29/10/2019 às 10:40

Ambulatórios da rede pública ajudam prematuros a ter melhor desenvolvimento

Cinco hospitais oferecem o atendimento. Em Ceilândia, por exemplo, o serviço recebe 32 novos recém-nascidos para avaliação, todos do HRC e de Brazlândia

Por Agência Brasília *

Foto: Mariana Raphael/Secretaria de Saúde

Os pais são protagonistas de trabalho de estimulação dos bebês. Para isso, contam com a ajuda de profissionais. Foto: Mariana Raphael/Secretaria de Saúde

Muito pequenos, de baixo peso e frágeis. Assim são os bebês prematuros. Por terem passado menos  tempo na barriga da mãe,  exigem cuidados que vão além daqueles recebidos logo após o nascimento. Por isso, alguns hospitais da rede pública de saúde do Distrito Federal implantaram um ambulatório destinado a estimular o desenvolvimento dessas crianças, ao longo do primeiro ano de vida e, ainda, identificar aqueles que precisam de um acompanhamento mais especializado. 

“As atividades desenvolvidas estão voltadas para promover o desenvolvimento neuropsicomotor típico dos bebês com histórico de internação em unidade neonatal ou com algum fator de risco para provocar atrasos na aquisição das etapas do desenvolvimento global: motor, cognitivo comportamental e sensorial”, explica a terapeuta ocupacional Mchilanny Bussinguer de Menezes.

Ela é uma das profissionais que atua no ambulatório do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) e que ajudou a implantar o serviço no Hospital Regional de Ceilândia. Além dessas duas unidades, ainda contam com esse atendimento os hospitais regionais de Sobradinho, da Região Leste e Materno Infantil de Brasília.

Em Ceilândia, o serviço recebe 32 novos recém-nascidos para avaliação, todos do HRC e de Brazlândia. Os primeiros atendimentos são  mensais e, dependendo da necessidade, podem ser quinzenais. Vinícius Eduardo, de nove meses, é acompanhado desde que nasceu. Segundo a terapeuta do HRC que o acompanha,  Hellen Delchova,  o estímulo que ele tem recebido e os direcionamentos dados à mãe têm feito o pequeno se desenvolver bem.

“Ele nasceu de 35 semanas e não recebia os estímulos  adequados. Ensinamos à mãe  que, mesmo com ele reclamando, é preciso fazer exercícios em casa. Há duas semanas, ele estava bem irritado no atendimento, hoje já  aceita bem”, comemora Hellen. Ela e outros profissionais de fisioterapia ficam com a criança por cerca de 20 minutos e as atividades parecem brincadeira. Enquanto trabalham com os bebês, dão orientação aos pais.

Para a mãe de Vinícius, esse trabalho é essencial. “Aprendi com elas que posso aproveitar qualquer tempo para estimular meu filho. Faço enquanto assisto à novela”, revela Aline Lopes. Ela conta que o primeiro filho, com dez anos de idade, também nasceu prematuro.  “Hoje, ele tem problemas na fala. Acho que se tivesse recebido esses estímulos não teria ficado assim”, lamenta.

Segundo Hellen, os pais são protagonistas dessa estimulação. “Aqui, a gente avalia o desenvolvimento neuropsicomotor e orienta  os pais  sobre como estimular, de forma adequada, em cada idade”, observa a profissional. 

Para a terapeuta ocupacional Mchilanny Bussinguer, é importante que os pais evitem a natural superproteção, principalmente nos casos de prematuridade. “É sabido que a superproteção da família tem um impacto negativo no desenvolvimento do bebê, pois o priva de estímulos essenciais para o alcance dos marcos do desenvolvimento”, explica.

Proteção
Também atendido pelo ambulatório, o bebê Enrico Nunes está aprendendo a sentar. Ele nasceu, prematuramente, há oito meses. Quem o vê sorridente e esforçado com os brinquedos que o estimulam a se manter sentado, não imagina o que ele enfrentou ao nascer.

“Com 33 semanas, precisei fazer o parto em razão de uma infecção de urina. Eu corria risco de morte. Quando Enrico nasceu, o risco passou para ele. Foram duas paradas cardíacas, uma pneumonia e sepse (infecção generalizada), mas sobrevivemos”, comemora a mãe, Hellen Nunes. O pai de Enrico, Fabrício Leandro Oliveira, elogia o atendimento recebido no HRC.

Enrico não ficou com nenhuma sequela e a dificuldade para sentar dá-se pela falta de contato com o chão. Ele passa a maior parte do tempo preso a uma cadeirinha. A orientação recebida pelos pais foi comprar um tapete emborrachado para deixá-lo à vontade. “Os brinquedos dele podem ser usados para estímulo”, orientou Delchova.

Hmib
Fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogo compõem as equipes de todas as unidades de saúde que contam com o ambulatório de estimulação de prematuros. No Hmib, esses profissionais também atuam em parceria com a neonatologista. Atualmente, 12 crianças estão em acompanhamento.

“Recebemos os bebês com encaminhamento médico. O serviço é voltado para os nenéns egressos da internação da Unidade de Neonatologia do Hmib, mas recebemos os da Região Central, também. Eles são acompanhados e avaliados uma vez por semana. Conforme o desenvolvimento de cada um, os atendimentos podem ser quinzenais ou mensais”, explica a fisioterapeuta do Hmib, Letícia Narciso.

“Atualmente, estamos com bebês que iniciaram o atendimento há menos de seis meses. Portanto, todos estão conosco ainda. Quando observamos alguma alteração no desenvolvimento, encaminhamos para os centros especializados.  Felizmente, é muito baixo o número de bebês que necessitam desse tipo de encaminhamento”, destaca a Letícia.

Funcionamento
Segundo Mchilanny Bussinguer, o início das terapias se dá após a idade corrigida de 40 semanas e acima do marco de 2.500 gramas de peso, seguindo as recomendações do Programa Método Canguru, do Ministério da Saúde, sendo o bebê acompanhado até os três anos de idade. 

As modalidades de intervenção podem ser: terapia semanal, quinzenal ou avaliações e orientações mensais. Após o alcance do marco motor marcha, ou seja, após o bebê aprender a andar, os encontros podem ser mais espaçados, variando entre bimestrais, semestrais ou anuais, com o objetivo de acompanhar o desenvolvimento cognitivo comportamental no que se refere à fase da pré-escola.

“Este serviço é oferecido somente na rede pública de saúde e é de extrema importância”, avalia Mchilanny. “É com ele que promovemos um adequado desenvolvimento neuropsicomotor, favorecemos o ajuste psíquico do bebê e fortalecemos a família nos cuidados e desafios em geral”, explica.