26/11/2019 às 18:56

Vítimas de violência usam a arte para falar sobre o tema

Pacientes atendidas em Ceilândia foram ao cinema ver o filme As Panteras

Por Agência Brasília *

Espertas, destemidas e altamente treinadas. Assim são as agentes que formam As Panteras, filme escolhido para pacientes atendidas em Ceilândia assistirem, no cinema, na tarde desta terça-feira (26). A ação faz parte de um projeto que pretende levar mulheres a conhecerem pontos turísticos de Brasília e também a eventos culturais. Elas são assistidas pelo Centro de Especialidades para a Atenção às Pessoas em Situação de Violência Sexual, Familiar e Doméstica (Cepav) da Região de Saúde Oeste.

“A maioria das mulheres atendidas aqui não têm condições de sair do seu mundinho, que é a cidade, a casa, a família. Com esse projeto, pretendemos mostrar a elas que há vida além daquilo”, conta a psicóloga responsável pelo Cepav Flor de Lotus, da Região de Saúde Oeste, Karla Lobo Paiva.

Para a artesã Ana Lúcia Pereira, o passeio foi uma oportunidade de relaxar e tirar o foco do problema que tem vivenciado em casa. Vítima de violência psicológica que ainda sofre do pai desde que a mãe morreu, há cerca de dois anos, ela diz que o cinema a ajudou a esfriar a cabeça. “Vir aqui me ajudou a desligar do clima que tenho vivido em casa”, conta ela, que está em tratamento há seis meses.

A dona de casa Aline Silva também foi ao cinema. Para ela, uma das poucas oportunidades de sair de casa sem os filhos. “A gente fica em casa, só cuidando deles. Esse passeio que estão nos proporcionando ajuda mulheres como eu a perceberem que existe um mundo bom fora daquilo que estamos passando”, ressalta, ao lembrar que já sofreu violência do ex-marido, e hoje, mesmo em um novo relacionamento, vive as consequências do anterior, como a baixa autoestima.

Tratamento

Ana Lúcia e Aline fazem parte de um grupo de cerca de 12 mulheres que, quinzenalmente, se encontram em Ceilândia para participar de didáticas para discutir temas como gênero, ciclos de violência, Lei Maria da Penha, empoderamento, fatores de risco e proteção. Para isso, utilizam música, filmes e dinâmicas. Elas ainda participam de yoga e fazem sessões de acupuntura uma vez por mês.

Segundo Karla Lobo, desde que a unidade passou a atender mulheres vítimas de violência, em 2017, a procura tem aumentado. “Nossa unidade atendia somente crianças vítimas de violência sexual, depois passou a atender adolescentes na mesma situação e hoje já abrangemos esses três públicos. Muitas das mulheres atendidas passaram a ser acompanhadas após nossos profissionais perceberem, durante o atendimento de seus filhos, que elas também eram vítimas de violência”, aponta a psicóloga.

Desde 2017, a demanda de mulheres vítimas de violência no Cepav Flor de Lótus aumentou pouco mais de 50%. O centro localizado na região Oeste é um dos 18 que atendem vítimas de violência no DF.

* Com informações da Secretaria de Saúde