Brasília vê a história de imigrantes de todo o país, em busca de uma vida melhor, se repetir 52 anos depois de sua inauguração

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12/04/2012 às 22:36

Novos candangos buscam antigos sonhos

Brasília vê a história de imigrantes de todo o país, em busca de uma vida melhor, se repetir 52 anos depois de sua inauguração

Por

Suzano Almeida, da Agência Brasília

Há pouco mais de 50 anos, trabalhadores de praticamente todas as partes da Federação fizeram um caminho sem volta para o futuro do país, mudando-se para o Planalto Central para construir aquela que seria a nova capital do Brasil. Brasília tornou-se para esses um sonho real de uma vida melhor, longe das dificuldades de sua terra natal. Pouco mais de meio século depois, “novos candangos” estão fazendo o mesmo caminho dos construtores de Brasília, com os mesmos sonhos de uma vida melhor para si e para seus familiares, agora em um novo palco: o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha (ENB).

O estádio sediará a abertura da Copa das Confederações (2013) – o primeiro grande evento relacionado à Copa de 2014 – e o terceiro jogo da Seleção Brasileira no Mundial da Fifa. Será também uma arena multiuso, capaz de receber grandes eventos e shows. Para esses trabalhadores, mais do que títulos, a maior conquista a ser alcançada é a de um futuro melhor.

00024676O ajudante de bombeiro hidráulico Antônio Francisco Martins veio para construção do ENB a convite de seu irmão, que já estava aqui. Deixou esposa e filhos em Monsenhor Gil (Piauí), em busca de emprego e melhores condições de trabalho. Na bagagem o sonho de abrir, lá na sua terra, seu próprio negócio. “Não tinha emprego lá e quando conseguia um trabalho os patrões não pagavam em dia. Com o dinheiro que ganho aqui quero voltar para minha cidade e abrir uma loja de ‘crediário’ – comércio de roupas em geral”, conta.

Antônio Francisco tem ainda duas irmãs que trabalham na construção do novo Mané Garrincha e que também vieram a Brasília em busca de emprego, longe das dificuldades de Monsenhor Gil.

A busca por profissionais capacitados para construir o novo Mané Garrincha trouxe à capital o carpinteiro Sidnei dos Prazeres Barros, de Tucuruí (Pará). Lá, trabalhou em obras importantes, como a da hidrelétrica de sua cidade. Com o fim da construção, a falta de emprego o fez buscar novas oportunidades em outro lugar. Para Brasília trouxe apenas a esposa, deixando para trás três filhas do primeiro casamento. A saudade aperta o peito e uma nova oportunidade de emprego surge: a construção da Usina de Belo Monte. Sidnei já começa a pensar em voltar para casa. “Já estou há um ano trabalhando no estádio. Agora, no meio do ano, pretendo voltar para minha terra, já que começaram as obras da nova hidrelétrica. Lá vou poder ficar mais perto de minhas filhas”, comemora.

A distância da família é um dos fatores que mais preocupa esses novos candangos. Durante um dos poucos momentos de intervalo que o trabalho permite, o carpinteiro Ernildo de Jesus Fonseca Mendes conversava ao telefone com a esposa que deixou há três meses em Arari (Maranhão). Com ela, um casal de filhos: o garoto de dez anos e a menina de apenas nove meses. “Brasília é uma cidade cara para morar, por isso não tenho como trazer todos para cá. Então, toda vez que posso ligo para eles”, conta o carpinteiro, que tem o objetivo de juntar dinheiro para voltar a sua terra natal em melhores condições.

Ernildo mora em um alojamento cedido aos trabalhadores pelo consórcio responsável por erguer o novo estádio da capital federal. Lá, além de fazer essa economia, os operários compensam a saudade de casa com a companhia dos colegas de obra. “Ficamos muito sozinhos e trabalhamos de segunda a sábado. Essa é nossa alternativa para se distrair e suportar a saudade de casa. A família aqui são os amigos, que vão e voltam do trabalho com a gente todos os dias e com quem a gente pode sair para conversar um pouco”, conclui.

A Obra – A construção do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha envolve cerca de 3,6 mil trabalhadores e está com 54% de sua estrutura concluída, sendo uma das mais adiantadas entre as 12 sedes que receberão a Copa do Mundo de 2014.
 
A previsão é que o estádio esteja pronto em 31 de dezembro deste ano, a tempo de ser palco da abertura da Copa das Confederações, em 2013. O evento é um teste para o Mundial.

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Ernildo de Jesus Fonseca Mendes e Sidnei dos Prazeres Barros.
Foto: Lula Lopes