06/02/2017 às 15:28, atualizado em 16/02/2017 às 12:27

Estoques de leite humano no DF ficaram bem abaixo do ideal em 2016

Meta mínima mensal foi atingida somente em agosto. Neste ano, a recém-nascida Emanuelly Teixeira precisou de reforço na alimentação e contou com o banco de leite do Hospital Regional da Asa Norte

Por Amanda Martimon, da Agência Brasília

Com queda nas doações, os estoques de leite humano no Distrito Federal ficaram quase 56% abaixo do considerado ideal. Foram arrecadados 15.893,30 litros em 2016, quando o volume adequado seria de 36 mil litros. A quantidade também não alcançou a meta mínima para o ano definida pela Secretaria de Saúde, de 18 mil litros.

Emanuelly Teixeira, nascida no Hospital Regional da Asa Norte, recebeu leite humano fornecido pelo banco da unidade.

Emanuelly Teixeira, nascida no Hospital Regional da Asa Norte, recebeu leite humano fornecido pelo banco da unidade. Foto: Tony Winston/Agência Brasília

Por causa da cota baixa, a coordenadora dos Bancos de Leite da secretaria, Miriam Santos, explica que os estoques ficam restritos aos bebês internados nas unidades de terapia intensiva. “Não conseguimos distribuir para mães levarem para casa. Gostaríamos de atender, por exemplo, bebês de mães que faleceram.”

Em 2015, com 16.453 litros doados, o benefício chegou a 9.593 crianças. No ano passado, com estoque menor, foram atendidas 9.138. Longe do ideal de doações, em 2016, a meta mínima de 1,5 mil litros por mês foi alcançada apenas em agosto, quando os bancos receberam 1.539 litros.

O cenário não é diferente do restante do País, e, apesar das dificuldades, o DF é a segunda unidade da Federação que mais arrecadou leite humano entre 2006 e 2015, atrás somente de São Paulo.

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Nascida no Hospital Regional da Asa Norte em janeiro, Emanuelly Teixeira contou com a ajuda de doações nos primeiros dias de vida. Recebeu leite humano do banco de leite da unidade para complementar a alimentação. “Agora que vi a necessidade, também pretendo doar quando sair do hospital”, conta a mãe, Jaqueline Teixeira, de 19 anos.

Para que Emanuelly recebesse o reforço necessário, mães como a cabeleireira Keila Aparecida Ramos, de 29 anos, tiveram uma atitude nobre, mas fácil. “Às vezes, eu nem preciso usar bomba para tirar o leite, é tudo muito simples e não dói. Aliás, me ajuda para não ter [tooltip title=”O empedramento do leite na mãe ocorre quando o volume é maior do que o filho necessita” placement=”right”] leite empedrado [/tooltip]”, esclarece.

De 24 a 31 de janeiro, ela congelou 20 vidros com cerca de 400 mililitros (ml) cada um. A quantidade que cada mãe consegue retirar para doação também varia. No caso de Keila, a produção em alto volume foi identificada já no nascimento do primeiro dos três filhos. Desde então, ela é doadora.

“Tem mulher que consegue encher três potes de 300 ml em um dia, outras que conseguem um, mas é normal essa diferença. Toda doação é importante”, encoraja a coordenadora dos Bancos de Leite do DF, que também é médica pediátrica.

[Olho texto='”Há muitos mitos em relação à amamentação. Mas quanto mais a mulher amamenta, quanto mais ela tira leite, maior será a produção”‘ assinatura=”Miriam Santos, coordenadora dos Bancos de Leite da Secretaria de Saúde” esquerda_direita_centro=”direita”]

Como o cálculo da secretaria é que 300 mililitros são suficientes para suprir até dez bebês em um único dia, a quantia doada por Keila — aproximadamente 8 litros — pode alimentar 266 recém-nascidos pelo mesmo período. “Não tem preço quando a gente sabe que há tantas mães que gostariam e não conseguem ou não podem amamentar. É uma satisfação ajudar”, avalia. Além disso, ela amamenta normalmente o filho Levi Ramos, de 1 mês.

Entre as dúvidas para doar, Miriam Santos destaca que existe receio quanto à quantidade para amamentar e doar. “Há muitos mitos em relação à amamentação. Mas quanto mais a mulher amamenta, quanto mais ela tira leite, maior será a produção”, reforça.

O número de doadoras caiu de 5.836 em 2015 para 5.381 em 2016. Segundo a coordenadora, a literatura médica estima em 30% a quantidade de mulheres que produzem mais leite do que o necessário para o bebê. Apesar disso, em 2015, levando em consideração os cerca de 58 mil nascimentos no DF, apenas 10% das mães doaram leite.

doação leite materno humano

Como doar leite humano no DF

O procedimento para doar é simples, e o material é buscado em casa pelo Corpo de Bombeiros. Basta ligar no 160, opção 4, e agendar. A corporação atua na coleta de segunda a sexta-feira, pela manhã.

O Distrito Federal conta com dez bancos de leite próprios da Secretaria de Saúde, três em hospitais privados e dois do Sistema Único de Saúde (SUS).

O transporte feito pelos bombeiros é importante porque o leite — que deve ser armazenado congelado pelas doadoras por até 10 dias — tem de chegar na mesma condição aos bancos. Para isso, eles contam com caixa térmica apropriada, gelo reciclado e termômetro.

O portal Amamenta Brasília contém mais informações sobre como fazer a higienização correta para a retirada do leite e o armazenamento. Um kit com pote, touca e máscara pode ser solicitado. Os potes também podem ser doados, mas têm de ser de vidro com tampa de plástico.

Quando as doações chegam aos bancos de leite, passam por diversas análises dentro do processo de pasteurização. Assim, é possível identificar a qualidade e a concentração, se há menos ou mais gordura, por exemplo. Dessa maneira, a distribuição aos bebês é feita de acordo com o que cada um mais precisa.

O leite humano tem na composição a quantidade ideal de carboidrato, de proteína e de gordura para um bebê. Além disso, contém fatores de defesa, como anticorpos maternos, para protegê-lo. Crianças que não recebem o leite humano ficam mais suscetíveis a diabetes, hipertensão e outras doenças.

Doações para os Bancos de Leite Humano do DF

Pedido de coleta em domicílio pelo telefone 160, opção 4

Mais informações pelo site Amamenta Brasília

Edição: Marina Mercante