De olho no consumo e no potencial de crescimento desse mercado, Governo do Distrito Federal (GDF) implanta medidas para capacitar produtores e desenvolver o setor. Mercado de Peixe, inaugurado em dezembro na Ceasa, tem movimento crescente

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18/01/2012 às 03:00

Peixe cada vez mais presente nas mesas do DF

De olho no consumo e no potencial de crescimento desse mercado, Governo do Distrito Federal (GDF) implanta medidas para capacitar produtores e desenvolver o setor. Mercado de Peixe, inaugurado em dezembro na Ceasa, tem movimento crescente

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    Carlos Rezende e Hylda Cavalcanti, da Agência Brasília

    O peixe tem se tornado um item alimentar cada vez mais presente no prato dos moradores do Distrito Federal. Entre 2007 e 2011, o consumo anual de pescado por habitante passou de 12,8 kg para 14 kg, bem mais do que a média nacional – que é de aproximadamente 9 kg por pessoa. Diante da perspectiva de expansão do setor, o Governo do Distrito Federal (GDF) promove ações para incentivar tanto a produção como a comercialização. São exemplos a criação de ponto comercial específico, o fornecimento de equipamentos para venda e conservação do produto e a realização de cursos de capacitação e treinamento para os piscicultores.
     
    Lançado em dezembro do ano passado pela Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural (Seagri), em parceria com o Ministério da Pesca e Aquicultura, o Mercado de Peixe de Brasília é uma das principais ações para incentivar o consumo de pescado no DF. Localizado nas Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa), o mercado recebeu investimentos de cerca de R$ 1 milhão, que incluíram infraestrutura inovadora, aquisição de um caminhão frigorífico, instalação de fábrica de gelo e compra de equipamentos.
     
    O Mercado de Peixe tem como objetivo propiciar a criação de um núcleo dinâmico de comercialização e consumo. “Nossos peixes são da melhor qualidade, produzidos em tanques instalados em cidades como Brazlândia ou Planaltina. A ideia é oferecer o peixe fresco como diferencial e, do ponto de vista econômico, melhorar a vida dos produtores e ampliar o segmento”, afirma o secretário de Agricultura do DF, Lúcio Valadão.
     
    Existem hoje, na região do DF e Entorno, cerca de 200 produtores familiares que atuam na piscicultura. Juntando pais, filhos, irmãos e primos, são aproximadamente 1.000 pessoas que vivem do peixe. O secretário de Agricultura destaca que o mercado de peixe tem a função de permitir que o agricultor ou piscicultor comercialize seu produto sem intermediação, mas as ações não podem nem devem parar por aí.
     
    Capacitação – Em outra frente, a Seagri iniciou nesta quarta-feira (18) uma série de 12 cursos voltados para a capacitação de pequenos agricultores interessados em começar a produzir pescado. O primeiro deles tem como tema Piscicultura Básica, com aulas na Granja do Ipê, no Park Way. O local conta com auditório, 20 tanques para piscicultura – com área total de 1,02 hectare – e laboratório para reprodução de peixes.
     
    Outros cursos, programados para serem realizados ao longo de 2012, envolvem treinamento e formação dos produtores em temas como reprodução de peixes nativos, tratamento específico de lambaris e carpas e práticas de manejo. Todos os cursos têm o intuito de orientar sobre as técnicas e cuidados que precisam ser tomados para tornar a piscicultura uma atividade rentável e não apenas de subsistência. São ministrados em cargas horárias variáveis entre oito e 16 horas, com direito a certificado. A Seagri dispõe ainda de programação para grupos específicos de produtores, técnicos e estudantes do DF ou de outros municípios do Entorno.
     
    De acordo com o coordenador do Núcleo de Tecnologia em Piscicultura e Pecuária da Emater-DF, Lincoln Nunes Oliveira, em 2012 deve haver uma procura maior pelos treinamentos e aulas, em função da instalação do mercado. “O fato de o Mercado de Peixes ser um espaço de beneficiamento e comercialização, questões que representam os maiores gargalos de quem produz peixes, incentiva mais produtores a se inserirem nesta atividade”, ressaltou.
     
    Para Elmar Wagner, um dos representantes da Associação dos Aquicultores e Pescadores Artesanais da Região Integrada de Desenvolvimento do DF e Entorno (Haja Peixe Ride/DF), existem dois tipos de produtores no DF. Alguns, mais antigos, foram contemplados com programas governamentais da década de 80 e dominam as técnicas. Já os mais novos têm pouca experiência e carência desse tipo de treinamento. “Eles possuem boa vontade, mas não conseguem sequer transportar o peixe direito”, contou, ao falar sobre a importância da capacitação.
     
    O produtor Erival Igreja Nascimento, no ramo há cinco anos, sabe bem o que é isso. “Nossa maior dificuldade é o movimento de tirar o peixe e levar para o ponto de venda, o chamado manejo pós-pesca”, destacou ele, que trabalha com a família.
     
    Ampliação – No mercado de peixe, as vendas são crescentes. No primeiro dia de funcionamento, em 17 de dezembro, foram ofertados 93 quilos. Diante da alta demanda, os piscicultores tiveram que ampliar a oferta. No último sábado, chegaram a oferecer 647 quilos e se preparam para levar quantidade maior nas próximas vezes.
     
    “O mercado foi programado para funcionar todos os sábados das 7h às 17h, mas a regra tem sido abrir às 7h e ficar até a hora em que ainda tiver peixe”, disse, rindo, o piscicultor Elmar Wagner, ao contar que teve dia em que às 10h a produção inteira já tinha sido vendida. O que tem mudado pouco é o perfil do público consumidor, formado por uma média de 300 pessoas a cada sábado e à procura de quantidades maiores.
     
    “Por aqui tem bem mais gente que gosta de peixe do que se pode imaginar”, afirmou o comerciante Gilson França. “Esse mercado mudou a vida das pessoas que vivem no DF, gostam de peixe e agora podem encontrar o produto fresquinho”, completou.
     
    “Quando a gente compra peixe fresco, o sabor, o cheiro, a maciez, tudo fica diferente. Adorei quando soube que em Brasília já temos um lugar assim”, comemorou o servidor da Justiça Federal João Carlos Oliveira.
     
    As declarações têm razão de ser. No local, as paredes brancas, o vidro que predomina em praticamente todas as instalações e a estrutura organizada se destacam. Como se não bastasse, o formato do mercado de Brasília, por si só, contrasta com espaços para venda de peixes observados nos tradicionais mercados brasileiros, onde o pescado costuma ser oferecido em balcões imprensados entre vários outros produtos.
     
    Haja Peixe – O Mercado de Peixe de Brasília tem como gestora a Haja Peixe Ride/DF. A entidade reúne cerca de 80 produtores e foi criada recentemente. “Trabalho com o cultivo de peixe desde 1981 e nunca vi uma política governamental deixar as pessoas que atuam no setor tão estimuladas”, comentou Elmar Wagner, engenheiro agrônomo que já foi diretor da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
     
    Também tem sido grande a quantidade de produtores que vão todos os sábados ver de perto as vendas – como Erival Nascimento. Segundo ele, o pescado oferecido no mercado permite margem de lucro de R$ 2 a mais por quilo. “Não é só pela melhoria no negócio. O aprendizado é muito grande, tanto que faço questão de vir aqui pessoalmente”, relatou, tomando para si o dito popular que diz que a prosperidade de todo negócio se dá pelo “olho do dono”.
     
    Expansão – De acordo com a Seagri, a produção de peixe no DF e Entorno tem enorme margem para expansão, uma vez que os produtores locais só conseguem fornecer 14% (5,3 toneladas) do consumo anual (que é de 31,3 toneladas). Os outros 86% necessários para suprir a demanda são trazidos de fora – o que encarece e, muitas vezes, empobrece a qualidade do produto.

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    Foto: Pedro Ventura