Região, que recebe o programa "GDF Junto de Você" nesta semana, possui celebrações centenárias e cultiva o diálogo e a tolerância entre religiões
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05/12/2013 às 19:01
Região, que recebe o programa “GDF Junto de Você” nesta semana, possui celebrações centenárias e cultiva o diálogo e a tolerância entre religiões
BRASÍLIA (5/12/13) – Cidade de muitas devoções e credos que mantém suas tradições apesar do bombardeio diário da modernidade. Assim Planaltina é definida pelos seus moradores que consideram a região administrativa mais antiga do DF, de 154 anos, um verdadeiro campo de fé onde acontecem a Folia do Divino Espírito Santo, a proliferação de igrejas evangélicas e a resistência de centros de Umbanda.
O ar tradicional da cidade, onde as igrejas são construídas no meio das praças, traduz a essência da região formada por 61,18% de católicos -que correspondem a 110,6 mil pessoas-, fato que explica a ocorrência das diversas celebrações religiosas dessa corrente ao longo do ano.
A Folia do Divino Espírito Santo é uma das mais tradicionais expressões da fé na cidade. Festa centenária, que reúne mais de 10 mil pessoas, a cada ano, devotas à terceira pessoa da Santíssima Trindade, segundo os dogmas da Igreja Católica.
“A Folia foi realizada em Planaltina, pela primeira vez, em 1882, e o objetivo era levar a toda a população a fé no Espírito Santo. É uma festa popular, mas o principal atrativo é a parte religiosa”, explicou o militar Clemilton de Moura Andrade, 46 anos, um dos organizadores do movimento.
A Folia acontece todos os anos e tem início 15 dias antes de Pentecostes, celebração que significa a descida do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos, no Cenáculo, após a ressurreição de Cristo.
A tradição dessa festa, segundo relatos históricos, veio de Portugal, país em que o Espírito Santo é festejado com um banquete onde os pobres e menos afortunados podem se servir. O mesmo acontece em Planaltina, durante os festejos, quando são distribuídas 10 mil refeições.
“Neste ano servimos para a comunidade a carne de 17 vacas e mais de 250kg de arroz, além da tradicional carne de porco com gueroba, que não pode faltar”, lembrou o policial civil e organizador, Francisco Lindomar Santana, 46 anos.
Em Planaltina, na semana que antecede a Solenidade de Pentecostes, os foliões participam de missas solenes e realizam novenas nas casas da comunidade. Para essas ocasiões não pode faltar a Bandeira do Divino, um ícone em formato de pomba e uma coroa centenária.
“A coroa simboliza o reinado do Espírito Santo, o império sobre todas as coisas, em todo o tempo. Significa a nossa fé e toda uma espiritualidade católica”, disse o militar Clemilton Andrade.
Para a realização do evento, os responsáveis contam apenas com doações da comunidade. Anualmente, no sábado véspera de Pentecostes, são escolhidos dois casais que se incumbirão de organizar a folia do ano seguinte.
Devido ao seu caráter histórico e que marca a vida dos planaltinenses, neste ano, em maio, o governador Agnelo Queiroz presenciou a celebração religiosa e assinou um decreto que tornou a Festa do Divino Espírito Santo de Planaltina como Patrimônio Cultural Imaterial do DF.
Além da Festa do Divino, a cidade é palco da maior Via-Sacra do DF, realizada no Morro da Capelinha. Neste ano, a encenação da via-crúcis chegou à 40ª edição e atraiu um público de aproximadamente 200 mil pessoas.
ESPAÇO PARA TODOS – Apesar de ser uma cidade onde o catolicismo predomina, também há espaço para o surgimento de igrejas evangélicas das mais variadas denominações, que se instalam em diferentes localidades da cidade e, principalmente, na área rural.
Essa proliferação ao longo dos últimos anos fez com que o número de pessoas adeptas ao protestantismo chegasse a 27% da população -cerca de 48,8 mil pessoas-, segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) feita pela Codeplan neste ano.
Uma das igrejas evangélicas da cidade é a do pastor José Laerte da silva, 50 anos, a Assembleia de Deus Videira, que atua em Planaltina do DF e de Goiás, com 30 templos, e reúne aproximadamente 3 mil pessoas.
“Moro em Planaltina há 43 anos e há 25 sou pastor. Vi toda a cidade sendo construída aos poucos, assim como as igrejas evangélicas. A cidade expandiu muito ao longo dos anos e o número de igrejas teve de acompanhar para atender aos fiéis”, lembrou.
De acordo com o pastor, não existe rivalidade entre as religiões em Planaltina. Ele destacou que há o diálogo permanente com outras crenças e, ao mesmo tempo, além de cuidar do lado espiritual, há grande preocupação em relação ao bem-estar social.
“Temos projetos sociais de inclusão digital e de aulas de violão. Juntos, eles atendem quase 200 pessoas. Temos, ainda, casas de recuperação que ajudam a tratar o espírito e o corpo”, destacou o pastor.
RAIZ BRASILEIRA – Também focados no social e no lado religioso, Planaltina conta com diversos centros, terreiros e casas de Umbanda espalhados pelos diversos setores da cidade.
Um desses locais é o Centro de Umbanda Cavaleiros de Ogum (Cuco), que a cada sexta-feira chega a receber 200 pessoas que procuram orientação espiritual oferecida por 15 integrantes da unidade.
“A Umbanda é ligada ao espiritismo e é 100% brasileira. Hoje atendemos aos moradores de Planaltina, mas a nossa meta é abrir ao público geral no dia 23 de abril, dia de São Jorge. Ao contrário do que as pessoas pensam, não fazemos o mal. Trabalhamos apenas com limpeza espiritual e orientação”, explicou o publicitário Diogo de Sá, 30 anos, Pai Pequeno do Centro.
De acordo com Sá, qualquer pessoa pode procurar a Umbanda em busca de orientação espiritual. No entanto, para exercitar a parte mediúnica é necessário uma autorização.
O responsável pelo Centro afirmou que não aceita doações em dinheiro, inclusive essa norma é registrada em cartório. Contudo, doações de alimentos são permitidas e possibilitam a assistência às famílias da comunidade, que também recebem acompanhamento médico feito pelo Centro.
(F.M./M.D*)