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22/07/2013 às 13:20

Crianças da Estrutural realizam sonho de serem bailarinas

Durante as férias, elas têm aulas no Teatro Nacional como parte do projeto “Educar Dançando” e passam a ter novas perspectivas de vida

Por Valéria Rodrigues, da Agência Brasília


. Foto: Mariana Raphael

BRASÍLIA (22/7/13)– Crianças e adolescentes de diferentes idades que moram na Estrutural abriram mão das férias escolares para se dedicar a aulas de balé no Teatro Nacional e declararam à Agência Brasília que fazem isso porque sonham em um dia ser dançarinas profissionais.

 

“Eu sempre quis ser bailarina. Eu via na televisão e pedia para a minha mãe, mas ela sempre respondia que não sabia (onde poderia estudar)”, contou hoje Lorany Pereira Carneiro, 9 anos, que viu o sonho virar realidade quando um convite foi feito na Escola Classe 2.

 

A oportunidade é resultado de uma parceria entre a Associação Cultural Educar Dançando, o Instituto Federal de Brasília e a Administração Regional da Estrutural, que oferece aulas gratuitas e também transporte para os alunos.

 

Pernas eretas, corpo alongado, um salto e a descida – a professora ajeita o pescoço do aluno e pergunta: “Não ficou bonito com essa postura?”. A turma, formada em sua maioria por meninas, sorri e concorda, para em seguida repetir o passo executado pelo docente.

 

Na sala de ensaio, risos nervosos diante das crítica, mas com esforço e movimentos de uma forma mais graciosa. Foi assim com Jhonatan Douglas Rodrigues Moreira, 13 anos, que, após um ano e meio no curso, recebe elogios, e lembra que “nem sabia o que era balé”.

 

Ele conheceu a dança por suas irmãs – Ludmila, 10 anos, e Kamilla, de 8, que também participam do projeto – “Na minha primeira apresentação fiquei muito ansiosa, com medo”, recordou Ludmila, ao lembrar que “depois foi legal”, e que vai “repetir a experiência”.

 

Jhonatan largou o futsal que fazia duas vezes por semana e disse que não liga para os colegas de escola que “implicam” com ele por conta da dança.

 

Janaína Batista Cruz e Janaína Almeida Evangelista de Paulo, as duas com 10 anos, estudaram balé juntas aos cinco anos em uma escola na 711 Norte, mas quando a unidade foi demolida, achavam que voltar a dançar seria impossível.

 

“Eu amo balé”, declarou De Paulo com paixão – “Eu insistia para minha mãe encontrar algum lugar. Hoje eu treino em casa, fico tentando fazer abertura, que ainda não consigo. Estou quase lá”.

 

A mãe, Régina da Silva Evangelista, de 36 anos, confirmou o desejo da filha e disse que sempre a incentiva: “Hoje a Janaína é destaque na escola pelo desempenho na sala de aula”.

 

“Ela está aprendendo mais. É bonito ver a postura dela, o jeitinho de andar”, declarou Lucilene Pereira Silva (42), mãe da outra Janaína.

 

AUTOESTIMA – A diretora artística e idealizadora, Edna Carvalho de Azevedo, concorda com a análise das mães e destacou que quase 600 crianças passaram pelo projeto desde a criação em 2005, e a mudança no comportamento da maioria é visível.

 

“Quando entram no projeto, estão desacreditadas, com pouca confiança, achando que não são muito capazes. Você vê que elas têm um grande déficit de autoestima”, relatou.

 

Ainda de acordo com a diretora, o cenário muda quando as aulas acabam: “Elas amadurecem, veem quem são importantes, que são capazes. O rendimento aumenta, a concentração também”, detalhou ao lembrar que os pequenos adquirem a confiança necessária para enfrentar novos desafios.

 

Para a pedagoga Maria Mazzarello, professora envolvida na criação do “Educar Dançando”, os alunos “contemplam coisas melhores, se sentem felizes, começam a sonhar, a ver um futuro”.

 

BERLIM – Desde 2011, o brasliliense Glauber Lucas Mendes Silva, de 16 anos, estuda na Escola Superior de Dança de Berlim, um dos parceiros internacionais do projeto.

 

No início, ele treinava três vezes por semana, mas, quando começou a se preparar para disputar a bolsa de estudo, a dedicação foi diária e o resultado não poderia ser outro: ele e mais um amigo conseguiram a bolsa entre outros 50 concorrentes.

 

Hoje ele vive na Alemanha com pessoas de diferentes nacionalidades que, assim como ele, objetivam a profissionalização – “E a rotina é pesada, começa às 7 horas e às vezes se estende até as 20h”.

 

O jovem inspira outras crianças a sonhar alto como ele mesmo sonhou ao se espelhar no cubano Carlos da Costa.

 

“Ele teve o sonho de ir para a Europa e fazer dança. É um dos melhores bailarinos da atualidade. Meu objetivo é ser como ele”, finalizou determinado.

 

(V.R/J.S)