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04/05/2014 às 12:22
Apenas Brasília e outras três das 12 cidades-sede foram escolhidas para oferecer a inovação
BRASÍLIA (4/5/14) – “O jogador está saindo de campo com uma expressão de frustração. Já a torcida do time adversário pula e comemora o gol”. Será assim, com riqueza de detalhes e emoções, que voluntários do projeto de narração audiodescritiva contarão os lances dos jogos da Copa do Mundo às pessoas cegas ou com problemas de visão. O primeiro teste do serviço na capital federal foi feito na quinta-feira (1º), durante a partida entre Brasília x Sport Recife, no Estádio Nacional Mané Garrincha.
Essa foi a segunda vez que a audiodescrição foi testada no Brasil – a primeira foi no Rio de Janeiro. Além de Brasília, apenas a capital carioca, São Paulo e Belo Horizonte contarão com o diferencial nos jogos do Mundial. Na disputa de quinta-feira, válida pela Copa do Brasil, os quatro jovens que atuarão nas sete partidas marcadas para o Mané colocaram em prática os conhecimentos e as habilidades adquiridas em mais de dois meses de treinamento intenso.
Eles narraram todo o jogo, ao vivo. Tudo com a supervisão do criador do projeto, inédito no Brasil, o jornalista Martin Zwischenberger. Para o austríaco, o maior legado da iniciativa é a inclusão social e a continuidade da narração audiodescritiva país afora, já que os equipamentos de transmissão ficarão com as cidades-sede. “Nossa expectativa é que não termine com a Copa do Mundo, mas seja apenas o começo”, ressaltou.
O projeto já existe em países da Europa e é pioneiro na América Latina. No Brasil, é realizado por meio de uma parceria entre a FIFA, a ONG Urece Esporte e Cultura para Cegos, do Rio de Janeiro, e o Centro de Acesso ao Futebol na Europa (CAFE). Os equipamentos usados foram adquiridos pela FIFA.
No Mundial, haverá dois locutores por jogo, e a narração será transmitida por radiofrequência e captada em fones de ouvido individuais. Os torcedores deficientes visuais poderão se sentar em qualquer lugar do estádio. A narração audiodescritiva dará ênfase a detalhes como emoção dos torcedores, clima de jogo, descrição do gramado, entre outros aspectos mais subjetivos e característicos do sentido da visão.
O serviço permitirá, ainda, que os espectadores tenham uma experiência mais rica e próxima da realidade dos jogos de futebol. Para isso, são valorizados itens como linguagem corporal, expressão facial, entorno, lances, uniformes, cores e qualquer outro aspecto importante para transmitir a aparência e o ambiente do estádio.
SELEÇÃO– Os voluntários foram selecionados em universidades. Para garantir a diversidade nas narrações, foram escolhidos homens e mulheres com perfis em áreas como o esporte e a deficiência visual. O olhar apurado para os aspectos visuais de uma partida de futebol também foi um dos requisitos. Eles passaram ainda por entrevistas antes de serem escolhidos.
Em Brasília, toda a equipe é formada por jornalistas que moram na cidade. Um deles é Rodrigo Serpa, 25 anos. Para ele, a expectativa é que o projeto se torne permanente. “Se fala tanto em legado após a Copa do Mundo, especialmente em relação a questões estruturais, mas acho que esse também é um legado humano importante, de inclusão social. Espero que isso se espalhe para os campeonatos de futebol e também para outros esportes”, enfatizou.
Animada com a possibilidade de proporcionar uma experiência diferenciada às pessoas com deficiência visual, Patrícia Osandón, 29 anos, espera surpreender o público-alvo do projeto. “É uma oportunidade proveitosa, tanto para a equipe de voluntários quanto para o público que vamos atender. Essa é uma atitude mínima para garantir os direitos dessas pessoas e mostrar um novo mundo a elas”, destacou. “Nós seremos os olhos delas”, concluiu.
(B.F/J.S*)