31/03/2017 às 16:36

Hospitais públicos usam polvo de crochê no tratamento de bebês prematuros

Unidades de Taguatinga, Ceilândia e Santa Maria já tocam a iniciativa de forma experimental. Ideia é que o bichinho lembre o ambiente uterino

Por Mariana Damaceno, da Agência Brasília

O formato espiral dos oito tentáculos não é à toa. Eles foram inspirados em um cordão umbilical. A ideia é que o polvo, feito com linha de crochê 100% algodão e manta siliconada, lembre o útero materno.

Os polvos, feitos em crochê e manta siliconada são utilizados em fase experimental na UTI Neonatal do Hospital Regional de Santa Maria.

Os polvos, feitos em crochê e manta siliconada, são utilizados em fase experimental na UTI Neonatal do Hospital Regional de Santa Maria. Foto: Tony Winston/Agência Brasília

O projeto de utilizar o material no tratamento de prematuros internados na unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal está em fase experimental nos Hospitais Regionais de Taguatinga, Ceilândia e Santa Maria.

No de Santa Maria o projeto está mais avançado. “Eles [os bebês] perderam o contato com o útero antes do tempo, e o objetivo é que o polvo os lembre esse ambiente”, explica a fisioterapeuta Ana Carolina Barros, que trabalha na UTI neonatal do hospital.

Até agora, seis crianças, das 18 internadas, receberam o bichinho. Quando têm alta, elas o levam para casa, com o intuito de que a mudança de ambiente não cause estranhamento.

[Olho texto='”Eles (os bebês) perderam o contato com o útero antes do tempo, e o objetivo é que o polvo os lembre esse ambiente”‘ assinatura=”Ana Carolina Barros, fisioterapeuta da UTI neonatal do Hospital Regional de Santa Maria” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

Em Santa Maria, o projeto começou a ser tocado em fevereiro. Funcionários leram sobre a iniciativa na internet e começaram a pesquisa sobre o tema. Uma artesã, mãe de servidor do hospital, deu uma oficina de crochê para os que queriam aprender a produzir o mimo.

Os polvos são confeccionados pela própria equipe do hospital. “Tem gente de vários setores fazendo crochê”, conta a técnica de enfermagem Dayse Macêdo, da UTI neonatal. Ela leva duas semanas na confecção de cada peça, trabalho feito em casa.

Além do formato, outro detalhe importante é o tamanho. Por questão de segurança, os tentáculos devem ter entre 20 e 22 centímetros — para que não se enrolem no bebê —, e a cabeça precisa de sete fileiras do crochê, cada uma com um número determinado de pontos.

A técnica já é desenvolvida, segundo a pesquisa da equipe, em outros sete países, entre os quais Austrália, Holanda e Estados Unidos. O primeiro relato que encontraram sobre a iniciativa foi na Dinamarca, em 2013.

Polvos auxiliam no ganho de peso dos bebês

Apesar de ainda não haver registro científico que ateste os benefícios da dinâmica, há relatos positivos de equipes que começaram a desenvolvê-la. O polvo acalma o bebê, com redução de sua frequência cardíaca e respiratória, e ajuda no ganho de peso.

Antônia Elivanete de Oliveira, de 34 anos, percebeu a diferença. Ela acompanha a filha, Luana, há 15 dias. Internada em um dos leitos da UTI neonatal, a bebê nasceu com 35 semanas (o normal é entre 40 e 42), após a mãe sofrer complicações no parto devido a uma infecção urinária.

“Ela não sossegava a mãozinha, ficava tentando tirar os dispositivos”, lembra a manicure, que mora em Valparaíso. Com as mãos quietinhas sobre os tentáculos do animal, Luana está bem mais calma e dorme grande parte do dia.

[Olho texto=”Com as mãos quietinhas sobre os tentáculos do animal, Luana está bem mais calma e dorme grande parte do dia” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”]

A ideia agora é que cada funcionário que passou pela oficina, na semana passada, ensine outras pessoas. “Queremos chegar ao ponto de receber doações”, destaca Dayse. As mães de quem estiver internado na seção também serão ensinadas.

Os polvos são esterilizados a uma temperatura que varia de 60 a 120 graus antes de terem contato com os bebês. Para a fase de testes, a equipe escolheu crianças sem isolamento de contato ou que não estivessem entubadas. No entanto, a expectativa é que todas recebam seu bichinho.

O próximo passo, de acordo com a gerente de enfermagem do hospital, Cinthia Pelegrini, é que a mesma metodologia seja levada para a unidade de cuidado intermediário neonatal, onde servidores já confeccionam a novidade.

Outros hospitais adotaram a iniciativa

No Hospital Regional de Ceilândia, um grupo de artesãs, que também soube da iniciativa por meio da internet, ofereceu-se para doar o polvo já pronto aos bebês. A unidade só aguarda a entrega para começar a colocar o bichinho junto aos prematuros.

Em Taguatinga, a equipe do próprio hospital regional cuida da confecção. A supervisora de enfermagem da unidade, Kaísa Raiane dos Santos, organiza uma oficina para que servidores que saibam fazer crochê ensinem pais e interessados em contribuir com o projeto. A unidade tem oito polvos prontos e 22 bebês internados.

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Atualmente, são os funcionários que doam o material para o crochê. “A doação, para nós, é muito importante porque cada bebê leva seu polvo quando tem alta. Então, é muito importante que sempre tenhamos exemplares prontos para o projeto não parar”, resume Kaísa.

Quem quiser contribuir com doação de linhas, agulhas ou mão de obra pode ligar para (61) 3369-6920 (Hospital Regional de Santa Maria), (61) 3353-1027 (Hospital Regional de Taguatinga) ou (61) 3471-9000 (Hospital Regional de Ceilândia). O material precisa ser o mesmo utilizado pelos funcionários na confecção dos polvos.

Locais e recomendação para quem for doar linhas

O polvo é confeccionado com linha de crochê 100% algodão e enchimento de manta siliconada

Hospital Regional de Santa Maria: (61) 3369-6920

Hospital Regional de Taguatinga: (61) 3353-1027

Hospital Regional de Ceilândia: (61) 3471-9000

Edição: Vannildo Mendes