24/12/2019 às 09:00, atualizado em 24/12/2019 às 09:52

Sempre é tempo de flores

Os canteiros ornamentais da cidade hoje são um atrativo a mais, para além da arquitetura, com suas flores e cores variadas

Por Daniela Brito, da Agência Brasília

Canteiro da Novacap onde nascem as flores que são plantadas em todo DF. Foto: Acácio Pinheiro / Agência Brasília

 Há 30 anos, a Novacap, por meio do Departamento de Parques e Jardins (DPJ), começou a usar várias espécies de flores para embelezar as áreas verdes de toda a capital. O resultado do uso das flores em meio ao trânsito pesado da capital ganhou fama nacional. Os canteiros de Brasília passaram a ser visitados e fotografados como pontos turísticos.

De acordo com o arquiteto e paisagista da Novacap há 39 anos, Raimundo Gomes Cordeiro, tudo começou no ano de 1991, quando o então governador Joaquim Roriz fez uma viagem a Nova York.

“Ele viu aquela cidade toda florida e ficou admirado com a beleza. Logo que retornou à capital quis fazer do mesmo jeito aqui, é claro, adaptando à realidade do nosso país. Essa é a história que contam, mas não temos nada oficial”, relata.

Nos primeiros anos da capital, a cidade tinha 1.500 canteiros ornamentais nas vias e rotatórias de superquadras; hoje são 547, redução causada por mudanças nas vias para fazer fluir o trânsito.

No entanto, os principais e mais famosos canteiros foram mantidos, como os de todas as rotatórias das superquadras, o do balão do aeroporto e o do Eixo Monumental.

Cordeiro relembra como era a capital antes dos canteiros ornamentais. “Antes somente eram usadas mudas de folhagens (arbustos). Era tudo muito verde, não tinha cores até que elas começaram a aparecer com o plantio de ervas e flores. A cidade ganhou outra cara, ganhou vida. No início, foram escolhidas as espécies de curta duração, que têm uma floração exuberante; e ao longo do tempo foram introduzidas novas espécies, de maior durabilidade”, conta.

Moradora há quase 50 anos da capital, Heliete Ribeiro Bastos, 71 anos, afirma que a vinda dos canteiros ornamentais deixou a imagem de uma cidade bem cuidada e atrativa.

“Quando eu falo de Brasília, seja aqui como moradora ou para alguém de fora, uma das características que sempre ressalto são os espaços livres e verdes que temos na cidade. E é claro que os canteiros também, que desde que foram plantados deram à cidade um novo encanto” afirma Heliete.

“Flores significam energia, alegria, bem-estar. É difícil ficar indiferente ao encanto que trazem ao ambiente, com suas cores e formas, suas combinações, as mais variadas, além da importância que têm para os insetos e pássaros”, completa a moradora da Asa Sul.

Os canteiros da capital já viraram atração turística. Foto: Acácio Pinheiro / Agência Brasília

Para chegar ao colorido que dá beleza às áreas verdes, e chama tanto a atenção de moradores e visitantes durante todo o ano, o trabalho do DPJ é de muita pesquisa.

As variadas espécies de flores precisam ser utilizadas de acordo com o fator climático, para se aproveitar mais delas.

No período da seca, são plantadas flores que exigem menos água e rega. Já no período chuvoso, as espécies escolhidas são as que aguentam grande volume de água. De acordo com Raimundo Cordeiro, é dentro desse planejamento que o DPJ projeta a ornamentação da cidade.

“Estudamos o clima, o tamanho de cada espécie, a visualização (tanto dos pedestres quanto das pessoas em veículos – para não provocar acidentes) e por último a combinação das cores. Tudo tem de ficar harmonioso”, explica o paisagista.

No Natal, por exemplo, os jardineiros fazem o balão do aeroporto e a Esplanada dos Ministérios com flores vermelhas. “É para ajudar a enfeitar a cidade para a época”, explica Raimundo Silva, chefe do DPJ.

Além do Natal, outra data que é possível brincar com as cores das flores é o 7 de setembro – dia da Pátria. Nesse caso, o plantio é predominantemente com espécies amarelas, que vão se misturar ao verde das gramas, as cores do Brasil.

O trabalho feito nos canteiros ornamentais é para que as pessoas tenham sempre uma surpresa ao andar pela cidade. Segundo Raimundo Silva, a troca das cores causa mais impacto às pessoas que passam pelo local.

“Quando você tem uma cor única o ano todo, as pessoas se acostumam com a paisagem e deixa de ser atrativo, mas se você passa naquela área e percebe sempre uma coloração diferente, chama a sua atenção”, comenta.

Etapas de produção

As mudas de flores que ornamentam os canteiros de Brasília são produzidas no Viveiro I da Novacap, localizado no Setor de Mansões Park Way, que tem uma área total de 26 hectares.
Anualmente, são produzidas no local 1,5 milhão de mudas, necessárias para ornamentar canteiros, jardins e balões de Brasília. As flores são de cores variadas: amarela, vermelha, rosa, alaranjado, lilás e verde com branco.

Existem também as espécies de plantas perenes, que não necessitam de uma troca contínua; e têm as flores, que são substituídas a cada seis meses.

Social

Por trás de todo o trabalho com as flores feito pelo DPJ, o lado social tem um destaque importante. As flores são produzidas por deficientes visuais e físicos, jovens aprendizes e reeducandos (presidiários em fase de readaptação na sociedade). Hoje, cerca de 100 pessoas trabalham no viveiro da Novacap e nas ruas, entre produção, plantio e manutenção das flores.

Ainda de acordo com Raimundo Silva, as solicitações de ampliação dos canteiros por todo o Distrito Federal são contínuas.

“Nós temos feito parcerias com as administrações, que se comprometem a manter e nos ajudar preparando a área. A Novacap orienta a administração sobre a técnica necessária e oferece os insumos.

Isso já aconteceu em Águas Claras, Gama, Santa Maria, Sudoeste, Núcleo Bandeirante, Lago Sul e Lago Norte. A parte de jardinagem não é mais concentrada apenas no Plano Piloto”, explica o chefe do Departamento de Parques e Jardins da Novacap.

A produção envolve as etapas de semeadura, repicagem e transplantio. No processo produtivo também fazem parte as atividades de envasamento de bandeja e sacos plásticos com substrato agrícola; transporte e formação de canteiros com sacos; além de reaproveitamento de substrato e reciclagem de sacos plásticos.

Veja em detalhes o funcionamento desse processo:

Envasamento de bandejas e sacos plásticos: preenchimento manual dos recipientes com substrato agrícola;

Semeadura: consiste em colocar, manualmente, as sementes nas células individuais das bandejas e/ou sacos plásticos. Devido ao reduzido tamanho de algumas sementes, nelas a semeadura é feita com mais de uma semente por célula;

Repicagem: é a retirada das mudas excedentes e o plantio em células individuais nas bandejas. Os cravos (Tagetes) são repicados para bandejas com células maiores, onde se desenvolvem até o transporte para os canteiros;

Transplantio: de 4 a 11 dias após a repicagem é feito o transplantio das bandejas para os sacos plásticos, possibilitando o desenvolvimento das mudas até o porte para plantio em canteiros.

Etapas de manutenção
A vistoria para identificar as atividades que serão executadas na semana subsequente é realizada todas quinta e sexta-feiras. Em seguida, é elaborado um relatório para a divisão de manutenção.

Esse relatório descreve se o canteiro será trocado, limpo, replantado e podado.

O primeiro passo é a retirada das plantas antigas; em seguida é feito o preparo do solo, plantio, irrigação, limpeza periódica e replantio (quando necessário).

Após 30 a 40 dias, começa a floração e, aos 60, 70 dias está no auge da floração.

Vem aí o Plano de Arborização da Novacap

Na parte de manutenção e poda existem 12 equipes com 120 pessoas que cuidam das árvores no DF. Foto: Acácio Pinheiro / Agência Brasília

O Plano de Arborização, executado anualmente pelo Departamento de Parques e Jardins (DPJ) da Novacap, tem por objetivo a recomposição das árvores que são retiradas ao longo do ano. A Companhia está na fase final de contratação das empresas que farão o plantio.

São árvores que, com o tempo, necessitam ser erradicadas por estarem envelhecidas ou com alguma praga impossível de ser combatida ou porque estão em trajetos que por algum motivo sofrem mudanças.

Todo ano é feito um levantamento para definir os locais e as regiões que receberão novas árvores. Até março do ano que vem – período chuvoso e propício para o plantio -, o DPJ vai plantar 150 mil novas mudas de árvores em todas as RAs. Um investimento de R$ 2,2 milhões.

No Plano de Arborização de 19/20, 10% das 150 mil novas mudas serão frutíferas. A ideia é preservar a fauna – porque os pássaros se alimentam dessas frutas – e mantê-las também disponíveis nos canteiros do Distrito Federal, outra atração que chama a atenção dos moradores e visitantes, pois volta e meia é possível ver as pessoas “pescando nas árvores” frutas das mais variadas espécies, como manga e pitanga. Também serão plantadas 20 mil mudas de Ipês amarelo, branco, roxo, rosa e verde.

O chefe do Departamento de Parques e Jardins da Novacap, Raimundo Silva, explica sobre a necessidade da arborização no DF. “É um grande benefício. Nós temos um cerrado muito seco e o calor é intenso. O clima do Plano Piloto em relação a Águas Claras, que não dispõe de arborização, tem uma diferença de três graus. É por isso que o governador Ibaneis Rocha determinou que os cuidados com a arborização sejam contínuos em Brasília”, conta.

Na parte de manutenção e poda, existem 12 equipes com 120 pessoas que cuidam das árvores no DF. Eles são responsáveis por evitar o plantio indevido, que dá prejuízo material tanto para o governo quanto para o cidadão, além do risco à vida que uma árvore plantada de maneira errada pode por vezes ocasionar.

Cuidados ao plantar

As espécies plantadas em cada região são escolhidas de acordo com o local que vai recebê-las. Esses cuidados devem ser tomados para que o crescimento da raiz não venha a danificar as calçadas ou vias.

É necessário respeitar todo o projeto arquitetônico, tendo a precaução de não plantar sob redes elétricas e de águas pluviais.

“Uma espécie que é colocada em um estacionamento precisa ser específica para o local, pois ela tem que ter sombreamento e ser uma árvore que não caia galhos com facilidade para não danificar os veículos”, explica Raimundo Silva.

A orientação é de que a população procure o DPJ, caso queira plantar em alguma área que não tenha sido contemplada pelo Plano de Arborização. Dessa forma será evitado o plantio em locais inadequados que podem causar futuros problemas.

“Nas superquadras acontece muito. A pessoa planta uma mangueira, por exemplo. Inicialmente é uma planta bonita e pequena, depois se torna uma árvore frondosa que começa a danificar a parte estrutural do prédio e a parte de vedação de caixas de águas pluviais. Por isso, pedimos que, sem orientação não plante. O problema vai vir com o tempo”, completa o chefe do DPJ.

Serviço:
Você pode ligar na Ouvidoria da Novacap – telefone (61) 3403-2626 – e fazer a sua solicitação. A estatal enviará um técnico ao local para dar todas as orientações necessárias para o plantio correto.