30/01/2020 às 09:02, atualizado em 30/01/2020 às 09:31

Concreto reciclado é usado em obras públicas

Material que chega à Unidade de Recolhimento de Entulhos do SLU é britado, peneirado e doado aos órgãos de administração direta e indireta do DF 

Por Jéssica Antunes, da Agência Brasília

Todos os entulhos da construção civil no DF vão para a reciclagem | Fotos: Lúcio Bernardo Jr / Agência Brasília

Os entulhos de construção civil no Distrito Federal, agora, são reciclados. Os materiais desprezados e levados à Unidade de Recolhimento de Entulhos (URE), na Estrutural, são britados, peneirados e doados aos órgãos da administração direta e indireta para uso em obras. Neste mês, uma instrução normativa formalizou a ação, que vinha em fase de testes desde março de 2019.

A Instrução Normativa nº 1, de 7 de janeiro deste ano, regulamentou a doação dos chamados agregados de resíduos sólidos da construção civil obtidos a partir da trituração dos materiais entregues à unidade que ocupa o espaço do antigo Lixão da Estrutural.  “A publicação permite que a gente tenha maior controle, dá atribuições com relação a quem tem o direito de receber e define as burocracias”, explica o assessor técnico do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) Felipe Leite.

A Administração Regional do Sol Nascente/Pôr do Sol foi a primeira a solicitar o material após a publicação. Na semana passada, foram liberados 40 caminhões cheios de insumos usados para cobrir erosões e nivelar pistas, conforme prioridades diárias. “São paliativos enquanto não chegam as obras definitivas”, observa o gestor da cidade, José Goudim Carneiro.

[Olho texto=”“O material doado é um facilitador, um meio de economizar. Sem isso, teríamos que buscar por outros meios para cuidar da cidade”” assinatura=”José Goudin Carneiro, administrador do Sol Nascente/Pôr do Sol” esquerda_direita_centro=”direita”]

Nas contas do administrador, a carga de um caminhão de brita com 12 toneladas custa em torno de R$ 1 mil. “Esse conteúdo, que seria descartado, é de grande qualidade e importante para nós. O material doado é um facilitador, um meio de economizar. Sem isso, teríamos que buscar por outros meios para cuidar da cidade”, revela.

Como funciona 

Todo material que chega à URE pelas empresas contratadas pelo SLU ou entes privados é avaliado para checar se está apto para seguir à unidade de britagem. São considerados adequados pedaços de concreto, argamassa, blocos de cerâmica, enquanto madeiras e ferros são aterrados.

Separados, os insumos passam por um britador, que reduz suas granulometrias para cinco tipos diferentes: rachão, brita 2, brita 1, pedrisco e pó/areia. Em uma grande peneira com diferentes esteiras, tudo é separado. Armazenados, os materiais ficam disponíveis para doação conforme necessidade dos órgãos.

A produção média mensal é de 9,7 mil toneladas mensais. A operação em teste começou em março de 2019 com três mil toneladas e, em dezembro, alcançou mais de 15 mil toneladas processadas. Naquele mês, uma nova peneira foi adquirida para o local, produzindo um material mais nobre e segregado. A previsão, porém, é de mais aperfeiçoamento, com recursos da operadora.

[Numeralha titulo_grande=”15 mil toneladas” texto=”Total de material processado em dezembro de 2019″ esquerda_direita_centro=”centro”]

Gerente da Valor Ambiental, empresa que opera a URE, Eduardo Madalena explica que, se não fosse a distribuição, o material ficaria sem uso, estocado – “um desperdício pela grande porcentagem de qualidade obtida”, define. Reaproveitado, pode servir de base para drenos, asfaltos, bloquetes e estradas rurais.

Fase de testes 

Durante a fase de testes, o material foi solicitado e utilizado pelas regiões administrativas da Estrutural, do Gama e, especialmente, de Vicente Pires. A cidade, que recebe obras inéditas de infraestrutura, é foi o grande canteiro de obras dos últimos meses na capital.

Em cinco meses, foram retiradas duas mil toneladas do concreto britado. Conforme o órgão, foram utilizados cerca de 85 caminhões para a melhoria de trafegabilidade nas ruas 3, 4A, 4B, 5, 8 e 10. O material foi espalhado, nivelado e batido.

A Secretaria de Obras e Infraestrutura coordena o Comitê Gestor de Resíduos da Construção Civil (Corc), criado pela Lei nº 4.704/2011, e é responsável por organizar a política do setor no DF e estabelecer os parâmetros técnicos que norteiem a utilização de agregados reciclados.

Segundo a pasta, o objetivo é que o material agregado produzido ali seja utilizado pelos órgãos que realizam obras diretas, como o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF) e a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), além das administrações regionais.

Entre março e abril de 2019, o DER-DF usou o material para a melhoria das condições de cerca de 300 metros de pista na região do Capão Comprido, em São Sebastião, e deve voltar a recebê-lo agora. A Novacap, por sua vez, diz que há previsão para utilização de concretos britados, mas a possibilidade passa por avaliação técnica para apontar as obras indicadas.

Rastreamento 

O descarte de entulho da construção civil no DF é totalmente rastreado por meio do sistema de gestão dos Resíduos da Construção Civil (RCC). Para poder descarregar na URE, os transportadores precisam se cadastrar e emitir o Controle de Transporte de Resíduos (CTR) para cada demanda que atenderem. Com isso, o SLU acompanha a movimentação do entulho coletado desde a origem até a disposição final na URE.