes

O crítico de cinema e ator Jean-Claude Bernardet recebeu a medalha Paulo Emilio Salles Gomes. Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

O cineasta francês foi ovacionado de pé pela plateia e agradeceu a todos pelo momento. “Essa medalha resume minha vida. Paulo Emilio influenciou minha vida desde o nosso primeiro encontro”, emocionou-se o homenageado. “O festival foi a grande força da resistência no cinema, durante anos. De certa forma, neste, ele retoma sua vocação original: cultural e política”, destacou Bernadet. “A única dificuldade ao te escolher será eleger alguém com tantos méritos para entregar a próxima”, brincou o curador do festival, Eduardo Valente.

Antes da premiação — que distribuiu um total de R$ 340 mil aos vencedores —, o público assistiu ao longa-metragem pernambucano Baile perfumado (1996), dos diretores Lírio Ferreira e Paulo Caldas, que encerrou a 49ª edição do festival. A escolha do filme marca o aniversário de 20 anos da conquista do primeiro lugar da produção na categoria mais importante da mostra competitiva em solo brasiliense, no 29º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em 1996.

Os Troféus Candango

Os Troféus Candango. Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

“Fico muito feliz que essa obra tenha contribuído para a forma estética com a qual as novas gerações pensam o cinema”, disse Lírio Ferreira, ao apresentar o filme no palco do Cine Brasília. O diretor pernambucano agradeceu a toda a equipe e à curadoria do festival pela escolha. “É muito bom reviver agora uma sessão histórica. Há 20 anos éramos jovens inquietos querendo mudar o mundo, espero que não percamos essa inquietude.”

O diretor Paulo Caldas definiu o festival como “sala de parto” da obra e declarou-se emocionado por vê-la novamente exibida na tela do Cine Brasília. “É lindo saber que o filme continua vivo, com frescor e com amor”, resumiu.

Mostra Brasília no 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

Os 12 diretores brasilienses que concorreram na Mostra Brasília receberam Troféus Câmara Legislativa em 13 categorias, além do prêmio do júri popular, totalizando R$ 200 mil.

Obras da competitiva também receberam premiações oferecidas pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema, pela Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo, pelo Canal Brasil, pelo Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro, pela Fundação CineMemória e pelo jornal Correio Braziliense.

Escolhas do público do 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

O resultado da votação do júri popular, registrada ao longo das mostras por meio de cédulas, também foi divulgado na noite de encerramento. As produções mais bem avaliadas pelos espectadores na mostra competitiva foram os filmes Martírio, na categoria longa-metragem, e Procura-se Irenice, representando os curtas e médias-metragens. Os vencedores receberam R$ 40 mil e R$ 10 mil, respectivamente.

Já na Mostra Brasília, o público elegeu como favoritos o longa-metragem Cora Coralina – todas as vidas e o curta-metragem Das raízes às pontas. O primeiro recebeu R$ 20 mil; e o segundo, R$ 10 mil. “Com certeza este é o festival mais importante que poderíamos ganhar”, ressaltou a diretora do curta premiado, em agradecimento ao público. “Foram vocês que nos proporcionaram esse momento”, completou Flora Egécia.

O melhor ator, Edu Moraes, pelo filme A repartição do tempo, disse que foi uma honra ganhar em casa. “Favoreçam e prestigiem a cultura de Brasília”, pediu. Os prêmios de melhor roteiro e direção ficaram com Vladimir Carvalho, pelo longa-metragem Cícero Dias, o compadre de Picasso. “Estou muito feliz em passar por aqui novamente, depois de vivenciar esse festival de todas as maneiras”, disse o cineasta, que lembrou ter subido no palco do Cine Brasília pela primeira vez há exatos 46 anos.

Reprises dos melhores filmes

A colaboradora do governo Márcia Rollemberg cumprimenta Tânia Quaresma pelo troféu de melhor filme na Mostra Brasília por Catadores de história.

A colaboradora do governo Márcia Rollemberg cumprimenta Tania Quaresma pelo troféu de melhor filme na Mostra Brasília, com Catadores de história. Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

Nesta quarta-feira (28), os dois longas-metragens vencedores nos júris oficiais serão exibidos gratuitamente no Cine Brasília. As transmissões serão às 19 horas, para o campeão da Mostra Brasília (Catadores de história), e às 21 horas, para o melhor filme da mostra competitiva (A cidade onde envelheço).

Programação do último dia do Festival de Brasília

As atividades no Kubitschek Plaza Hotel (Setor Hoteleiro Norte, Quadra 2, Bloco E) também foram encerradas nesta terça-feira (27). Às 10 horas, a equipe do filme Beduíno, de Júlio Bressane, participou de debate com mediação do curador do festival, Eduardo Valente. Em seguida, a cineasta Maria do Rosário Caetano mediou a conversa com as equipes de Os cuidados que se tem com o cuidado que os outros devem ter consigo mesmos, de Gustavo Vinagre, e Deserto, de Guilherme Weber.

À tarde, o hotel recebeu o 3º Encontro Regional do Audiovisual, que contou com a presença de diretores, atores e produtores culturais do setor. Entre os temas debatidos estavam os fundamentos da organização audiovisual nas regiões e o histórico da descentralização e a necessidade da criação de uma entidade macrorregional para a categoria.

No Cine Brasília, a mostra Cinema Agora! levou ao público a produção paranaense Não me fale sobre recomeços, de Arthur Tuoto, seguida da paulistana Pedro Osmar, prá liberdade que se conquista, de Eduardo Consonni e Rodrigo T. Marques. As exibições foram seguidas de debates no foyer do cinema.

Premiados no 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

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[collapse title=”Mostra Competitiva”]

Longa-metragem Curtas e médias-metragens
Filme A cidade onde envelheço, de Marilia Rocha Quando os dias eram eternos, de Marcus Vinicius Vasconcelos
Ator coadjuvante Wederson Neguinho, por A cidade onde envelheço   –
Ator Rômulo Braga, por Elon não acredita na morte  Renato Novais Oliveira, por Constelações 
Atriz coadjuvante Samya de Lavor, por O último trago  –
Atrizes Elizabete Francisca e Francisca Manuel, por A cidade onde envelheço  Lira Ribas, por Estado itinerante 
Direção de arte Renata Pinheiro, por Deserto  Tales Junqueira, por O delírio é a redenção dos aflitos
Direção Marilia Rocha, por A cidade onde envelheço Fellipe Fernandes, por O delírio é a redenção dos aflitos
Fotografia Ivo Lopes Araújo, por O último trago Ivo Lopes Araújo, por Solon
Montagem Clarissa Campolina, por O último trago Allan Ribeiro e Thiago Ricarte, por Demônia – melodrama em 3 atos
Roteiro Davi Pretto e Richard Tavares, por Rifle Fellipe Fernandes, por O delírio é a redenção dos aflitos
Som Marcos Lopes e Tiago Bello, por Rifle Bernardo Uzeda, por Confidente
Trilha sonora Pedro Cintra, por Vinte anos  Dudu Tsuda, por Quando os dias eram eternos
Prêmio do júri  Martírio, de Vincent Carelli Estado itinerante, de Ana Carolina Soares
Júri popular Martírio, de Vincent Carelli Procura-se Irenice, de Marco Escrivão e Thiago B. Mendonça

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[collapse title=”Mostra Brasília”]

Mostra Brasília
Longa-metragem (júri oficial) Catadores de história, de Tania Quaresma
Curta-metragem (júri oficial) Rosinha, de Gui Campos
Ator Edu Moraes, por A repartição do tempo
Atriz Maria Alice Vergueiro, por Rosinha
Direção de arte Andrey Hermuche, por A repartição do tempo
Direção Vladimir Carvalho, por Cícero Dias, o compadre de Picasso
Edição de som Micael Guimarães, por Cora Coralina – todas as vidas
Fotografia Waldir de Pina, por Catadores de história
Montagem Marcius Barbieri, Rafael Lobo e Santiago Dellape, por A repartição do tempo
Roteiro Vladimir Carvalho, por Cícero Dias, o compadre de Picasso
Trilha sonora Dimir Viana, Andre Luiz Oliveira, Renato Matos, Claudio Vinícius e GOG, por Catadores de História
Melhor longa (júri popular) Cora Coralina – todas as vidas, de Renato Barbieri
Melhor curta (júri popular) Das raízes às pontas, de Flora Egécia

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[collapse title=”Outros prêmios”]

Outros prêmios
Prêmio Abraccine Melhor longa-metragem: Rifle, de Davi Pretto
Melhor curta-metragem: Estado itinerante, de Ana Carolina Soares
Prêmio Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo Mallu Moraes
Prêmio Canal Brasil Melhor curta: Estado itinerante, de Ana Carolina Soares
Prêmio Conterrâneos Melhor documentário: Vinte anos, de Alice de Andrade
Prêmio Marco Antônio Guimarães Martírio, de Vincent Carelli
Prêmio Saruê Rosinha, de Gui Campos

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Edição: Raquel Flores