26/04/2015 às 12:25

Prevenção contra incêndios florestais é prioridade no DF

Planejamento anual previsto em decreto começou a ser discutido com antecedência em 2015 para reduzir número de ocorrências

Por Mariana Damaceno, da Agência Brasília


O gerente de Prevenção e Combate a Incêndio do Jardim Botânico, Rogério Cruz, em ação preventiva contra incêndios no Jardim Botânico
O gerente de Prevenção e Combate a Incêndio do Jardim Botânico, Rogério Cruz, em ação preventiva contra incêndios no Jardim Botânico. Foto: Renato Araújo/Agência Brasília

“Investir em prevenção.” A frase do subsecretário de Áreas Protegidas, Cerrado e Direito dos Animais, da Secretaria do Meio Ambiente, Rômulo Mello, resume bem o principal objetivo do Plano de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais deste ano. Os cerca de 15 órgãos envolvidos no planejamento começaram a trabalhar para que, em 2015, as queimadas sejam menos intensas que em 2014 — quando o Comando do Grupamento de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros Militar do DF registrou 3.837 ocorrências de incêndios florestais, ou 7.414,47 hectares de área queimada — o equivalente a sete mil campos de futebol. O número foi menor do que em 2013, que contabilizou 4.132 casos referentes a 7.924,65 hectares.

O Jardim Botânico de Brasília é uma das instituições participantes do plano, por ser constantemente afetada por queimadas. Por isso, tem uma brigada voluntária, formada por 14 funcionários e treinada para realizar o primeiro combate em caso de incêndios. “Nós temos áreas frágeis, como campo de murundus, matas de galeria, veredas, cerradão [ver glossário], locais que não se recuperam com tanta facilidade. Temos que ficar preparados para conter qualquer possível fogo até que chegue o socorro dos bombeiros”, explica o gerente de Prevenção e Combate a Incêndio do Jardim Botânico, Rogério Cruz, ao reforçar que o grupo também é responsável por fazer rondas para preservar os 5 mil hectares de estação ecológica e área de visitação do local.

O Corpo de Bombeiros Militar terá a responsabilidade de treinar as brigadas que forem solicitadas — por enquanto, o Jardim Botânico já se manifestou. Além disso, no início de abril, começou uma série de oficinas com comunidades rurais, onde há grande incidência de queimadas. A primeira capacitação foi em Sobradinho, na Associação dos Produtores do Lago Oeste.

Os moradores aprenderam a confeccionar os próprios abafadores, com materiais cedidos pelo Corpo de Bombeiros. As ferramentas, construídas com borracha e caule de reflorestamento de eucalipto, ajudarão em combates a incêndio. A ação faz parte da operação Verde Vivo, lançada pela corporação em 16 de março.

O Ibram trabalha em estudo para fazer os aceiros necessários, mais perto da época de seca, que, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), costuma começar em maio. O instituto ainda capacitará equipes do Corpo de Bombeiros para que elas tenham conhecimento das áreas dos parques pertencentes ao Ibram.

Enquanto isso, a corporação faz levantamento estratégico em outras áreas, como a Floresta Nacional, o Parque Nacional de Brasília e a Chapada Imperial. A ideia é que, com o auxílio de um GPS, os bombeiros listem todas as saídas, pontos para captação de água e outras características importantes dos locais.

Tecnologia
O Jardim Botânico também testa, há cerca de quatro meses, o aplicativo DF 100 Fogo, que será usado pelos membros do plano de prevenção como auxílio no combate de incêndios florestais. A ferramenta, que está sendo aprimorada e, a princípio, atende apenas à plataforma android, possibilitará que a comunidade informe, em tempo real, sobre as queimadas, com o local e uma foto com a proporção do fogo.

A previsão da instituição é a de que o aplicativo, desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (SP) e o Instituto Brasileiro de Informações em Ciência e Tecnologia, seja lançado no fim de maio. Na data, organizações de proteção ambiental e visitantes do Jardim Botânico poderão acompanhar um sarau e palestras sobre o perigo da queima de restos de podas — a principal causa de incêndios na área, já que o fogo colocado em lugares vizinhos acaba se alastrando e atingindo o local. “A chama geralmente vem das residências ou da DF-001 (rodovia que circula todo o Distrito Federal) e se não for controlada pode acabar chegando ao Jardim Botânico”, avisa Rogério Cruz.

Educação ambiental
Para Rômulo Mello, é imprescindível a participação de toda a comunidade nas ações de prevenção contidas no plano. “O importante é que a sociedade se sinta responsável pelo processo e evite o incêndio florestal. Você pode ajudar com atitudes como deixar de queimar restos de vegetação; os agricultores precisam fazer seus aceiros, as queimadas controladas, e ficar atentos para que isso não se transforme em algo maior.”

O planejamento ainda conta com um programa específico de educação ambiental, que também reúne ações de todos os órgãos incluídos no Plano de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais — o Fogo Apagou. A iniciativa, que tem as primeiras atividades previstas para maio, terá palestras em escolas de áreas de risco, distribuição de fôlderes para o público rural sobre queimada controlada e destinação do lixo, confecção de cartilhas sobre prejuízos e prevenção.

Antecedência
Para atingir a meta de diminuir as ocorrências de incêndio florestal, investindo em prevenção, o grupo envolvido no plano começou as reuniões mais cedo este ano, cerca de três meses antes do habitual. “Passamos a nos reunir em fevereiro, mas discutimos o assunto desde o início de 2015. É entendimento do secretário do Meio Ambiente, André Lima, que nós tenhamos mais medidas de prevenção do que medidas de combate”, explica Rômulo Mello, ao destacar que essa também é a primeira vez que o plano é sistematizado. Segundo o subsecretário, cada órgão definiu representantes para compor a equipe e definir ações específicas de prevenção e de combate.

O Plano
O Plano de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais foi instituído pelo Decreto nº 14.431, de 11 de junho de 1996, agora revisado e atualizado pelo Instituto Brasília Ambiental. O documento reúne instituições dos governos federal e distrital, além da sociedade civil.

A coordenação do planejamento é competência da Secretaria do Meio Ambiente, que, segundo o subsecretário de Áreas Protegidas, Cerrado e Direito dos Animais, marcará reuniões mensais para avaliar o andamento das ações descritas: “Nós vamos monitorar para ver se o que as instituições relacionaram no plano está ocorrendo.”

Participam órgãos executores de apoio direto ou eventual. São colaboradores do planejamento a Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; a Subsecretaria da Defesa Civil; a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb); a Diretoria de Vigilância Ambiental em Saúde; o Batalhão da Polícia Militar Ambiental; o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet); a Reserva Ecológica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF); as administrações regionais; o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); a Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR); a Fazenda Água Limpa, da Universidade de Brasília; o Parque Nacional de Brasília; a Estação Ecológica de Águas Emendadas; o Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal; e a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap).

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Glossário
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– Aceiro: é o desbaste de determinada área em volta de matas, propriedades e vegetações para impedir a propagação de incêndio.

– Campo de murundu: são microrrelevos, espécies de pequenos morros, que, no Jardim Botânico, chegam a 3 metros de altura.

– Cerradão: é a denominação de uma formação florestal do Cerrado, com árvores de até 15 metros de altura.

– Mata de galeria: é a mata que acompanha o curso dos rios, com árvores altas, que pouco deixam espaço para que o sol alcance o solo. Por ter grande acúmulo de folhas e ser bastante fechado, o local tem grande risco de propagação de incêndios.

– Vereda: caracterizada pela presença da palmeira buriti e pela alta umidade.

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