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16/09/2012 às 16:08, atualizado em 17/05/2016 às 14:17
Secretário de Cultura, Hamilton Pereira, explica como a valorização da identidade local dá visibilidade a Brasília como Patrimônio Humanidade. O Festival de Brasília, que começa nesta segunda, é uma das marcas culturais da capital
À frente da Secretaria de Cultura e articulador da renovação do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o poeta tocantinense Hamilton Pereira se empenha em levar as manifestações artísticas para além da realidade de concreto do Plano Piloto. Com a mesma determinação, ele se dedica a trazer para os espaços culturais uma faixa de público até pouco esquecida. Entre eles, as pessoas com necessidades especiais.
Em entrevista à AGÊNCIA BRASÍLIA, o secretário detalha as mudanças realizadas no festival e as ações do GDF para resgatar as referências históricas e culturais da capital federal, como o Panteão da Pátria, na Praça dos Três Poderes. Há quase cinco anos fechado para visitação, ele foi reaberto no início do mês como parte do plano de revitalização dos espaços museais e do decreto, assinado pelo governador Agnelo Queiroz em janeiro desde ano, que marca 2012 como o Ano da Valorização de Brasília.
Experiência e boas ideias não faltam a Hamilton. Durante sua primeira passagem pelo GDF, na segunda metade dos anos 1990, ocupou pela primeira vez a cadeira da pasta, época em que o projeto Temporadas Populares revolucionou a história da cultura local com uma programação extensa e acessível, muitas vezes gratuita.
O Festival de Cinema do ano passado foi marcado por polêmicas em razão de mudanças nas regras. Como os participantes encararam as mudanças este ano? Houve muita reclamação junto à secretaria?
As mudanças que ocorreram no ano passado foram necessárias. Este ano introduzimos algumas pequenas modificações que foram muito bem aceitas, sem grandes polêmicas. No ano passado, antecipamos a data do festival para setembro, abolimos o critério de ineditismo, introduzimos a exibição em digital e descentralizamos para as cidades; este ano, o Gama também faz parte das exibições simultâneas junto às cidades de Sobradinho, Taguatinga e Ceilândia, além do Plano Piloto. E incluímos uma nova modalidade, a premiação para documentários, que é uma modificação importante para favorecer e estimular essa vertente do audiovisual, que ganha muita força na cinematografia brasileira. Essas modificações produziram um certo desconforto na edição anterior, mas a prática mostrou que isso tudo foi eficaz. Então, a aceitação foi muito mais tranquila que no ano passado.
A descentralização do festival também é uma das grandes novidades desta edição. Isso deve acontecer com outras manifestações culturais e artísticas?
O Fundo de Apoio à Cultura (FAC) é um instrumento dessa política. O nosso apoio à cultura está sendo modernizado e este ano já disponibilizou, por meio de edital, R$ 17 milhões no primeiro semestre, e agora, nesta última semana, lançamos mais um edital com a soma de R$ 24 milhões, que contempla a realização de espetáculos nas cidades. Ou seja, com o FAC temos o mais significativo fundo de apoio à cultura do país. O FAC hoje é uma realidade democrática e está sustentando o fazer cultural de Brasília. Isso é muito importante, porque, com o apoio à circulação de espetáculos e de atividades culturais, vamos colher os frutos dessa descentralização ao levar a oferta para perto das pessoas.
Outra mudança no festival deste ano é que no Cine Brasília não haverá exibições. Excepcionalmente, a Sala Villa-Lobos acolherá o festival devido à reforma do cinema. Fale sobre os benefícios dessa revitalização e a previsão de entrega da obra.
Estamos realizando uma reconstrução de políticas públicas. O GDF trabalha para fixar uma agenda de governo que articule cultura com sustentabilidade nesse novo ciclo que Brasília está vivendo. No primeiro ano de governo, realizamos a impermeabilização do teto do Cine Brasília, que era um problema antigo do cinema e causava infiltração no edifício. Agora está em curso a segunda etapa da reforma e restauração, com o objetivo de torná-lo uma sala contemporânea de cinema. O Cine Brasília é um cinema público. Ele vai além de um lugar tombado: é um espaço afetivo da cidade. Estamos adotando novas tecnologias na recuperação, como o ar-condicionado, redes hidráulicas e elétricas. Outra medida que é uma preocupação permanente do governador Agnelo Queiroz é a acessibilidade. O cinema terá rampas de acesso, alargamento das portas dos banheiros, equipamentos que agora serão licitados para fazer do Cine Brasília o espaço mais significativo da cidade. A expectativa de entrega é para o final do ano.
A reforma do Cine Brasília e a entrega do Panteão da Pátria, no começo do mês, fazem parte do decreto do governador Agnelo Queiroz que transformou 2012 no Ano de Valorização de Brasília. Nesse resgate dos espaços museais e revitalização dos pontos culturais, qual é o próximo passo?
O Panteão da Pátria estava fechado havia cinco anos. Nós investimos para recuperá-lo e devolvê-lo para a visitação pública. Com a reabertura, foram incluídos mais 20 nomes no Livro de Aço [que relaciona os heróis nacionais]. Foram inseridos heróis como Chico Mendes e as primeiras mulheres registradas no livro, Anita Garibaldi e Ana Nery. A entrega do Cine Brasília encerra os trabalhos deste ano, junto à pintura da cúpula do Museu da República. Para 2013 estão previstas a recuperação do Museu de Arte de Brasília (MAB), na Orla do Lago; da Casa do Cantador, em Ceilândia; do Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul; além de obras no Polo de Cinema para recuperá-lo como um espaço de formação para o audiovisual de Brasília.
Na sua primeira passagem pela Secretaria de Cultura, nos anos 90, o senhor esteve à frente da criação do Temporadas Populares. Existe alguma possibilidade de retorno projeto?
Já iniciamos algo semelhante. No entanto, é preciso lembrar que naquele momento do Temporadas Populares tínhamos no governo um instrumento administrativo – a Fundação Cultural –, que hoje não temos mais. Ela nos permitia uma agilidade maior do ponto de vista de gestão para realizar atividades dessa natureza. O Temporadas Populares se caracterizou por ser uma oferta bastante complexa de espetáculos culturais ao longo dos meses de férias, e isso dinamizava a vida cultural da cidade. O formato incluía música, teatro e dança. Agora estamos experimentando algo como o que aconteceu no mês de janeiro com o FestiArte [Festival Internacional de Artes de Brasília], em diálogo com a Secretaria de Educação e com gancho no Curso de Verão da Escola de Música. Fizemos uma soma vitoriosa, muito bem recebida. Com vistas nos três meses por ano sem chuva em Brasília, estamos pensando em algo chamado Temporadas de Sol, para oferecer música em espaços abertos. A meta é pôr o projeto de pé a partir do ano que vem.