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21/06/2015 às 12:36
Projeto desenvolvido pelo 10° Batalhão de Polícia Militar, em Ceilândia, atende cerca de 350 alunos de 6 a 16 anos
Atualizado em 22 de junho de 2015, às 11h42
A versão anterior informava que o programa ocorre na quadra QNQ. O endereço correto é QNO.
“Eu era muito atentado.” Bastaram poucos segundos de conversa para que Marcos Vinícius Melchendes, de 14 anos, descrevesse sua antiga característica principal. A tia, com quem mora desde os 7 anos, chegou a pedir para que o internassem em um centro de atendimento juvenil, devido ao comportamento difícil do adolescente. “Eu ia para cima mesmo, era respondão, mal-educado”, conta o estudante, com a cabeça baixa, mirando a ponta da chuteira. No entanto, esse temperamento ficou no passado. Grande parte da mudança ocorreu graças às aulas de futebol que o garoto frequenta, três vezes por semana, por meio de um projeto do 10º Batalhão de Polícia Militar do Distrito Federal (BPM), em Ceilândia.
No campo de grama sintética da QNO 16/17, onde são realizadas algumas atividades do Bom de Bola, Bom na Escola, Sininho perde a timidez e faz da bola uma velha amiga. Ele não soube explicar o apelido, nem o fato de ter perdido os pais tão cedo. Ambos, usuários de droga. Ele não sabe se tem irmãos de sangue ou qual a idade exata que tinha quando ficou órfão. Mas, com um passado cheio de incertezas, o menino tem convicção de que o futuro não será igual. Marcos sonha em ser jogador profissional de futebol. Para isso, sabe que precisa estudar. Faz a quarta série e está bem atrasado, como ele mesmo lamenta. Neste ano, não quer ser reprovado. “Do jeito que estou indo, acho que vai dar para avançar.”
O gosto pelo estudo também é novidade na vida do jovem. Isso porque, para participar da escolinha de futebol do 10º batalhão, a regra é estar matriculado e ter bom rendimento na escola. Quando os policiais sabem de alguma dificuldade curricular dos meninos, os encaminham para um reforço, dentro do próprio quartel.
Problemas familiares também são acompanhados de perto pela equipe de policiais militares. São oito professores que conhecem com detalhe o cotidiano dos quase 350 alunos. “Criamos um laço muito bonito com eles: sabemos dia de aniversário, gostos. Aqui, aprendemos e ensinamos”, resume o coordenador do Bom de Bola, Bom na Escola, primeiro-sargento Josélio Pereira de Sousa. Ele está à frente do projeto há sete anos.
Os PMs oferecem atividade externa aos estudantes três vezes por semana — às segundas, quartas e sextas-feiras — e, em alguns dias, vão às escolas e às residências conversar com professores e familiares sobre o comportamento dos adolescentes fora do campo. Ainda garantem palestras sobre temas como drogas, violência familiar e bullying. Uma equipe especializada presta atendimento psicológico aos garotos quando necessário.
Solidariedade
O projeto atende alunos de 6 a 16 anos, em dois núcleos: nas quadras dentro do batalhão e no campo sintético da QNO — onde Sininho treina. “Quase todos os dias, atendemos pais dizendo que o filho melhorou em casa e está mais aplicado na escola”, conta o chefe de projetos sociais do 10º BPM, segundo-tenente Luciano Lino.
A iniciativa nasceu em 1999, antes da criação dessa unidade militar — que foi ativada apenas em janeiro de 2015 —, e sobrevive graças ao empenho dos profissionais e ao apoio de parceiros como os comerciantes locais. Um deles é Francisco Alves de Almeida, de 69 anos, dono de uma lanchonete perto do gramado onde os meninos jogam. Ele acorda todos dias antes das 7 horas para gelar a água e preparar a mesinha onde deixa copos que comprou especialmente para os craques da bola.
Francisco conta ter se casado 16 vezes. São sete filhos, seis bisnetos e 14 netos. Mas a família é bem maior que isso, já que ele “adotou” os quase 350 estudantes que participam do Bom de Bola, Bom na Escola. São raras as vezes em que não o chamam de avô. O carinho não diminuiu nem quando o comerciante passou cinco dias internado no Hospital de Base, depois de um derrame em 2012. “Eu pensava neles o tempo inteiro, não sabia o que estava acontecendo, quem daria água para eles beberem.”
Mulher em campo
Única garota do grupo, Najila Lauani Queiroz, de 14 anos, é zagueira e treina com os meninos há dois anos. Quando crescer, quer ser arquiteta e jogadora profissional, de preferência como a atacante da seleção feminina Marta. De acordo com Najila, sem a escolinha, ela estaria em casa “vendo televisão o dia inteiro”.
Para se inscrever no projeto, basta comparecer ao 10º Batalhão de Polícia Militar, no Setor de Indústria de Ceilândia, de segunda a sexta-feira, das 13 às 19 horas. É necessário que o aluno esteja matriculado na escola e leve um atestado médico para mostrar que pode praticar exercícios físicos. Alguns dos estudantes chegam encaminhados pelo conselho tutelar da região.
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