06/02/2017 às 18:13, atualizado em 07/02/2017 às 14:54

Projeto estimula equidade de gênero na rede pública de ensino

Convênio internacional assinado no Palácio do Buriti amplia o Mulheres Inspiradoras, programa que ensina noções de direitos femininos nas escolas de Brasília

Por Marina Nery e Vinícius Brandão, da Agência Brasília

O governador Rodrigo Rollemberg assinou, nesta segunda-feira (6), acordo de cooperação internacional para ampliação do projeto Mulheres Inspiradoras, em solenidade no Palácio do Buriti. O Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) investirá US$ 20 mil, e a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) será gestora do recurso.

O diretor-representante do Banco de Desenvolvimento da América Latina, Victor Rico; o secretário geral da Organização de Estados Íbero-americanos, Paulo Speller; e o governador Rodrigo Rollemberg.

O diretor-representante do Banco de Desenvolvimento da América Latina, Victor Rico; o secretário-geral da Organização de Estados Ibero-americanos, Paulo Speller; e o governador Rodrigo Rollemberg. Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília

Com o montante, 15 escolas em sete regiões administrativas poderão participar da iniciativa, que oferece aos alunos da rede pública de ensino reflexões sobre equidade de gênero, representação feminina na mídia e violência contra a mulher.

O projeto será ampliado por meio da capacitação de 30 professores, que atuarão em sete regiões mapeadas pelo programa Viva Brasília consideradas de vulnerabilidade social ou de alta criminalidade. A expectativa é beneficiar cerca de 1,55 mil alunos de escolas públicas das regiões de Ceilândia, da Estrutural, de Planaltina, do Plano Piloto, de Samambaia, de Santa Maria e de Taguatinga.

Segundo a professora Gina Vieira, de 45 anos, criadora do programa, o investimento é importante, embora modesto. “Muitas escolas contam com um orçamento limitado, e projetos como esse não são tratados como prioridade”, conta.

[Olho texto='”Em pleno século 21, ainda sofremos muito com a violência de gênero e com a subestimação do papel da mulher”‘ assinatura=”Rodrigo Rollemberg, governador de Brasília” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

Para Rollemberg, a ação tem potencial para produzir mudanças. “É muito interessante como o papel de um educador é transformador na vida das pessoas e na sociedade”, observou ele, na cerimônia. “Em pleno século 21, ainda sofremos muito com a violência de gênero e com a subestimação do papel da mulher.”

Também presente à solenidade, a colaboradora do governo Márcia Rollemberg chamou os homens a participar dessa mudança. “Eles têm papel importantíssimo nisso. Principalmente aqueles que estão verdadeiramente ao nosso lado”, disse.

Apoio internacional ao projeto Mulheres Inspiradoras

Em evento do programa Brasília Cidade Internacional, a oportunidade de ampliação do Mulheres Inspiradoras se tornou possível. A Assessoria Internacional do governo atua para que projetos dessa dimensão tenham visibilidade.

O diretor do CAF no Brasil, Victor Rico, avaliou que a tecnologia social dessa iniciativa é sofisticada e pode servir para muitas outras redes de ensino no futuro. “Promover a valorização do protagonismo feminino junto a estudantes é uma forma de trabalhar, desde cedo, a igualdade de direitos e o convívio sadio entre meninos e meninas”, enfatizou.

Testemunha do documento, o secretário de Educação, Júlio Gregório Filho, também destacou o valor do projeto. “Pequenas coisas que professores como a Gina fazem propiciam aos alunos discutir a questão de gênero e dar a todos a possibilidade de trabalhar e de sermos iguais.”

O edital para seleção dos participantes deve ser lançado ainda no primeiro semestre de 2017. Serão escolhidos dois professores por escola, após avaliação curricular. A banca avaliadora será composta por integrantes das instituições que assinaram o tratado e do Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação, da Secretaria de Educação.

Como surgiu o Mulheres Inspiradoras

Professora da rede pública de ensino há mais de 26 anos, Gina se sentiu desmotivada ao perceber a dificuldade de interação entre docentes e alunos. Pensando em desistir da profissão, percebeu que o modelo educacional aplicado a jovens deveria ser atualizado para despertar o interesse do público.

“Estamos lidando com a geração de nativos digitais – pessoas que já nasceram no mundo tecnológico. Então é preciso utilizar a tecnologia para dialogar, pois conflitos iniciados na internet podem atrapalhar o desenvolvimento educacional”, relata. Segundo ela, um exemplo recorrente é o desrespeito e a sexualização da mulher.

[Olho texto='”Promover a valorização do protagonismo feminino junto a estudantes é uma forma de trabalhar, desde cedo, a igualdade de direitos e o convívio sadio entre meninos e meninas”‘ assinatura=”Victor Rico, diretor do CAF no Brasil” esquerda_direita_centro=”direita”]

Decidida a mudar esse cenário, em 2014 a professora optou por trabalhar na parte de diversidade de projetos do Centro de Ensino Fundamental 12 de Ceilândia. Foi apoiada por Vitória Régia, coordenadora pedagógica da instituição. “Recebi o incentivo que precisava para desenvolver temas que mudariam a forma de pensar daqueles jovens e melhoraria a qualidade do ensino”.

Gina conseguiu estreitar o diálogo com os alunos e alinhá-lo a práticas pedagógicas com a criação de uma rede social. Depois, passou a incentivar a leitura de obras escritas por mulheres que foram líderes, tinham histórias de superação ou efetuaram grandes feitos, como Anne Frank, Cora Coralina e Malala Yousafzai. Nascia o Mulheres Inspiradoras.

Após ampliar os conhecimentos dos alunos, a mestra os incumbiu de entrevistar e produzir matéria com uma mulher de seu vínculo social que julgassem uma inspiração. “A maioria dos alunos escolheu as mães, avós e bisavós como personagem. Eles descobriram histórias e começaram a valorizar o papel da mulher. Pois ouviram relatos de dificuldades, abusos, violência e discriminação”.

Os 95 textos, escritos em 2014 e 2015, resultaram na criação de um livro, com título homônimo. A obra foi organizada pelas duas professoras e lançada em 2016, no Dia da Mulher (8 de março). O modelo também serviu de inspiração para outras instituições. Palestras foram feitas em escolas públicas, ministérios, defensorias e universidades.

No evento, o livro foi entregue às autoridades presentes por seis alunos do Centro de Ensino Médio 9, de Ceilândia.

O projeto recebeu várias premiações, entre as quais o 4º Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos da Presidência da República (2014); o 8º Prêmio Professoras do Brasil, do Ministério da Educação (2014); e o Primeiro Prêmio Ibero-Americano de Educação em Direitos Humanos da OEI (2015). As honrarias renderam mais de R$ 100 mil, investidos na escola de origem.

Edição: Vannildo Mendes