17/06/2019 às 10:32, atualizado em 21/10/2019 às 12:28

Desafios da Saúde: como ampliar e descentralizar o atendimento à população?

Plano Estratégico do GDF quer universalizar atenção primária e reduzir filas, além ampliar o número de agentes comunitários e criar uma central de laudos com ênfase em exames complementares básicos

Por Ian Ferraz, da Agência Brasília

A atenção à saúde é um dos pontos centrais do Plano Estratégico do DF, conjunto de metas e ações a curto, médio e longo prazo apresentado recentemente pelo Executivo. Um dos gargalos que o GDF  pretende resolver nessa área é ampliar a atenção primária, além de descentralizar os serviços para a população.

Essas situações, por sinal, se encaixam no caso das mães Leiliane Silva Barbosa, 31 anos, e Evellen Pires Barbosa, 25 anos. Ambas foram atendidas no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), na Asa Sul, distante das cidades onde residem.

Moradora de Ceilândia, Leiliane Barbosa aguarda a chegada de Isabella. Com oito meses de gestação, a técnica em radiologia foi ao Hmib se consultar. Ela aproveitou o fato de trabalhar na Asa Sul para receber atendimento. O pré-natal, no entanto, ela tem feito em Ceilândia e elogia o serviço.

Leiliane Barbosa aguarda a chegada de Isabella: consulta no Hmib pelo fato de trabalhar perto do hospital


“A atenção básica está boa e vejo que o atendimento está melhorando. Na Unidade Básica de Saúde (UBS) lá em Ceilândia, a partir da reformulação, melhorou muito. Acho importante descentralizar: as pessoas serem socorridas mais perto de casa”, afirma Leiliane.

Em outra ala do Hmib, Evellen Pires Barbosa cuidava da pequena Helena, nascida na quinta-feira (13). O deslocamento de Luziânia para o Plano Piloto foi uma queixa da mãe, principalmente pela falta de amparo no Entorno. “Fiz o pré-natal na Cidade Ocidental porque em Luziânia não tive atendimento. Cheguei a ser socorrida no Gama, mas acabei vindo para cá [Hmib]. Fui recebida imediatamente, pois estava com dilatação e prestes a ganhar a neném”, conta Evellen.

A mãe nutre a expectativa que, a partir da experiência com Helena, os planos do GDF possam ajudar outras gestantes tanto no atendimento como nos deslocamentos. “No meu pré-natal senti falta de muita coisa, como alguns acompanhamentos e palestras. Gostaria que o governo pudesse investir em mais hospitais, no Entorno, ou se pudéssemos ser atendidas em casa. Mas, no HMIB, fui muito bem recebida, com carinho”.

Falta aqui, sobra ali

As viagens e deslocamentos feitos por Leiliane e Evellen têm explicação. Há no Distrito Federal 390 estabelecimentos de saúde – entre unidades básicas, hospitais, farmácias, hemocentro etc. A gestão Ibaneis Rocha, por meio do Plano Estratégico, observou a disparidade com relação à distribuição dos estabelecimentos nas regiões administrativas. Embora o DF já seja dividido na Saúde em 7 regiões (central, centro-sul, oeste, sul, sudoeste, norte e leste), a meta é descentralizar ainda mais os serviços e integrar essas regiões.

Arte: Édipo Torres/Agência Brasília


O Plano Piloto, por exemplo, conta com 49 unidades, à frente de Ceilândia, a região mais populosa do DF, com 40 estabelecimentos. Por outro lado, Varjão e Park Way contam com uma unidade cada – enquanto Vicente Pires tem duas (confira gráfico acima).

O governo pretende, a partir dos dados levantados, entender os fatores que interferem na instalação dos equipamentos de saúde e como trabalhar para suprir as carências do sistema e dos moradores de todas as regiões administrativas.  

No Plano Estratégico, o governo observou avanços na atenção primária, mas aquém do desejado. Por isso, estabeleceu a meta de aumentá-la de 69% para 100%. Os esforços serão concentrados na universalização, bem como na redução de filas, investindo na infraestrutura. Dentro dos resultados-chave, o GDF também espera garantir 100% de filas administradas e reguladas para procedimentos de média e alta complexidade.

Necessidade de leitos

Os dados apontam ainda uma carência de leitos. Há 2.742 gerais e 392 de UTI/CTI sob gestão da Saúde. A população dependente do Sistema Único de Saúde (SUS) chegou a 70,68%, enquanto os conveniados atingem 29,32%. O crescimento populacional e a demanda pela saúde pública reforçam a necessidade da ampliação de vagas.

No DF, a causa de óbitos, segundo a Secretaria de Saúde, tem como principal causa doenças do aparelho circulatório, conforme demonstra o quadro abaixo.

 

Arte: Édipo Torres/Agência Brasília


As internações, por sua vez, abarcam o maior número de casos com gravidez, parto e puerpério (pós-parto), com 507.167 ocorrências, seguido de lesões, envenenamento e outros, bem abaixo, com 172.383 casos. Doenças do ouvido ocupam o último posto da lista.

Central de laudos

Para garantir o acesso aos serviços de saúde pela população, o governo local pretende ampliar o número de agentes comunitários de saúde (ACS), implantar novos núcleos de apoio à Atenção Básica (Nasf). Também foi pensado uma central de laudos com ênfase em exames complementares básicos e essenciais para a Atenção Primária em Saúde (APS).

A cobertura da estratégia de saúde da família também será ampliada em alinhamento com a construção e consequente viabilização de novas unidades básicas de saúde e equipes. O GDF pretende implantar UBS em Planaltina, Recanto das Emas, na QR 381 em Samambaia, Vicente Pires, Águas Claras, Plano Piloto, Lagos, Fercal, Ceilândia, Paranoá, Jardim Botânico/Mangueiral, Sobradinho/Buritizinho, Vale do Amanhecer, Santa Maria e Estrutural.

Para resolver as filas em procedimentos de média e alta complexidade o Executivo decidiu, entre uma série de medidas, reestruturar a forma de aquisição de órteses, próteses e materiais especiais (OPME), por consignação; ampliar consultas ambulatoriais em todos os centros transplantadores do DF; e reorganizar a linha de cuidados de traumato-ortopedia, acelerando a realização de cirurgias.

Na questão de infraestrutura, a reforma de unidades como o Hospital Regional da Asa Norte (ambulatório – Fissurados) e do pronto socorro do Hospital Regional de Ceilândia são algumas das iniciativas.

Tempo de ação

Boa parte das medidas tomadas pelo GDF estão sob o guarda-chuva do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF). O instituto administra o Hospital de Base – que somente de janeiro a maio realizou 4.270 cirurgias –, o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) e as seis Unidades de Pronto Atendimento (UPA) do DF (Ceilândia, Núcleo Bandeirante, Recanto das Emas, Samambaia, São Sebastião e Sobradinho).

Foto: Iges-DF/Divulgação

Hospital de Santa Maria, agora gerido pelo Iges-DF: área estratégica

Ao todo, o Iges-DF anunciou a contratação de mais de 2,4 mil profissionais e a reforma de todas as Unidades de Pronto Atendimento (UPA), onde foram investidas mais de R$ 496 mil, sendo a maior parte na unidade de Ceilândia.

 


Entrevista/Osnei Okumoto, secretário de Saúde

 

Foto: Breno Esaki/Secretaria de Saúde/Agência Brasília

Agência Brasília –
O que é preciso para ampliar a cobertura da atenção básica, como uma das metas do governo, de passar de 69% para 100%?
Osnei Okumoto – Ampliar a estrutura física e aumentar o contingente de pessoal.

Agência Brasília – Além da ampliação do atendimento, como garantir a infraestrutura e melhorar a rapidez no atendimento?
Osnei Okumoto – Garantir reposição rápida do servidor afastado e investir na capacitação das equipes.

Agência Brasília – Qual o trabalho a ser feito para ampliar a capacidade e o número de leitos no DF e diminuir a judicialização por esses espaços?
Osnei Okumoto – Implantação do Complexo Regular do Distrito Federal – que, além das demais atividades, fará a regulação dos leitos de internação em todas as especialidades, auxiliando no gerenciamento das internações de forma eficiente e segura e respeitando os princípios do SUS de regionalização e hierarquização.
Também o remanejamento de profissionais de saúde (médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem) do Iges DF para as unidades hospitalares da Secretaria de Saúde com finalidade de reabertura de leitos fechados por déficit de profissionais.
É preciso garantir o fortalecimento do programa de Assistência Domiciliar em todos níveis da assistência e consequentemente com ênfase na desospitalizaçao.
Tem-se discutido a carteira de serviço do novo hospital do Guará, com mais de uma centena de novos leitos de internação hospitalar.

Agência Brasília – Quanto ao perfil epidemiológico do DF, considerando informações sobre mortalidade e natalidade, há registro de 12.542 óbitos em 2018, dos quais 406 fetais. A causa está associada, na grande maioria, a doenças do aparelho circulatório, destacando o Infarto Agudo do Miocárdio. Como melhorar esses índices?
Osnei Okumoto – Agir na prevenção e diagnóstico precoce, o que será possível com mais equipes qualificadas e UBSs aparelhadas próximo do domicílio, garantindo a referência e contra referência na rede de atenção.

Agência Brasília – O que o GDF tem feito para descentralizar o atendimento e garantir que os moradores não precisem se deslocar para cidades longes e regiões?
Osnei Okumoto – Na saúde existe o princípio da regionalização, que garante que o atendimento seja feito na região próxima à residência do munícipe. No DF, as pessoas são atendidas nas suas regiões, com encaminhamentos a outras regiões nos casos de procedimentos e consultas que não estão presentes naquela região, ou se encontra de forma escassa.