20/04/2016 às 03:39, atualizado em 25/05/2016 às 14:45

Abertura de mostra de arte e danças típicas marcam celebração do Dia do Índio

Na noite desta terça (19), no Memorial dos Povos Indígenas, também houve demonstração de lutas de povos tradicionais brasileiros 

Por Gabriela Moll, da Agência Brasília

Representantes do povo Yalawapiti apresentam dança
Representantes do povo Yalawapiti apresentam dança. Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília

As instalações do Memorial dos Povos Indígenas, no Eixo Monumental, pareceram pequenas para a quantidade de pessoas que prestigiou a comemoração do Dia do Índio, na noite dessa terça-feira (19). A data, celebrada ontem, foi lembrada com atividades de valorização dos povos tradicionais brasileiros, como dança, lutas típicas e a inauguração da mostra Armadilhas Indígenas.

Trazido a Brasília em parceria com a Embaixada da Austrália, o grupo Descendance exibiu danças típicas de aborígenes, primeiros habitantes daquele país. Em seguida, representantes do povo yalawapiti da região do Parque Nacional do Xingu (MT) apresentaram danças e a luta corporal huka-huka.

Com quadros, fotos, objetos e instalações mesclados ao acervo do memorial e com curadoria de Bené Fonteles, a exposição Armadilhas Indígenas poderá ser vista até 19 de junho. Reúne obras de 33 artistas, como Gil Vicente, Athos Bulcão e os indígenas Ailton Krenak, do povo krenak (MG), e Daiara Tukano. “Trouxe obras que, além do grafismo tradicional, traduzem o aprendizado espiritual do meu povo”, destacou Daiara, em referência aos costumes da etnia tukano (AM), que cultua a ayahuasca, tradicional bebida dos povos da Amazônia associada a ritos.

Homenagens
Guiadas pelo diretor do memorial, Álvaro Tukano, e com representantes de povos indígenas, autoridades convidadas reuniram-se próximo à fogueira, no centro da arena onde a mostra foi inaugurada. “O índio não deve ser visto como um cidadão comum, isso seria um desrespeito à sua singularidade. Todos nos orgulhamos da influência indígena em nossa gastronomia, em nossa arte, em nossa religiosidade”, ressaltou o ministro da Cultura, Juca Ferreira. “Temos de reforçar nosso compromisso com a luta e com os direitos indígenas”, alertou o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), João Pedro Gonçalves da Costa. “Diferentemente do capital, a terra, para os povos indígenas, carrega suas almas, seus corações e sua ancestralidade”, acrescentou.

A secretária-adjunta de Cultura de Brasília, Nanan Catalão, disse que a celebração da data busca a garantia dos direitos desses povos. “Sem as terras, eles não podem perpetuar o legado cultural e todo o patrimônio indígena, tão importante para pensarmos nosso futuro.” Como forma de homenagear todas as etnias e exigir máximo respeito, a colaboradora do governo de Brasília Márcia Rollemberg, esposa do governador Rodrigo Rollemberg, destacou que o sangue nas veias de muitos brasileiros tem parte indígena. “Precisamos lutar contra os retrocessos que vemos em relação aos índios.”

Também participaram da solenidade o secretário do Meio Ambiente, André Lima, a subsecretária do Patrimônio Cultural da Secretaria de Cultura, Ione Carvalho, os embaixadores da Austrália, John Richardson, e da União Europeia, João Gomes Cravinho, e o adido cultural da Embaixada da França, Jean-Pascal Quiles. O evento marcou oficialmente a reabertura em março do memorial, que passou por reformas feitas pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap).

Oficinas
As comemorações desta noite integram a programação do Abril Indígena, que começou ontem (18), com exibições gratuitas do longa-metragem Xingu (2012), de Cao Hamburger, no Cine Brasília (106/107 Sul).

De quarta-feira (20) a 29 de abril, das 9 às 17 horas, a área do memorial que fica a céu aberto receberá oficinas de artesanato e de pintura corporal e uma feira de artesanato. O projeto Abril Indígena é iniciativa das Secretarias do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos do Distrito Federal e de Cultura.

Além de valorizar a cultura indígena, as atividades visam expor experiências dos povos residentes no DF nas áreas de saúde, educação, segurança alimentar, desenvolvimento social e direitos humanos.

Etnias no DF
Com 2.570.160 habitantes, segundo o censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Distrito Federal tem 6.128 indígenas. A maior parte (97%) está concentrada em área urbana. As três regiões administrativas com o maior número de índios são Ceilândia (13%), Planaltina (8,6%) e Samambaia (8,5%). Os dados estão em estudo da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) divulgado em 2015: População Indígena: Um Primeiro Olhar sobre o Fenômeno do Índio Urbano na Área Metropolitana de Brasília.

Ainda de acordo com o levantamento, se forem considerados os índios urbanizados, aldeados e moradores da região metropolitana de Brasília, a quantidade excede a 8 mil.

Entre as etnias do DF destacam-se: banywa, baré, bororo, fulni-ô, gavião, guajajara, guarani kaiowá, kaigang, karajá, kariri xocó, kayapó, krahô, kuikuro, pankará, pankararu, pataxó, potiguara, satere mawé, tapuya, terena, tikuna, truká, tukano, tupinambá, tuxá, wapxana, xavante, xukuru-kariri, xukuru e yalawapiti.

 

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