06/06/2015 às 14:15

Entenda o que são bactérias multirresistentes

Ambiente hospitalar higienizado, proteção individual e limpeza das mãos com álcool são cuidados para evitar contaminação geralmente alojada em pessoas com quadro clínico fragilizado

Por Paula Oliveira, da Agência Brasília

O Diário Oficial do DF trará, nos próximos dias, um plano de enfrentamento a bactérias multirresistentes, que provocaram quatro mortes no Hospital Regional de Taguatinga. No documento, estarão previstos controle de antibióticos, higiene e desinfecção hospitalar e treinamento de profissionais.

A Secretaria de Saúde esclarece que Brasília passa por uma endemia causada por esses micro-organismos espalhados nos últimos anos em vários países, segundo  subsecretário de Atenção à Saúde, Tadeu Palmieri.

No DF, foram registrados três tipos de bactérias (KPC, enterecoco e acinetobacter). Oito pacientes estão em isolamento nos hospitais de Santa Maria, de Sobradinho, de Taguatinga e do Guará. Desde 20 de abril, a pasta iniciou reuniões com a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) para tratar do assunto. A endemia se dá quando o contágio está restrito a um espaço limitado. “Não há um surto”, resumiu o subsecretário.

Tire suas dúvidas

O que é uma bactéria multirresistente?
Bactéria é um micro-organismo que se aloja em diversas partes do corpo humano. Temos várias instaladas nas mãos, nos cabelos, na boca, no nariz, e a maioria funciona como mecanismo de proteção. Quando há uma infecção e ela é tratada com antibiótico, o medicamento provoca a morte das mais sensíveis. As multirresistentes — que não se abalam com o tratamento — estão em menor número no organismo, encontram espaço para se multiplicar e se espalhar pelo corpo do hospedeiro.

Por que algumas pessoas ficam doentes e outras não?
Quando a bactéria está em alguma parte do corpo e não provoca infecção, os especialistas chamam a isso de colonização. O paciente que apresenta quadro clínico crônico, saúde fragilizada e colônia de micro-organismos resistentes a antibióticos fica mais suscetível a desenvolver infecções. Foi o caso das pessoas isoladas em Hospitais Regionais de Taguatinga, do Guará, de Santa Maria e de Sobradinho. Mas essas bactérias são comuns às pessoas, saudáveis ou não, internadas em unidades de terapia intensiva ou não. O que torna o caso mais grave é o estado frágil de saúde dos que estão em tratamento nos hospitais por causa de outras doenças.

Como prevenir a colonização e a infecção bacteriana?
O principal cuidado é a higienização das mãos com álcool. Lavar com água e sabão ajuda, mas o álcool tem mais eficácia. Também é importante manter o ambiente hospitalar limpo, visto que a bactéria tem sobrevida longa nas superfícies, como nas grades das camas, na prancheta do prontuário, nos lençóis etc. Para isso, é preciso ter garantidos produtos de limpeza, equipamentos de proteção individual (luvas, capotes e máscaras) e pessoal capacitado para cumprir os protocolos. 

Falta medicação para tratar os pacientes infectados?
Além dos problemas próprios de desabastecimento das farmácias dos hospitais de Brasília, a Saúde enfrenta a falta de opções de antibióticos no mercado. Segundo a coordenadora de Infectologia da Secretaria de Saúde, Maria de Lourdes Lopes, a indústria farmacêutica diminuiu a produção desse tipo de medicamento nos últimos 20 anos. A resistência sucessiva das bactérias aos antibióticos que foram produzidos significa prejuízo financeiro para as indústrias farmacêuticas. “Estamos ficando sem opções para infecções bacterianas, e não há outra maneira de tratá-las sem ser com o uso de antibióticos.”

A contaminação nos hospitais é motivo para preocupação?
Sim. A saúde pública de Brasília enfrenta problemas que agravam o quadro. Superlotação dos prontos-socorros, falta de medicação nas prateleiras e quebra de protocolo de segurança por parte da equipe técnica são alguns exemplos. “A secretaria está elaborando uma política de enfrentamento à resistência bacteriana, com enfoque na manutenção dos insumos e dos antibióticos e no treinamento de profissionais que convivem com pacientes infectados e colonizados”, afirma Lourdes Lopes.