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09/09/2017 às 09:36, atualizado em 11/09/2017 às 11:56
Vencedor da edição de 2014, o diretor Adirley Queirós aposta em obra que retrata o momento político brasileiro. Estreia nacional de Era uma Vez Brasília ocorre em 22 de setembro
Uma nave aterrissa na capital federal. A bordo, um agente intergaláctico que recebeu uma missão peculiar em 1959. Ele devia descer à Terra e matar o presidente Juscelino Kubitschek no dia da inauguração de Brasília.
Perdido no espaço por anos, o protagonista dessa história acaba caindo em Ceilândia, em 2016. Desnorteado, agora ele se encarrega da tarefa de “acabar com os monstros que tomaram o poder no Brasil”, como define o diretor Adirley Queirós, a mente por trás dessa ideia.
Aos 47 anos — 40 vividos em Ceilândia —, o cineasta levará um retrato do momento político brasileiro à telona do Cine Brasília (106/107 Sul) durante o 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Representante do DF na mostra competitiva, Era uma Vez Brasília trabalha a perspectiva política do País desde 2015.
Em cenários noturnos, com imagens documentadas das manifestações populares de 2016, o diretor apresenta uma construção que não segue uma narrativa temporal, mas com a realidade atual como base. “O Brasil pós-golpe vive um processo nebuloso, uma atmosfera apocalíptica. É isso que queremos materializar”, defende o goiano radicado no DF desde 1975.
De acordo com ele, o cenário sombrio onde atua o elenco é uma forma de expressar a ideia de que o sol nunca mais nasceu no País. “Temos clareza sobre o movimento que ocorre no Brasil, em que os direitos das classes populares e da periferia são ceifados”, argumenta.
A característica política da obra, no entanto, não tem pretensão de ser militante nem representa movimentos organizados ou de esquerda, como explica o diretor. “O que queremos é contar a história do contexto no qual estamos inseridos.”
[Olho texto='”O Festival de Brasília se distingue dos outros porque abre uma janela política, tem potência de agregar conhecimento e de se transformar em um espaço de reflexão”‘ assinatura=”Adirley Queirós, cineasta” esquerda_direita_centro=”esquerda”]
As gravações, que começaram em 2015, e a produção contaram com recursos de R$ 350 mil do Fundo de Apoio à Cultura (FAC).
A linha de documentário fabular defendida por Queirós é um modelo de construção da realidade por meio de personagens ficcionais.
Eles são interpretados por atores de Ceilândia: Wellington Abreu, Andreia Vieira, Marquim do Tropa e Franklin Ferreira. “Propus a eles que criassem uma história para os personagens de forma livre”, destaca o diretor sobre o processo de criação.
Será a terceira vez que Adirley Queirós disputa o Troféu Candango no Festival de Brasília. Em 2005, ele levou os prêmios principais dos júris oficial e popular com o curta Rap, o canto da Ceilândia.
Em 2014, ele venceu na categoria principal do 47º Festival de Brasília com Branco Sai, Preto Fica (2014), seu segundo longa-metragem.
Veterano na competição, o cineasta considera a mostra local a mais importante do País. “O Festival de Brasília se distingue dos outros porque abre uma janela política, tem potência de agregar conhecimento e de se transformar em um espaço de reflexão.”
A estreia mundial de Era uma vez Brasília ocorreu no Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça, onde recebeu menção especial do júri. No Brasil, a primeira exibição será em 22 de setembro, às 21 horas, no Festival de Brasília.
Antes, será exibido outro representante do DF na telona pela competitiva, na categoria curta-metragem: Carneiro de Ouro, de Dácia Ibiapina, a quem o diretor se refere como uma das melhores documentaristas do País.
[Numeralha titulo_grande=”22 de setembro” texto=”Exibição do longa e do curta-metragem do DF na mostra competitiva, às 21 horas” esquerda_direita_centro=”direita”]
O filme, que também concorre na Mostra Brasília, é um retrato sobre a obra do piauiense Dedé Rodrigues, realizador de audiovisual que produz com poucos recursos e atrai multidões de espectadores em Picos, no sertão do Piauí.
Professora e pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), Dácia orientou o trabalho de conclusão de curso de Adirley, em 2005. Atualmente, a parceria dos cineastas ocorre por meio da participação de ambos no núcleo criativo do coletivo Ceicine, responsável pela produção executiva da obra.
Ceilândia é o palco de grande parte da produção cinematográfica de Queirós — composta por oito curtas, um média e três longas-metragens, além de séries para TV.
Em A cidade é uma só (2012), ele apresenta a dimensão histórica da região conhecida como Campanha de Erradicação de Invasões (CEI) na década de 1970. A reflexão é sobre o processo de exclusão territorial e social que ocorreu nos arredores de Brasília.
Já no aclamado Branco Sai, Preto Fica (2014) o diretor conta a história do Quarentão, antigo centro de atividades onde havia bailes black na região administrativa, o qual ele define como “espaço catalizador da cultura local”.
Além de ter levado o Troféu Candango em Brasília, o filme foi premiado em Mar del Plata (Argentina), Ficunam (México) e Viennale (Áustria).
No momento, o cineasta trabalha no longa Mato Seco em Chamas, em fase de pré-produção. A ficção, que será produzida com recursos da Agência Nacional do Cinema (Ancine), conta a história de cinco mulheres de Ceilândia que descobrem petróleo no solo da região. “É uma alucinação”, resume o idealizador.
As atividades do 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro ocorrem de 15 a 24 de setembro e estarão espalhadas por alguns pontos do Distrito Federal.
O evento tomará não só o Cine Brasília (106/107 Sul), palco tradicional das mostras, mas passará por outras 11 regiões administrativas.
Os nove longas-metragens e 12 curtas concorrentes ao Troféu Candango e a R$ 340 mil em cachês de seleção serão exibidos gratuitamente no:
Moradores dessas localidades também poderão aproveitar o Festivalzinho, voltado ao público infantil.
A programação completa inclui também: