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27/06/2017 às 09:01, atualizado em 27/06/2017 às 12:51
Christopher e Wanda se conheceram no Creas Diversidade, centro de referência especializado do governo de Brasília. No local eles têm acesso a atendimento jurídico, psicológico e de assistência social
Christopher João dos Santos Souza, de 22 anos, homem trans, e Wanda Marques Araújo, de 26 anos, mulher trans, se conheceram no Centro de Referência Especializado da Diversidade Sexual, Religiosa e Racial (Creas Diversidade). O casal está preparando os papéis para o casamento.
Chegar a esse ponto foi um longo caminho, possível apenas, segundo eles, graças ao apoio psicossocial do centro de referência ligado à Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos.
Christopher e Wanda recebem atendimento há mais de um ano no local. Quando ele chegou, estava passando por um processo de automutilação e dificuldades emocionais em virtude das violências que sofreu após ter assumido sua identidade de gênero.
Wanda veio de São João d’Aliança (GO), mas, antes de morar em Brasília, já frequentava o Creas em busca de informações sobre a retificação do nome e sobre atendimento médico para uso de hormônios.
Com dois assistentes sociais, dois agentes sociais, dois psicólogos, um educador social, um agente administrativo e um motorista, o Creas Diversidade funciona na 615 Sul e recebe casos de vulnerabilidade de pessoas que sofreram discriminação étnico-racial, sexual ou religiosa.
O centro oferece ajuda jurídica, psicológica e de assistência social. No local, Christopher e Wanda conseguiram trocar os nomes de nascimento pelos nomes sociais em documentos como carteira de identidade, CPF e título de eleitor.
O atendimento jurídico do Creas conta com a parceria da Defensoria Pública do Distrito Federal. O órgão disponibiliza dois defensores que prestam atendimento a cada 15 dias.
A estudante de administração Rubi Martins dos Santos, de 29 anos, mulher trans, é uma das pessoas atendidas pela defensoria pública. Ela conta que se sentiu muito amparada no centro de assistência e que tirou dúvidas sobre documentos.
Rubi também recebe atendimento psicológico e diz se sentir mais confiante para lidar com o preconceito sofrido diariamente. “Vejo aqui como um porto seguro. Parece que eles entendem nosso problema.”
Esse amparo é um dos pontos fortes do Creas, acredita a assistente social Mirella Martins Oliveira, que trabalha no centro desde 2013 e é uma das pessoas responsáveis pelo primeiro contato com quem chega em busca de atendimento. “De fato, a gente procura dar esse acolhimento reconhecendo aqui como um espaço de direito deles. Aqui é a porta de entrada, a partir disso eles vão se sentir protegidos”, diz.
Outros serviços do Creas Diversidade são:
Christopher e Wanda, por exemplo, participaram de uma oficina de grafite em janeiro deste ano. Depois disso, criaram o grupo de grafiteiros Trans – segundo eles, o primeiro do Brasil.
Um dos grupos de apoio é o de mães. O Creas oferece esse atendimento em parceria com a ONG Mães pela Diversidade. Christopher conta que, quando a mãe dele começou a participar, a relação entre os dois melhorou muito. “Quando minha mãe disse ‘filho’ pela primeira vez, foi uma vitória.”
O Creas Diversidade registra atendimentos para casos de [tooltip title=”preconceito contra a diversidade sexual (lésbicas, gays e bissexuais) ou de identidade de gênero (travestis, transexuais, intersexuais, transgêneros)” placement=”right”] homofobia [/tooltip], [tooltip title=”preconceito contra mulheres lésbicas como indivíduos, como um casal ou como um grupo social” placement=”right”] lesbofobia [/tooltip], [tooltip title=”preconceito contra pessoas e grupos com identidades de gênero (travestis, transgêneros, transexuais), também denominados população trans” placement=”right”] transfobia [/tooltip] e [tooltip title=”discriminação contra bissexualidade ou pessoa LGBT que é bissexual ou percebe ser bissexual” placement=”right”] bifobia [/tooltip].
[Olho texto='”O nosso trabalho é trazer o exercício pleno da cidadania para que essas pessoas possam acessar todos os equipamentos públicos e seus direitos”‘ assinatura=”Ana Carolina Silverio, coordenadora do Creas Diversidade” esquerda_direita_centro=”esquerda”]
De acordo com a coordenadora do centro, Ana Carolina Silverio, o número de atendimentos relacionados à transfobia é o mais alto (veja arte acima), porque essa parcela é a mais marginalizada.
Segundo ela, gays e lésbicas se tornam “invisíveis” se quiserem. Já transexuais ou travestis, “por serem identificados logo de cara, sofrem mais com violências”.
“O nosso trabalho é trazer o exercício pleno da cidadania para que essas pessoas possam acessar todos os equipamentos públicos e seus direitos”, enfatiza Ana Carolina.
Em solenidade na sexta-feira (23), Rodrigo Rollemberg assinou o decreto que regulamenta a lei anti-homofobia (Lei nº 2.615, de 2000), de autoria da então deputada distrital Maninha e de coautoria do governador quando ele era parlamentar.
Também foi assinado decreto de criação do Conselho Distrital de Promoção dos Direitos Humanos e Cidadania de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.
Nesta segunda-feira, a Câmara Legislativa editou decreto revogando a regulamentação do Executivo. O governo de Brasília vai recorrer da decisão.
Atendimento no Creas Diversidade
614/615 Sul, Lote 104, Bloco G, L2 Sul
De segunda a sexta-feira
Das 8 horas ao meio-dia e das 14 às 18 horas
Informações: (61) 3224-4898 e (61) 3322-4980
Edição: Marina Mercante