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04/05/2014 às 13:43
Iniciativa desenvolvida no DF tem como objetivo ampliar conhecimentos dos trabalhadores para encaminhá-los a escolas públicas
BRASÍLIA (4/5/14) – A união de forças entre o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), Universidade Católica e a empresa Sustentare Serviços Ambientais começou a mudar a rotina de dezenas de varredores e coletadores de lixo do Distrito Federal. Há um mês, eles tiveram a oportunidade de retornar ou entrar, pela primeira vez, em uma sala de aula para aprender a ler, escrever e fazer contas matemáticas.
Aos 59 anos, José Delmiro Filho é um dos garis que enxergaram no projeto “Alfabetização Cidadã” uma chance para mudar os rumos de sua vida. “Essa é a primeira oportunidade que tive na vida para aprender a ler e escrever. Conheço todas as letras, mas não sei ler todas as palavras. Só sei escrever o meu nome. Por isso, estou pelejando para aprender a ler mais”, contou José Delmiro à reportagem da Agência Brasília, que acompanhou, na última semana, uma aula para os profissionais.
Ele conta que, ao terminar o turno de trabalho, em Planaltina, vai direto para a aula, na Casa do Ribeirão, em Sobradinho II. “Venho correndo para cá, nem passo em casa. Não estudei porque comecei a trabalhar com 5 anos. Os nossos pais só colocavam a gente para trabalhar, não tinha esse negócio de estudar. Eles não pensavam no que poderíamos passar pela frente”, lembrou.
Outro aluno, Vaulino Cardoso Pereira, 42 anos, mora em Planaltina e atua como coletador de resíduos no DF há mais de 14 anos. “Aprendi a ler um pouco, mas escrever mesmo eu não sei nada. O que eu mais quero na vida é aprender escrever um pouco. É importante saber escrever e ler porque a vida pode melhorar”, relatou.
Segundo a coordenadora do projeto, Williani Carvalho, 60% dos 1,8 mil garis da empresa são analfabetos ou semianalfabetos. “Pensamos essa ação porque percebemos a dificuldade que eles tinham de fazer a leitura de cartazes e informativos. Por isso, muitas vezes eles perdiam oportunidades dentro da empresa por não saber ler”, explicou.
Williani Carvalho destacou que a UCB treina os professores. “A metodologia é especial, não usando apenas o quadro, mas vendo os objetos. Por isso, o aprendizado fica mais fácil, já que estão com idade avançada e mente cansada”, complementou.
Rosana Maria Xavier, 26 anos, é a professora da turma. Ex-gari, a educadora atualmente cursa faculdade de Administração e garante motivar os alunos para que eles não desistam. “Falo que hoje pode estar difícil, mas quando eles estiverem na universidade será mais ainda”, contou.
Outra estudante que garantiu não faltar às aulas é Simone Oliveira de Souza, 32 anos, moradora de Sobradinho II. “Parei de estudar há mais de 15 anos, na 4ª série, porque tive filho e me casei. Esqueci a maioria dos conteúdos, tenho dificuldade em ler várias palavras, mas tive essa oportunidade e agora vou até o fim”, afirmou.
PROJETO – O “Alfabetização Cidadã” foi lançado em 8 de abril. Inicialmente, foram criadas três turmas com 82 alunos ao todo, sendo 35 em Brazlândia, 26 em Sobradinho e 21 na Asa Sul. O projeto, que pretende aumentar o número de estudantes, oferece curso com duração de nove meses e carga horária total de 290 horas.
As aulas são realizadas às terças, quartas e quintas-feiras, das 16h às 18h30. As opções de horários foram planejadas para adequação tanto para quem trabalha à noite quanto pela manhã. Os alunos recebem lanche em todas as aulas. Após a conclusão, haverá a formatura dos estudantes, que serão encaminhados à rede pública de ensino para complementar o aprendizado pelo programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA).
(A.S/J.S*)