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14/11/2013 às 12:14
Aos 69 anos, Tião Areia conta suas histórias de amor pela região que ajudou a construir
SÃO SEBASTIÃO (14/11/13) – Considerada uma das cidades mais jovens do DF, São Sebastião, no auge dos seus 20 anos, possui diversas culturas, projetos sociais, iniciativas populares e é, até hoje, o abrigo de seus fundadores, como Sebastião de Azevedo Rodrigues, 69 anos, ou Tião Areia, como é popularmente conhecido.
Mineiro de Patos de Minas, Rodrigues chegou ao DF em 1959, aos 15 anos, depois de uma longa viagem de pau-de-arara com mais 26 homens – sete deles se chamavam Sebastião – e aqui, sem familiares, começou a trabalhar em uma olaria, onde foi apelidado de Tião Areia.
“Naquela época era muito comum o nome Sebastião e por isso todos os que tinham esse nome e trabalhavam nas olarias recebiam um apelido com o nome da função que exercia. Eu, como fazia a extração de areia para a produção de tijolos, recebi esse apelido que é usado até hoje”, contou à Agência Brasília.
A história de Tião se confunde com a de São Sebastião, cidade que ele viu nascer e que hoje conta com 97,9 mil habitantes, distribuídos pelos 27 mil domicílios, segundo levantamento da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan).
Na época de sua chegada – lembra ele com orgulho – havia apenas a Fazenda Papuda, propriedade de uma senhora de mesmo nome, onde existia a olaria em que ele trabalhava e fabricava os materiais que construíram Brasília.
Na fazenda, havia apenas um casarão cercado por mata nativa e estradas de carro de boi que eram percorridas, todas as madrugadas de domingo, por Tião e seus companheiros, que saíam a pé de onde hoje é São Sebastião rumo à Cidade Livre (Núcleo Bandeirante), para comprar alimentos depois de 6 horas de caminhada.
“Foi uma época difícil em que, para comer, tínhamos que sair daqui às 4h da manhã para poder chegar às 10h na Cidade Livre, comprar comida, e voltar. Às vezes comprávamos 30Kg, e, de tão cansados, quando chegávamos ao nosso destino parecia que pesava mais. Muitos, até iam descalços”, lembrou.
Apesar do sofrimento inicial, Tião trabalhou pesado e conseguiu, naquela época, adquirir uma área equivalente a 48 campos de futebol, onde está situada a cidade de São Sebastião, já que o preço do terreno não era valorizado.
Ali, em meio ao mato e à poeira, o mineiro se casou, teve 10 filhos e conseguiu construir uma casa para sua mãe, que havia ficado sozinha em MG quando ele resolveu vir para o DF. Anos depois, diagnosticado com doença de chagas e vendo vários amigos morrerem do mesmo mal, o pioneiro resolveu doar parte de suas terras.
“Depois que vi meus amigos morrendo de chagas e que fui desenganado pelos médicos por cinco vezes comecei a dar as terras, mas não morri, e também não me arrependo de ter ajudado os outros. Pelo contrário, sinto orgulho”, contou emocionado.
Com o loteamento criado, seus 92 habitantes iniciais precisaram mudar o nome da Fazenda Papuda, que foi desapropriada para a construção da capital.
SÃO SEBASTIÃO – Devido ao preconceito que a sociedade da época tinha em relação ao nome “Papuda”, as nove dezenas de moradores fizeram uma votação, durante um dia inteiro, com 21 nomes retirados do dicionário e que seriam utilizados para batizar a agrovila.
Eucaliptal e Sombra da Serra, de acordo com Tião, foram os nomes mais votados. Porém, ele lembra que no último momento da escolha surgiu a ideia de colocarem o nome de um santo, já que o local ainda não tinha estrutura de cidade e que quando houvesse a criação oficial, um novo nome seria escolhido.
Com a predominância do nome Sebastião e uma homenagem àquele que ajudou toda a comunidade, as terras barrentas foram batizadas de Agrovila São Sebastião e, em 25 de junho de 1993, se tornou o que hoje é a Cidade de São Sebastião.
Atualmente, dono de uma residência na cidade e de uma chácara na zona rural, Tião se lembra dos tempos de criação da região sentado na praça feita pelo GDF em sua homenagem, local em que contou à Agência Brasília, com orgulho, o seu maior legado: 29 netos e cinco bisnetos.
Para a esposa do mineiro, Maria Silva Rodrigues, 64 anos, que também acompanhou a evolução da cidade e ajudou a construir a primeira creche local para cuidar, de graça, de 150 crianças, o passado “representa uma grande vitória”.
“Sair da roça para morar na cidade é engraçado. Mas fazer a roça com um monte de mato virar cidade é algo que não se imagina. É muito gratificante ver uma cidade deste tamanho e com essa estrutura”, orgulhou-se Maria.
Em todos os lugares que frequenta, Tião sempre é parado por algum popular, e ali mesmo no meio da rua, começa a contar prosas e lembrar histórias, oportunidade encontrada por alguns para agradecê-lo por tudo o que fez por São Sebastião.
“Cheguei aqui em 1985, e o vi, várias vezes, sendo preso por pegar água da Papuda para abastecer os moradores. Se não fosse esse homem, provavelmente não teríamos essa cidade hoje”, reconheceu o aposentado Manoel do Nascimento, 59 anos.
Apesar dos elogios e do reconhecimento da população, Tião se mantém humilde e leva uma vida sem luxos, sempre atento às suas origens.
Falador, ele percorre frequentemente o trajeto de 10km entre a casa e a roça na cidade que, como ele conta, era um mar de barro vermelho, cheio de mato com “carros de boi”, e que hoje é o lar de milhares de habitantes.
(F.M/J.S)