04/01/2017 às 12:44, atualizado em 04/01/2017 às 13:23

Consumo de água deve continuar reduzido em 2017

Nível do reservatório da Barragem do Descoberto no fim de 2016 equivalia à metade do volume registrado em 2015. Por causa da crise hídrica, governo orienta contenção no uso mesmo no período de chuvas

Por Gabriela Moll, da Agência Brasília

Nível do reservatório da Barragem do Descoberto no fim de 2016 equivalia à metade do volume registrado em 2015.

Nível do reservatório da Barragem do Descoberto no fim de 2016 equivalia à metade do volume registrado em 2015. Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília

O consumo consciente da água no Distrito Federal continua como prioridade em 2017. Mesmo com o início do período de chuvas, a cidade vive a maior crise hídrica da história. Em 30 de dezembro de 2016, o volume da Barragem do Rio Descoberto, que abastece 65% da população, chegou a 22,9% — metade do registrado em 2015, 45,8%. De acordo com levantamento da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa-DF), este é o menor número já aferido no reservatório. A comparação é ainda mais drástica se feita em relação a 2013, quando o índice estava em 92,7%.

Responsável pelo abastecimento de 22% de Brasília, o reservatório de Santa Maria segue o padrão decrescente no volume da água. Em 30 de dezembro de 2016, o nível estava em 42,6%, pouco mais da metade que no ano anterior, que alcançou 77,7% na mesma data. Três anos antes, em 2013, o índice era de 96,9%.

Às 7h30 desta quarta-feira (4), a Barragem do Rio Descoberto estava com 21,29% da sua capacidade, e o reservatório de Santa Maria, com 42,13%. O ideal é que os dois se mantenham acima dos 60%. Outros 13% dos habitantes do DF consomem água vinda de córregos e mananciais.

Níveis de água dos reservatórios de Brasília

“Percebemos que, a cada fim de ano, os índices são os menores já registrados, isso é algo que nos preocupa muito”, diz o diretor da Adasa Israel Pinheiro Torres. Segundo ele, a autarquia monitora os números e aposta nas medidas de contenção adotadas pelo governo local em 2016, como a cobrança da tarifa de contingência, a redução da pressão da água em 13 regiões administrativas, a restrição no horário para captação por caminhões-pipa e a orientação para estabelecimentos como lava a jato.

Também foram tomadas medidas como um acordo com agricultores para restringir o uso de irrigadores e a obrigatoriedade de redução do consumo de água em 10% nos órgãos do governo de Brasília.

Menos chuvas no DF em dezembro

“Diminuímos a vazão de água captada no Descoberto em 15,7% — de 5,1 mil para 4,3 mil litros por segundo —, mas não descartamos a hipótese de racionamento”, ressalta o presidente da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), Maurício Luduvice, que acrescenta que a meta é diminuir a quantidade da vazão em 20%.

[Olho texto=”“Precisamos que todos preservem esse recurso finito. Vamos reduzir o consumo ao máximo, já que a chuva não chegou da forma que gostaríamos.”” assinatura=”Maurício Luduvice, presidente da Caesb” esquerda_direita_centro=”direita”]

A possibilidade de racionamento ganha força caso o volume de água fique abaixo de 20%. Adasa e Caesb estudam formas de amenizar a crise sem ter de recorrer à medida, que, para ser aplicada, levará em conta três fatores: o ritmo de queda das bacias, as previsões de chuva para o DF e o nível de consumo pela população. “Precisamos que todos preservem esse recurso finito. Vamos reduzir o consumo ao máximo, já que a chuva não chegou da forma que gostaríamos”, reforça Luduvice.

Segundo dados da Caesb, o volume de chuva em dezembro de 2015 estava em torno de 50%, em 2016, não atingiu 25%.

No acumulado de setembro a dezembro, o registro foi de 498 milímetros, um pouco a mais que em 2015, que registrou 450 milímetros. Mesmo assim, o ritmo de recuperação dos níveis do Descoberto é insuficiente, uma vez que a Bacia do Alto Descoberto tem registrado, historicamente, um volume de 669 milímetros nesse mesmo período.

Participação popular no combate à crise hídrica

Para situar o público sobre a seca no DF, a Adasa criou um site sobre o assunto, além de investir em campanhas educativas. “A divulgação é essencial para que a população tenha ideia do que se passa. Percebemos que houve uma resposta significativa das pessoas, que se sensibilizaram com a baixa nos reservatórios”, diz o diretor da Adasa.

O presidente da Caesb também apela para que o público use a água de forma consciente. “As férias já são um período em que o consumo diminui, mas precisamos avançar.”

Outros sistemas de captação de água no DF

Para desafogar os reservatórios existentes, o governo de Brasília conta com outras três apostas. Com as obras iniciadas em novembro, o subsistema do Bananal deverá levar água para 170 mil moradores do Plano Piloto, do Cruzeiro e do Lago Norte a partir de 2017. Em parceria com o governo de Goiás, o Sistema Produtor Corumbá 4 deve abastecer 1,3 milhão de pessoas em residências nas duas unidades da Federação.

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Há ainda o projeto de captação de água no Lago Paranoá, em tratativas. Quando ficar pronto, o Sistema Paranoá atenderá cerca de 600 mil moradores do Paranoá, de São Sebastião, do Lago Norte, de Sobradinho, de Sobradinho II, dos condomínios do Grande Colorado e de Planaltina.

Edição: Marina Mercante