28/06/2017 às 08:58, atualizado em 28/06/2017 às 17:11

Alunos da EJA passam por desafios para se manter na escola

O animador de eventos Genilson Lopes optou pela modalidade de ensino a distância pela flexibilidade de horários. Aos 40 anos, ele sonha em se especializar em marketing de entretenimento

Por Gabriela Moll, da Agência Brasília

Aos 3 anos de idade, Genilson Lopes recebeu do irmão o apelido que levaria para a vida profissional. “Gostei e sou chamado assim desde sempre”, conta o morador de Vicente Pires, conhecido como Palhaço Psiu.

O ofício de animador começou cedo, aos 10 anos, como brincadeira, e, desde os 20 anos, como forma de sustento. Como precisava trabalhar para sobreviver, ele largou a escola na 5ª série do ensino fundamental, quando ainda vivia no orfanato em que morou até completar 18 anos.

Genilson Lopes, de 40 anos, cursa a EJA na modalidade a distância. Sonha em fazer faculdade e se especializar em marketing de entretenimento.

Genilson Lopes, de 40 anos, cursa a EJA na modalidade a distância. Sonha em fazer faculdade e se especializar em marketing de entretenimento. Foto: Andre Borges/Agência Brasília

Hoje, aos 40 anos, Genilson tem o sonho de levar o talento para a diversão um pouco mais além. Ele quer fazer faculdade e se especializar em marketing de entretenimento. “Assim, agrego meu conhecimento como palhaço à vontade de crescer”, planeja.

Para conquistar o sonho da faculdade, em 2015, o animador de festas ingressou na educação de jovens e adultos (EJA) pela modalidade do ensino a distância.

Ele está na segunda etapa do ensino médio, equivalente ao segundo ano no ensino regular. “É difícil estar novamente em sala de aula, temos receio, medo de passarmos por constrangimentos por sermos mais velhos”, confessa.

[Olho texto=”“A caminhada é árdua, mas nunca é tarde para aprender”” assinatura=”Genilson Lopes, aluno da segunda etapa do terceiro segmento da educação de jovens e adultos” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

Além da força de vontade e do incentivo da namorada, o estudante conta com outro apoio fundamental para continuar. “Os professores são muito atenciosos, sempre nos motivam a não desistir quando bate a preguiça ou quando estamos desanimados. É isso o que nos fortalece”, resume.

Na educação a distância, os docentes estão disponíveis para tirar dúvidas por e-mail e, no caso de complicações, pessoalmente, em monitoria diária que ocorre no Centro de Estudos Supletivos Asa Sul (Setor de Grandes Áreas Sul, Quadra 602).

A unidade da Asa Sul é a única das 122 escolas que oferecem educação de jovens e adultos no DF que também tem ensino a distância. Atualmente, 2,1 mil pessoas são atendidas na modalidade — 800 no fundamental e 1,3 mil no médio.

“A caminhada é árdua, mas nunca é tarde para aprender”, acredita o aluno. A previsão é que ele termine o ensino médio no primeiro semestre de 2018.

Estudantes da EJA presencial conciliam o trabalho e a escola

A dificuldade de conciliar estudos e trabalho também faz parte da rotina da empregada doméstica Maria Luzia de Deus, aluna do EJA na Escola Classe 16 de Sobradinho.

A dificuldade de conciliar estudos e trabalho também faz parte da rotina da empregada doméstica Maria Luzia de Deus, aluna do EJA na Escola Classe 16 de Sobradinho. Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília

O ensino a distância foi determinante para Genilson pela flexibilidade dos horários, que lhe permite dedicar-se aos estudos e à profissão. “Além do que, acho mais simples do que estar em sala de aula”, elenca o estudante, que também trabalha como motorista durante a semana.

A dificuldade de conciliar estudos e trabalho também faz parte da rotina da empregada doméstica Maria Luzia de Deus. Aos 48 anos, ela decidiu retomar os estudos interrompidos na 4ª série do ensino fundamental pela vontade de aprender coisas novas. “Via todo mundo estudando e eu ficava intrigada” conta.

Em 2017, ela ingressou na terceira etapa do primeiro segmento na Escola Classe 16 de Sobradinho, onde estuda das 19 às 22 horas. Desde que entrou na unidade, a moradora da região de Nova Digneia abriu mão de outros afazeres e passou a dormir mais tarde, mas continua acordando no mesmo horário para ir ao trabalho, às 5 horas. O marido estudou até o segundo ano do ensino médio e está desempregado.

“Depois da aula faço os deveres e arrumo as coisas. É puxado, mas vale a pena”, confessa Maria Luzia, que de vez em quando pede ajuda para os três filhos para concluir as tarefas.

[Olho texto=”“As dificuldades de aprendizado são exatamente as mesmas das crianças, o que muda é a maturidade: o que levamos uma semana para ensinar para uma criança, eles aprendem no mesmo dia”” assinatura=”Valdines Barbosa, coordenadora pedagógica do EJA na Escola Classe 16 de Sobradinho” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

Os desafios enfrentados por ela são comuns aos estudantes dessa faixa etária, como explica a professora Gizely Ribeiro Porto. “Eles têm problemas inerentes à vida adulta, como administrar a casa, filhos, coisas para resolver no trabalho. Levamos tudo isso em conta”, avalia a professora das etapas iniciais do primeiro segmento.

Como o programa pedagógico para jovens e adultos prevê esse tipo de obstáculo, nenhum aluno reprova por falta. “Se o estudante tiver aptidão no nível de aprendizagem, ele pode passar para a próxima etapa”, acrescenta Gizely.

Ler receitas e aprender as medidas são os motivos que levaram o maranhense Cláudio Roberto de Alcântara, de 33 anos, a assistir às aulas da professora Gizely. Funcionário da escola desde 2015, o auxiliar de serviços gerais sonha em ser cozinheiro inspirado pela mãe, que era merendeira.

Quando tem um tempo no trabalho na unidade de Sobradinho, ele corre para aprofundar o conteúdo com a educadora. “O que mais gosto de fazer é ditado”, conta o estudante. Ele largou a escola aos 13 anos para trabalhar.

Para prender a atenção dos alunos, a professora de ciências Aline Andrade Rosa, que dá aula para os estudantes da quinta à sétima etapa do segundo segmento, gosta de levar slides com figuras e atividades lúdicas. “Eles são mais interessados, estão aqui porque querem muito”, confirma.

Para prender a atenção dos alunos, a professora de ciências na Escola Classe 16 de Sobradinho Aline Andrade Rosa gosta de levar slides com figuras e atividades lúdicas.

Para prender a atenção dos alunos, a professora de ciências na Escola Classe 16 de Sobradinho Aline Andrade Rosa gosta de levar slides com figuras e atividades lúdicas. Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília

A coordenadora pedagógica do primeiro segmento na unidade de Sobradinho, Valdinês Barbosa, ressalta o interesse como característica principal dos estudantes dessa faixa etária. “As dificuldades de aprendizado são exatamente as mesmas das crianças, o que muda é a maturidade: o que levamos uma semana para ensinar para uma criança, eles aprendem no mesmo dia.”

Ela conta que a maioria vem direto do trabalho e que fatores como a rotina de trabalho e o cansaço aumentam os atrasos e a evasão dos estudantes. Para tentar evitar os casos de evasão, a coordenação da escola trabalha com palestras motivacionais e com a oferta de cursos profissionalizantes.

Educação de jovens e adultos existe no DF desde 1996

A educação de jovens e adultos existe no DF desde 1996. A modalidade foi criada para atender quem quer retomar os estudos e reconhecer a educação como direito básico. A idade mínima para ingressar no fundamental é de 15 anos. Para o nível médio, o estudante deve ter pelo menos 18.

O ensino é dividido em três segmentos. O primeiro e o segundo são formados por quatro etapas, correspondente aos anos iniciais (alfabetização) e finais do ensino fundamental, respectivamente. O terceiro segmento é composto por três etapas, referentes ao ensino médio. Em 2016, 50.963 alunos foram matriculados na EJA.

Edição: Paula Oliveira