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20/03/2019 às 11:08, atualizado em 20/03/2019 às 18:05
Com quase 60 anos de fundação, capital registra mais da metade da população nascida no DF
Prestes a completar 59 anos, a capital federal já celebra gerações nascidas em Brasília. Os brasilienses são a maioria na população do Distrito Federal. A Pesquisa Distrital de Domicílios (PDAD) 2018, divulgada nesta quarta-feira (20) pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), mostra que 55,3% da população nasceu nas próprias 31 regiões administrativas (RAs) do DF. O estudo aponta que a população total do DF, na área urbana, era de 2.904.030 pessoas em 2018.
Na casa da aposentada Júnia Costa, 56 anos, por exemplo, são três gerações de brasilienses: ela, as duas filhas e a neta. Júnia nasceu em 1963, três anos após a inauguração da capital, e formou uma família genuinamente brasiliense: teve duas filhas, Pollyana e Salma – de 31 e 17 anos, respectivamente –, e a neta, Maria Júlia, 5 anos. “Antigamente, as pessoas me diziam que eu era a primeira pessoa nascida aqui que conheciam”, conta. “Hoje já é mais comum. ”
A PDAD dividiu o DF em quatro grupos de regiões RAs, definidos a partir do rendimento médio de cada localidade. O grupo 1, de alta renda, é composto por Plano Piloto, Jardim Botânico, Lago Norte, Lago Sul, Park Way e Sudoeste/Octogonal. No grupo 2, de média-alta renda, estão Águas Claras, Candangolândia, Cruzeiro, Gama, Guará, Núcleo Bandeirante, Sobradinho, Sobradinho II, Taguatinga e Vicente Pires. O grupo 3, considerado média-baixa renda, é formado por Brazlândia, Ceilândia, Planaltina, Riacho Fundo, Riacho Fundo II, SIA, Samambaia, Santa Maria e São Sebastião. No grupo 4, de baixa renda, estão Fercal, Itapoã, Paranoá, Recanto das Emas, SCIA – Estrutural e Varjão.
A proporção de brasilienses é ainda maior nas cidades de média (alta e baixa) e baixa renda. No grupo 2, que reúne 922 mil pessoas com renda média domiciliar de R$ 7.299, o percentual de nascidos no DF é de 55,7% e de 55,9% no grupo 4, formado por 307 mil moradores com renda média domiciliar de R$ 2.463. Mas esse índice chega a 58,6% nas cidades do grupo 3, onde estão reunidas 1,2 milhões de pessoas e a renda média domiciliar é de R$ 3.087.
Entre os que moram no Plano Piloto, Jardim Botânico, Lago Norte, Lago Sul, Park Way e Sudoeste/Octogonal, cidades do grupo de alta renda com população de 401 mil pessoas e renda média domiciliar de R$ 15.662, os nascidos fora do DF representam 56,5% da população.
Mineiros na ponta
A maioria dos que vieram de outro estado para o DF nasceu em Minas Gerais (16,1%), Goiás (12,2%) e Bahia (11,1%). A mãe de Júnia, Geny Costa, 79 nos, é do interior de Goiás. Chegou de Nerópolis, em 1958, para acompanhar o pai, que veio trabalhar na construção da nova capital. Aqui ela conheceu Baldur Costa, com quem se casou e teve dois filhos. Baldur era funcionário do Senado Federal e veio transferido do Rio de Janeiro.
A PDAD também mostra que 42,8% dos que chegaram de outros estados para o DF disseram ter se mudado para acompanhar parentes. Na classe mais alta, onde os de fora são maioria, 39,4% relataram que vieram ao DF por causa de trabalho. No Grupo 4, 25,3% da população veio para o DF procurar trabalho.
[Numeralha titulo_grande=”2.904.030″ texto=” Número de habitantes da área urbana do DF, em 2018″ esquerda_direita_centro=”esquerda”]
Apaixonadas por Brasília, mãe e filhas dizem que não morariam em outra cidade. “É uma cidade maravilhosa, boa para criar filhos, você ainda consegue ir almoçar em casa, buscar e deixar os filhos na escola porque não tem tanto trânsito como nas outras capitais”, exalta Júnia. “Até gosto de passear em outras cidades, mas morar, nunca.” Sua caçula, Salma, completa: “Um professor da faculdade veio do Rio há três semanas e eu falei pra ele que Brasília é a melhor cidade do mundo.”
Desigualdade social
A alfabetização dos moradores do DF é de quase 100%. Um total de 96,8% da população com cinco anos ou mais de idade declararam saber ler e escrever, taxa que se mantém estável nas últimas pesquisas. Além disso, 49,1% das pessoas em idade escolar (entre quatro e 24 anos) responderam que frequentam escola pública.
Os dados também mostram que a desigualdade social persiste no DF. Nas cidades de alta renda, 76,8% da população com mais de 25 anos têm curso superior completo – percentual que cai para 9,9% no grupo de baixa renda. Nessas cidades (Fercal, Itapoã, Paranoá, Recanto das Emas, SCIA – Estrutural e Varjão), a maioria da população (33,9%) tem ensino fundamental incompleto, seguido (32,9%) de médio completo.
A escolaridade se reflete na remuneração. A maioria dos moradores do Lago Sul (30,8%) ganha salário bruto entre R$ 4.470 e R$ 9.540 (cinco a dez salários mínimos), enquanto a maior parte (54,8%) de trabalhadores da Estrutural ganha entre R$ 954 e R$ 1.908 (um a dois salários). Já o rendimento domiciliar mensal da maioria dos moradores do Plano Piloto (29,7%) é de mais de 20 salários mínimos (R$ 19.080), valor pelo menos seis vezes superior ao de um grupo familiar do Varjão, que varia entre R$1.908 e R$ 4.470 – renda domiciliar de 40,7% das famílias da cidade.
[Olho texto=”“Estamos criando um novo ambiente de negócios no Distrito Federal, com incentivos aos empreendedores e aos empresários”” assinatura=”Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal” esquerda_direita_centro=”direita”]
Na média, os moradores do DF ganham salário bruto de R$ 3.459,22. Já a renda domiciliar estimada foi de R$ 6.231, montante que resulta em um valor médio por pessoa de R$ 2.526,8 (cada domicílio tem uma média de 3,1 moradores). O valor do salário mínimo considerado foi de R$ 954.
A PDAD também pesquisou se os moradores do DF estão cobertos por um plano de saúde. Enquanto 81,1% da população do grupo 1 têm esse serviço, 86,7% dos moradores das cidades de baixa renda não o possuem. A quantidade de moradores do DF que dependem prioritariamente de hospitais públicos também é expressiva nos grupos de média-alta e média-baixa renda: 51,1% e 81,4% respectivamente.
Segundo o governador Ibaneis Rocha, o objetivo do novo governo é exatamente buscar a redução dessas desigualdades. “Estamos começando pela saúde pública, que está recebendo atenção integral do governo, e pela geração de emprego e renda”, informa. “Para atingir esse objetivo, estamos criando um novo ambiente de negócios no Distrito Federal, com incentivos aos empreendedores e aos empresários. O DF ficou abandonado por muito tempo, mas o processo de recuperação já começou. ”
Planejamento Urbano
A PDAD é realizada a cada dois anos pela Codeplan e oferece relevantes dados e informações atualizadas sobre o Distrito Federal e sobre suas RAs. A pesquisa é feita por critério de amostragem, com entrevistas em 21.908 domicílios localizados na área urbana do Distrito Federal. Investigam-se aspectos demográficos, migração, condições sociais e econômicas, situações de trabalho e renda, características do domicílio, condições de infraestrutura urbana, entre outras informações, com o objetivo de oferecer um diagnóstico detalhado da situação atual da cidade.
O presidente da Codeplan, Jean Lima, explica que o objetivo da PDAD é subsidiar e orientar o planejamento governamental, o acompanhamento e o monitoramento da dinâmica do desenvolvimento socioeconômico do DF. “Estamos divulgando os dados no início da gestão justamente para o gestor do GDF pensar em políticas públicas articuladas para o território”, explica. “Precisamos dar atenção para as desigualdades. ”
Segundo ele, um dado que o governo vê com atenção é a falta de creches públicas. Enquanto 40,3% das crianças de até três anos frequentam a escola nas cidades de alta renda, mais de 83% das que vivem em cidades de baixa renda não estão na escola. “Isso mostra a falta de creches para a população que não tem condições de pagar uma mensalidade”, analisa Lima.