17/05/2020 às 17:03, atualizado em 18/05/2020 às 11:47

Como o suporte psicológico ajuda no enfrentamento

Brasilienses diagnosticados contam que os atendimentos realizados no Hran são fundamentais para encarar o medo e o isolamento social

Por Ana Luiza Vinhote, da Agência Brasília | Edição: Renato Ferraz

Ao receber o diagnóstico positivo para Covid-19, Ana Dias, 59 anos, foi tomada pelo medo. Falta de ar, febre, vômito e dor de cabeça começaram a fazer parte do dia a dia da diarista. Ela teve que ficar internada oito dias no Hospital da Asa Norte (Hran), após fazer exames e descobrir que 50% do pulmão estava comprometido por causa da doença. “Eu fiquei desesperada. É assustador – e até hoje tenho medo de tudo voltar. Eu não dormia e fiquei tão paranóica que não deixava ninguém me tocar. Até que Deus mandou o doutor Iuri”, lembra.  

Ana se refere a Iuri Luz, profissional da saúde responsável pela área de psicologia do Hran. Ele faz o atendimento presencial, que já ocorria antes da pandemia, enquanto mais três psicólogos se encarregam de prestar apoio por telefone – modalidade implantada desde que o primeiro caso chegou ao hospital.   

[Olho texto=”Eu fiquei desesperada. (…) Não deixava ninguém me tocar” assinatura=”Ana Dias, 59 anos ” esquerda_direita_centro=”esquerda “]

Segundo Luz, as demandas chegam por indicações médicas ou dos próprios familiares. Entre as principais queixas estão distanciamento dos familiares, ausência de um acompanhante, medo, incerteza. O psicólogo ressalta que o profissional que atende pacientes em enfermarias é o hospitalar, pois requer uma qualificação diferente.

“Por causa do contexto, cenário e as particularidades das doenças orgânicas. A importância do paciente com Covid-19 é a mesma de qualquer outro que está internado. Porém, por ser um estado de pandemia, com um vírus letal de grande propagação e não poder estar com acompanhante, acaba potencializando a angústias deles”, ressalta Iuri Luz.

Para Ana, receber o atendimento psicológico foi fundamental para enfrentar o coronavírus. “Ele ia me visitar todos os dias e mesmo após eu receber alta, continuamos mantendo contato. Eu fiquei mais calma. É uma doença muito complicada e olha que eu só sou hipertensa, meu caso não foi um dos mais graves. Quem passa por isso precisa de alguém para conversar, aconselhar”, comenta a moradora de Santa Maria. 

[Olho texto=”O mais importante foi saber que havia quem se preocupasse com a gente” assinatura=”Marceli Reis, 38 anos ” esquerda_direita_centro=”direita “]

O isolamento foi o momento mais difícil para Rodrigo Postiglioni, 42 anos. O motorista de aplicativo ficou internado no Hran durante 45 dias. Sem a esposa e os filhos, ele viu no apoio psicológico uma maneira de driblar a solidão. “É um trabalho que tem que continuar sempre. E não sou só eu que acho, mas todos os outros pacientes que estavam lá. A gente fica muito tempo sem ver os familiares e isso nos deixa abalados, deprimidos”, disse o morador de Taguatinga. 

Casada com Rodrigo há 23 anos, Marceli Reis, 38 anos, lembra que nunca ficou tanto tempo longe do marido. Para acalmá-la, ela conta que conversava muito com uma psicóloga por telefone e que esse era um meio de estar perto do esposo. “Todo a equipe do Hran foi fantástica.O mais importante foi saber que havia quem se preocupasse com a gente, tinha empatia”, destaca a veterinária. 

[Olho texto=”Quem passa por isso precisa de alguém para conversar, aconselhar” assinatura=”Ana Dias, 59 anos ” esquerda_direita_centro=”esquerda “]

Ana e Rodrigo fazem parte do grupo de 64 pacientes que já receberam as intervenções. Iuri Luz reforça que não são todas as pessoas que têm condições de receber os atendimentos por conta da insuficiência respiratória. “Como muitos estão nesse contexto, a gente sugere que eles falem o mínimo, se comuniquem por meio de gestos, principalmente quando percebemos que eles estão ofegantes. O paciente precisa ter um perfil para receber o atendimento, que consiste na escuta”, lembra. 

Ainda de acordo com o psicólogo, o tipo de atendimento na enfermaria deve ser breve e focal. “Isso não significa que a gente desconsidera a história passada do indivíduo, mas o olhar é voltado, principalmente, para o enfrentamento da doença orgânica. Estamos dentro de um hospital, há outros profissionais para atender”, explica.

[Olho texto=”A gente fica muito tempo sem ver os familiares e isso nos deixa deprimidos” assinatura=”Rodrigo Postiglioni, 42 anos ” esquerda_direita_centro=”direita “]

Além dos pacientes, profissionais da saúde e familiares de paciente com coronavírus também recebem apoio psicológico. No caso de médicos, enfermeiros, entre outros, há hospitais que oferecem o atendimento, tanto online quanto presencial. No caso do Hran, são 26 psicólogos lotados em ambulatórios de diferentes frentes. Primeiro, o servidor preenche um formulário online e em seguida, é feita a triagem e o encaminhamento para um dos profissionais.

Já no caso dos familiares, os psicólogos encontram os pacientes por meio do prontuário eletrônico do hospital e por solicitação dos médicos que atuam no boletim diário dos pacientes internados com coronavírus. As intervenções focam na ausência do parente, seja pela quarentena ou até mesmo pela morte do familiar.