14/06/2020 às 09:52, atualizado em 15/06/2020 às 14:11

Emater ensina como cultivar seu próprio alimento

Coordenador de Agricultura Urbana da companhia, Rogério Viana dá dicas de cultivo de todo tipo de vegetal em qualquer lugar

Por Ary Filgueira, da Agência Brasília | Edição: Fábio Góis

| Foto: Joel Rodrigues / Agência Brasília

Está equivocado quem pensa que, para cultivar alimentos orgânicos (aqueles livre de agrotóxicos), precisará de um verdadeiro latifúndio. Até em uma garrafa de refrigerante vazia dá para plantar uma semente e, nela mesma, colher o resultado do plantio – o que é predominante no processo é a forma de cuidar do vegetal comestível. E é justamente isso o que a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF) está disposta a ensinar em suas redes sociais.

A reportagem da Agência Brasília foi buscar essas orientações e levá-las ao leitor já mastigadinhas nesta matéria. O especialista entrevistado é o coordenador de Agricultura Urbana da Emater, Rogério Viana.

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De uma maneira bem simples, Viana afirma que se pode produzir tudo e em qualquer lugar. Mesmo em apartamentos e até na fachada de prédios enormes. “Óbvio que você não vai querer plantar uma bananeira num apartamento”, brinca.

Segundo Rogério, primeiramente deve-se conhecer a natureza do vegetal. É aí está a pegadinha, pois cada tipo de planta se adapta a certos ambientes: umas carecem de mais luz e outras, nem tanto.

Alguns ambientes podem limitar a possibilidade de crescimento de alguns tipos de planta – em uma varanda de apartamento, por exemplo, onde haja baixa incidência de sol. Portanto, é preciso observar a natureza da semente. Ou seja, se ela é tolerante à sombra.

Ao mudar de torre, o empresário Sane Leire, 48 anos, perdeu toda a plantação que cultivava em seu apartamento no Setor Park Sul, Região Administrativa do Guará. No novo apartamento não entra sol de jeito algum, diferentemente do que o que se via no anterior.

“Minhas mudinhas de cebolinha, salsinha, alecrim, manjericão e coentro ficavam na varanda. Morreu tudo. Acabou com meu passatempo de fim de semana, que era cuidar da minha horta”, lamentou.

Viana dá exemplos de plantas que se adaptam bem a ambientes sem luz: taioba, cará-moela e pimentão são alguns. Certos tipos de hortaliças se adaptam a espaço com pouca entrada de raios solares. Tipo meia sombra. “Alguns alimentos, quando não estão num ambiente ideal, têm sua capacidade de produção diminuída. Ficam mais sujeitos a algumas pragas, doenças”, resume.

Mas o que fazer então para que esse vegetal não padeça? Segundo Rogério Viana, pode-se redobrar os cuidados, colocando mais água e adubo.  Principalmente este último, já que em ambientes pequenos o tamanho do espaço de cultivo deva ser proporcional.

Nesse caso, é preciso estar sempre renovando o adubo. O adubo pode ser feito em casa. Basta misturar folha seca com restos de alimentos, como casca de fruta. Tritura e mistura com terra. Só molhar até ficar pronto para o uso. Ideal é esperar uns três meses para utilizá-lo.

Amplitude

Outro fator dificultador em ambientes pequenos é, claro, o espaço. Nesse caso, Viana explica que, para plantar certos tipos de alimentos, como hortaliças, basta um jarro com medidas de 25 centímetros de largura e 30 centímetros de profundidade. Por que as hortaliças são sementes adaptáveis a esses ambientes pequenos? Porque são herbáceas.

As herbáceas são plantas de caule macio ou maleável, normalmente rasteiro, podendo ser cortado apenas com a unha. Além disso, têm raízes pequenas. Exemplo: tomate, apesar de crescer, é uma trepadeira. Não tem caule duro. Dá para cultivar até em uma garrafa pet.

“Só terá de cuidar bem da nutrição, porque é uma planta que vai crescer muito e numa garrafa não terá adubo suficiente para crescer. Então, terá de renovar bastante o adubo”, explica Viana.

O melhor tipo de vegetal comestível para se cultivar em casa é a alface. Com um vasilhame de 25cm de largura por 30cm de profundidade, ela se desenvolve bem. Vai crescer perfeito como se fosse num campo aberto. Ela pode até ser cultivada num vaso menor, porém, quanto menor o tamanho do recipiente, mais cuidado vai precisa.

“Melhorar a nutrição, principalmente, com água. O solo seca de cima para baixo. Mas a raiz está lá embaixo. Então, ainda tem água. Posso passar até três dias sem molhar. Num vaso de profundidade pequena a raiz toma conta de tudo. Se eu molhar de manhã e não à noite, talvez ele já sinta a falta d’água”, explica o coordenador.

Outra recomendação é misturar as sementes. Ele deu como exemplo prático um jarro feito de pneu com sementes de Salsinha, cebolinha e alface. Segundo ele, uma defende a outra de pragas. “Pulgão é um tipo de inseto que se alimentam da alface. A salsinha tem um cheiro que é repelente para eles. Já a salsinha chama fungo. Com ele vem pelo ar, a alface meio que faz uma barreira”, explica.

| Foto: Joel Rodrigues / Agência Brasília

A agricultura urbana é uma tendência mundial. Um dos fatores causadores é a economia. Plantar o próprio alimento que vai consumir em casa pode ser uma boa forma de economizar. O preço de uma alface no mercado é de R$ 2, quase o mesmo valor de um saco com 900 sementes. Ou seja, por R$ 3 a pessoa terá até 900 mudas de alface.

Outra vantagem é a qualidade do alimento. Nem sempre um alimento vendido como orgânico pode ser sadio. Depende da qualidade da água com que é irrigado. “Tem produtores de alimentos orgânicos que irrigam a plantação com água de córrego. E alguns são puro esgoto. Aí você comprar orgânico, achando que terá mais qualidade e não é bem assim”, afirma Viana.

“Na Europa, algumas mulheres estavam tendo dificuldade para engravidar. Verificou-se que a causa era a água, que, depois de tratada, ainda permanecia com vestígios de anticoncepcional descartada na rede de esgoto”, conta ele.

Alguns alimentos levam em média mais de um mês. Alguns até três meses para chegar à mesa. Mas, como se verifica aqui, os benefícios de se cultivar o próprio alimento são inúmeros. Então, o que falta para você começar a monta sua hortinha? Não é por causa do espaço.

Serviço:

Dúvidas podem ser esclarecidas pelo e-mail agriculturaurbana@emater.df.gov.br.