13/04/2015 às 16:45

Doação de órgãos precisa ser discutida em família

Cerca de 50% dos parentes de potenciais doadores no País são contra o procedimento. Saiba como entrar nas listas de espera para transplantes

Por Mariana Damaceno, da Agência Brasília


Globos oculares são analisados e separados de acordo com as condições em que se encontram
Globos oculares são analisados e separados de acordo com as condições em que se encontram. Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília

Quando Maria do Rosário de Assunção, de 56 anos, descobriu que tinha apenas 5% de um dos rins funcionando e o outro parado, a reação foi de desespero. Ainda mais depois de saber que seria necessário um transplante para a vida voltar ao normal. A aposentada começou a fazer diálise e chegou a entrar na fila para o procedimento, aguardando que a doação viesse de alguém morto. Mas, por conta da espera, que durou mais de quatro anos, a família se mobilizou e uma irmã foi a doadora.

Em muitas histórias, a doação significa a única esperança do receptor, mas nem sempre ela pode ser encontrada dentro de casa, como no caso de Maria do Rosário. A maioria dos transplantes é feita depois da morte encefálica do doador e, por isso, precisa de autorização da família. “Infelizmente, ainda é muito alta a taxa de negação. No Brasil, esse número atinge cerca de 50% dos potenciais doadores”, alerta a coordenadora de transplantes da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Daniela Salomão. Em Brasília, das 157 entrevistas com familiares de falecidos realizadas em 2014 para a captação de órgãos, 75 tiveram recusa de algum parente.

Os números mostram que cerca de metade de potenciais doadores deixou de fazê-lo por determinação de alguém da família. Por isso, Daniela ressalta a importância de se conversar sobre o assunto em casa, o que, segundo ela, pode ser determinante para diminuir a espera por um órgão. “Sem doação, não há transplante”, reforça a coordenadora.

Lista de espera
Os pacientes à espera de um órgão fazem parte de uma lista — o Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde. Cada órgão tem uma fila específica. Para entrar em alguma das listas, o interessado deve procurar uma equipe de transplante especializada em analisar caso a caso.

Em Brasília, são realizados cinco tipos de transplantes de órgãos ou tecidos: coração, fígado, medula óssea, rim e córnea. Os dois últimos podem beneficiar mais de um receptor. Cada inscrição na rede pública é feita em locais específicos. Para os que precisam de rim ou de córnea, por exemplo, a lista é formada pelas equipes do Hospital de Base, do Hospital Universitário de Brasília e do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF). No caso de transplante de coração, de fígado ou de medula óssea, a ficha deve ser preenchida apenas no ICDF.

“A fila funciona regionalmente quando temos um doador no DF. O sistema capta dados do Brasil inteiro, mas prioriza o local onde o órgão está”, informa Daniela. Para definir a posição nas filas, levam-se em conta dois fatores: a gravidade da situação do paciente e a idade do doador, pois no caso de ele ter menos de 18 anos, o receptor também deve ser, preferencialmente, uma criança ou um adolescente.

Em cada município, o Sistema Nacional de Transplantes é administrado por uma central de captação de órgãos, que, em Brasília, funciona no Hospital de Base. O setor faz a ponte entre a doação e o transplante, para tornar o processo mais rápido – depois de definido o receptor, o órgão vai direto para onde o paciente vai ser operado.

Doação em vida
No Distrito Federal, é possível doar em vida um rim, como no caso de Maria do Rosário, ou parte do fígado, se o receptor for uma criança. Nessas situações, a doação é feita, na maior parte das vezes, entre parentes, já que o processo para alguém doar a uma pessoa fora do âmbito familiar necessita de permissão judicial. A medida visa coibir o comércio de órgãos.

A medula óssea, que também é um tipo de transplante conhecido como intervivos, tem um banco específico: o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea. No cadastro, realizado no Hemocentro, é recolhida uma pequena quantidade de sangue que será examinada para identificar as características genéticas a serem incluídas no registro. As informações são documentadas e, quando há um receptor compatível, o voluntário é consultado para decidir quanto à doação.

Em Brasília, as filas registravam, nesta segunda-feira (13), 15 receptores ativos à espera de um coração; 172, de córnea; 32, de fígado; 210, de rim. A medula não faz parte do Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde.

Estatística
Dados de 2014 da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos mostram que o Distrito Federal tem a segunda melhor taxa de doação do País (29,2 por milhão de habitantes), ficando atrás apenas de Santa Catarina (32,3 por milhão de habitantes). Nos casos de transplantes cardíaco e de córnea, Brasília é a primeira colocada, com 9,7 e 136,6, respectivamente. Em caso de transplantes de fígado, o DF também ocupa a segunda posição, com 21 casos, enquanto o Ceará registra 23,1.

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