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18/06/2014 às 12:44
Pessoas com deficiência visual presentes na partida entre Suíça e Equador viveram momentos inesquecíveis na inauguração do sistema de audiodescrição no estádio
BRASÍLIA (18/6/14) – Uma Copa do Mundo é feita de vários ingredientes. Dentro de campo, a emoção se faz com dribles, defesas, passes e, principalmente, gols. Fora do gramado, há um espetáculo de cores e sons composto por camisas das seleções, rostos e unhas pintados, cornetas, celulares registrando tudo e um clima de alegria que só quem vai a um estádio em um Mundial consegue entender.
Mas no jogo entre Suíça e Equador, no domingo (15), havia um ingrediente especial no Mané Garrincha: um serviço que atende pessoas com deficiência visual, narrando os lances das partidas ao vivo. Apenas Brasília e outras três das 12 cidades-sede foram escolhidas para oferecer essa inovação durante os jogos do Mundial.
Em meio a 68.351 pessoas que foram ver de perto a partida, três torcedores eram presença mais que especiais na arena brasiliense: foram os primeiros a experimentarem a narração audiodescritiva, inaugurada no jogo de estreia da cidade no Mundial.
O projeto, que conta com 16 voluntários treinados para narrar os lances das partidas em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, utiliza uma aparelhagem semelhantes a dos rádios e fones para transmitir aos usuários. Os equipamentos foram adquiridos e doados pela FIFA às capitais, que terão o serviço como legado da Copa.
Emoção sem igual – Sentados atrás do gol do Equador no primeiro tempo, o brasiliense José Aurélio Oliveira, 48 anos, o mineiro Joaquim Fabiano Braga, 62, e o cearense Nilson Cordeiro dos Santos, 45, não escondiam a felicidade. E certamente sentiram uma energia muito positiva quando, aos 11 minutos de jogo, a primeira “ola” da Copa do Mundo em Brasília percorreu as arquibancadas, levando consigo um som contagiante por onde passou.
Com um fone de ouvido a lhe guiar a imaginação, José Aurélio, um santista que perdeu a visão há cinco anos devido a complicações geradas pela diabetes, voltava a um estádio pela primeira vez desde então. “Estou muito feliz por participar de um evento como esse, uma Copa do Mundo no Brasil”, disse o brasiliense, ao fazer uma descrição perfeita do ambiente a sua volta: “Pelo o que eu acompanhei, o estádio está lotado e muito colorido com torcedores da Suíça, do Equador e também com muitos brasileiros, que, tenho a impressão, devem ser mais numerosos do que os dos dois times”.
Com deficiência visual desde que nasceu, Joaquim Braga considera a narração uma oportunidade única para aqueles que, como ele, sentem-se parte de um jogo de futebol. “Eu me sinto mais integrado com as pessoas que enxergam. O projeto é muito bem-vindo”, ressaltou. Nilson dos Santos, que perdeu parte da visão após sofrer uma alergia a um medicamento aos 5 anos, também aprovou a iniciativa: “Estou muito feliz por estar aqui”.
Prazer em ajudar – A emoção não tomou conta apenas de quem ouvia a transmissão. Os narradores, que precisam estar atentos não somente aos lances da partida, mas também a itens como linguagem corporal, entorno e o ambiente, compartilharam a alegria durante os 90 minutos de jogo. Os estudantes de jornalismo Pedro Paulo Borges e Ana Freire voltaram para casa com um sentimento de muita felicidade após a experiência no Mané.
“Estava um pouco nervoso no começo, com alguma ansiedade, mas no final tudo acabou dando certo. Ter narrado três gols de uma Copa do Mundo foi algo muito especial para mim. Somos os olhos deles no estádio e nosso desafio é passar tudo o que acontece na partida com mais detalhes possível”, afirmou Pedro Paulo. Selecionados em universidades, os voluntários foram escolhidos conforme requisitos, como perfil em áreas esportivas e de deficiência visual, além de olhar apurado para aspectos visuais de uma partida de futebol.
(M.D*)