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15/07/2015 às 12:00
Governo aposta na diversidade de estilos para emplacar a capital com o título concedido pela Unesco
No comando das pickups há 15 anos, a brasiliense Débora Carvalho, de 39 anos, conhecida como DJ Donna, é enfática ao dizer que Brasília não é mais a capital do rock. “Toco em muitos lugares e vejo o quanto os ritmos se misturam por aqui”, afirma. Residente — profissional que atua costumeiramente na casa — de grandes festas locais e convidada para discotecar Brasil afora, ela começou com música eletrônica e hoje seu estilo mistura rap, hip-hop, trap e ragga. “Adapto minha lista ao evento, mas sempre com foco no som de qualidade.”
Donna é uma das personagens que comprovam a diversidade musical brasiliense. Pensando nessa característica da identidade do DF, o governo, por meio da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão, lança nesta quarta-feira (15) a candidatura de Brasília para integrar a Rede de Cidades Criativas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na categoria música. Em 1987, a capital do País recebeu da organização o título de Patrimônio Cultural da Humanidade.
“Independentemente de qualquer incentivo, as manifestações culturais criativas ocorrem de forma espontânea”, ressalta a secretária de Planejamento, Orçamento e Gestão, Leany Lemos. “Brasília costuma ser associada à política e à arquitetura: somos muito mais que isso.”
Para subsidiar a campanha pelo título, um grupo de trabalho formado por servidores das Secretarias de Planejamento, Orçamento e Gestão e de Cultura analisou o conteúdo musical do DF e reuniu informações (que incluem galerias de imagens, vídeos e links) em um hotsite — página temporária na internet criada apenas para uma ação específica —, ainda em fase de elaboração. A plataforma destacará trabalhos sociais focados em educação musical e espaços icônicos, como o Clube do Choro. A Unesco avaliará o material até 30 de novembro e, em 11 de dezembro, divulgará as cidades eleitas.
Samba
Os sambistas do grupo Filhos de Dona Maria, criado há quatro anos, também reconhecem a mudança no cenário musical brasiliense. “Percebemos o tanto que os gêneros de cultura popular, como o maracatu e o coco (gêneros típicos do Nordeste), ganham espaço”, afirma o percussionista Artur Senna. Para ele, a localização geográfica é um diferencial. “Fazemos esse intercâmbio com outras cidades, daí a grande mistura em todos os sentidos.”
No samba, o músico percebe um crescente surgimento de grupos e o aumento do público nas apresentações. Também integram o grupo Khalil Santarém (cavaquinho e voz), Amílcar Paré (violão e voz) e Vinícius Oliveira (percussão e voz). Com influências da capoeira, do samba de terreiro e do jongo, o Filhos de Dona Maria apresenta-se mensalmente em um local que integra a identidade de parte da música de Brasília, o Círculo do Operário do Cruzeiro, palco de shows de samba e pagode.
Categorias
Criada pela Unesco em 2004, a Rede de Cidades Criativas tem como objetivo estimular a cooperação e a partilha de experiências entre as localidades participantes. A lista completa, dividida em sete categorias (artesanato e arte popular, artes e mídia, cinema, design, gastronomia, literatura e música), conta com 69 cidades.
Em 2014, duas capitais brasileiras integraram a rede: Florianópolis (SC), na categoria gastronomia, e Curitiba (PR), em design. Neste ano, o País entra na disputa com Santos (SP), em cinema, Belém (PA), em gastronomia, e Brasília (DF) e Salvador (BA), em música. Caso tituladas pela Unesco, as cidades musicais farão parte da lista formada por Bogotá (Colômbia), Bolonha (Itália), Brazavile (República do Congo), Glasgow (Escócia), Gante (Bélgica), Hamamatsu (Japão), Hanôver (Alemanha), Mannheim (Alemanha) e Sevilha (Espanha).
Reconhecimento
Se a candidatura de Brasília for bem-sucedida, o governo pretende explorar o título, para desenvolver o turismo, a cultura e a economia locais. “Vamos atrair olhares internacionais, o que é essencial para o turismo; também é uma forma de pensar elementos para o currículo escolar e aumentar o acesso a fundos e recursos, sem contar que será um orgulho para aqueles que vivem aqui”, resume a secretária de Planejamento, Orçamento e Gestão.
Para o compositor Alberto Salgado, o título ajudará a elevar a autoestima cultural da cidade. “É importante percebermos de forma mais ampla o que há além do eixo Rio de Janeiro-São Paulo. Exportamos músicos de altíssimo nível: grandes professores, intérpretes e compositores”, destaca o violonista, que ganhou 15 prêmios em festivais e dividiu o palco com artistas como Hermeto Pascoal, Manassés de Souza e Kiko Klaus. Em 2015, foi premiado como melhor intérprete de MPB pelo Prêmio Profissionais da Música.
Violonista nascido e criado em Sobradinho, Salgado mescla clássico, popular, samba, choro e bossa. Ele aproveita para citar grandes nomes originários de Brasília. “Temos o Hamilton de Holanda, o Ocelo Mendonça [membro da orquestra sinfônica] e o baixista Jorge Helder, que acompanha artistas como Chico Buarque e Maria Bethânia”, exemplifica. “A capital de todos os ritmos também tem compositores como Cacá Pereira e Zelito Passos, que, apesar de não serem brasilienses, aqui encontraram a inspiração para seus trabalhos”, acrescenta. “Vimos recentemente o reconhecimento de dois grandes trabalhos da nova geração, a Ellen Oléria e a banda Scalene.”
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