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21/07/2013 às 15:45
Trabalho de ressocialização resultou na criação de suvenirs para serem vendidos na Jornada Mundial da Juventude, e itens também foram entregues ao papa
BRASÍLIA (21/7/13) – Jovens de várias nacionalidades que participarão da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro, terão a oportunidade de adquirir terços, pulseiras, cordões e chaveiros oficiais do evento, produzidos por 60 detentos da Penitenciária da Papuda, trabalho que faz parte do programa de ressocialização do DF.
“Eles têm a oportunidade de fazer um trabalho que vai proporcionar uma renda quando eles saírem. É um recomeço”, ressaltou o secretário de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, Alírio Neto, ao lembrar que a medida é uma forma de mostrar ao mundo o trabalho que é feito com os internos.
Os cinco mil produtos feitos pelos presos são comercializados pela Jabuti Artigos Religiosos, empresa brasiliense que firmou parceria com a Sejus e que foi credenciada pela Arquidiocese do Rio de Janeiro -responsável pela organização da JMJ- para a produção, distribuição, venda física e on-line do material.
Com essa parceria, parte dos artigos religiosos produzidos pelos detentos cruzou as fronteiras brasileiras e chegou às mãos do Papa Francisco, no Vaticano, pelo arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta.
Antes do sucesso do projeto, foi necessário muito esforço por parte dos detentos, que trabalharam seis horas por dia, quatro vezes por semana, durante os cinco primeiros meses deste ano.
Kelmon Luis da Silva Souza, professor de artesanato e um dos sócios da empresa, dedicou parte do seu tempo dentro do presídio para acompanhar a produção.
Ele lembra que, no início, houve certo receio em realizar as atividades, mas ao longo do tempo foi firmada uma relação de confiança.
“Depois da primeira semana, que foi de adaptação, percebemos que os preconceitos caíram e muitos deles me procuravam para contar suas experiências, o que contribuiu para que o trabalho se desenvolvesse muito bem”, detalhou Souza.
Ainda de acordo com o empresário, foi possível notar uma mudança no comportamento e na mentalidade dos presidiários, já que alguns até despertaram para o lado religioso.
“Antes de iniciarmos as atividades, rezávamos todos juntos, católicos ou não, e ao longo do tempo percebemos que eles mudaram o comportamento e, inclusive, pediam para celebrar missas mensais dentro do presídio”, enfatizou o professor de artesanato.
Além de ocupar a mente, os internos também têm descontado da pena um dia a cada três trabalhados no projeto, e assim reduzirão o tempo de condenação pelo envolvimento com o tráfico de drogas.
Os internos receberam também R$0,50 como pagamento de cada unidade produzida, valor que foi repassado à Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap) e posteriormente será depositado na conta bancária dos trabalhadores.
MUDANÇA – Interno do Sistema Penitenciário do DF, Gilvan Amaral contou que a experiência de confeccionar os produtos oficiais do evento foi uma forma de alcançar a dignidade que o trabalho proporciona e, ao mesmo tempo, de contribuir para a evangelização.
“É uma chance para a gente trabalhar honestamente e receber por isso. O lado religioso também é importante para nós, para não perdemos a esperança de uma vida melhor quando sairmos”, ressaltou.
Para Amaral, todo o esforço para a produção das peças refletiu em um trabalho de grande qualidade, marca que pretende levar por toda a vida: “Entendemos agora que o empenho no que fazemos deve ser em tudo na vida. Devemos fazer o melhor para as pessoas”.
Segundo a chefe do departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Christiane Girard, o ato de ocupar os detentos com uma atividade produtiva faz com que a ressocialização seja melhor aproveitada, uma vez que o trabalho é uma das bases centrais desse processo.
“A integração via trabalho é uma das principais ações para construir uma identidade social, o que permite ao detento estabelecer um vínculo. É uma possibilidade de saída dos problemas e uma forma de dar sentido à vida”, destacou em entrevista à Agência Brasília.
PAPA – A JMJ começará amanhã (23), no Rio de Janeiro, com a chegada do líder máximo da Igreja Católica, e será encerrada no dia 28 de julho, quando será anunciada a próxima cidade a receber o evento.
A última edição ocorreu em 2011, em Madri, na Espanha, e reuniu mais de 190 países. A JMJ no Rio, por sua vez, espera um público de aproximadamente 2 milhões de jovens de mais de 200 nações.
(F.M/J.S)