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21/10/2015 às 10:27
Distrito Federal sai do vazio sanitário, período em que o cultivo do grão é proibido para proteger a cultura
O vazio sanitário — período em que o plantio fica proibido — do feijão terminou na terça-feira (20). A interrupção, que dura um mês, ocorre todos os anos e serve para proteger a cultura. De acordo com o coordenador da faculdade de agronomia da Universidade de Brasília, Everaldo Anastácio Pereira, a pausa é necessária para evitar a proliferação de parasitas da lavoura.
Professor da disciplina há 23 anos, Pereira afirma que a principal ameaça ao feijão é o vírus do mosaico, transmitido pela mosca-branca, combatida pelo vazio. O intervalo de plantio se dá no mesmo período em outras duas unidades da Federação: Goiás e Minas Gerais.
Pereira informa que é comum em outros países a existência de restrição semelhante, causada por condições climáticas. “Nos Estados Unidos, existe um vazio natural provocado pelo inverno rigoroso”, exemplifica. “Aqui, em clima tropical, as pragas têm comida o ano todo, por isso deve ser forçado esse vazio para que elas não se proliferem.”
Soja
Assim como o feijão, a soja também passa pelo vazio. O grão é ameaçado especialmente pelo fungo da ferrugem asiática (Phakopsora pachyrhizi). A restrição do plantio, que dura três meses, começou em 1º de julho e acabou em 30 de setembro. Segundo Pereira, essa é a melhor época, já que a seca por si só é propícia ao vazio e por se tratar de um tipo de cultura que precisa de irrigação.
O coordenador do Programa de Grãos, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal, no Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD-DF), Marconi Borges, explica que a medida dificulta o desenvolvimento da ferrugem, pois reduz a velocidade de propagação. “As plantações voltam a se desenvolver e sem a ferrugem.”
De acordo com a empresa pública, agricultores que descumprem a regra pagam multas de R$ 15 mil (primeira infração) a R$ 50 mil.
Plantio em ciclos
Há 21 anos dono de uma fazenda na área rural entre Paranoá e São Sebastião, o agricultor José Guilherme Brenner conta que, em 2003, a ferrugem asiática o fez perder parte da plantação. A propriedade tem 1,2 mil hectares de produção de soja, milho e feijão — o equivalente a 1.111 campos de futebol.
Brenner organiza a plantação em ciclos. Em outubro e novembro, semeia soja; em fevereiro, milho; em junho, feijão. Apesar de seguir à risca o vazio tanto da soja quanto do feijão, ele ainda não está livre da mosca-branca. “É uma praga que pode dar perda total”, lamenta. Mas reconhece que cumprir a determinação ajudou a diminuir os prejuízos.
Mosca-branca
A mosca-branca é o vetor de transmissão do vírus do mosaico e de outras 300 espécies. De acordo com a pesquisadora e entomologista Eliane Quintela, da unidade Arroz e Feijão, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, em Goiás, os danos causados pelo inseto podem ser diretos, pela sucção da seiva e injeção de toxinas, e indiretos, pela excreção de substância açucarada que favorece o crescimento de fungos.
Autora de 19 livros sobre a mosca-branca e pragas feijoeiras, Eliane acredita que o período de interrupção do cultivo tem apresentado resultados positivos. “O vazio sanitário do feijão tem sido um sucesso, com reduções significativas no número de pulverizações para controle da mosca-branca e de plantas”, comemora.
Além do vazio, para proteger as colheitas, ela recomenda a adoção de práticas como manter as áreas de produção limpas (sem restos vivos da safra anterior) e destruir as lavouras abandonadas ou com o ciclo interrompido.
Ferrugem asiática
Em 2007, foi assinada uma instrução normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que orienta os agricultores a observar o vazio da soja para evitar a ferrugem asiática. De acordo com o ministério, o fungo pode ser disseminado pelo vento e não sobrevive em restos de cultura ou na ausência de hospedeiro.
Ainda segundo o órgão federal, a medida é adotada em outras 11 unidades da Federação: Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rondônia, São Paulo e Tocantins.
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