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22/06/2020 às 13:01, atualizado em 22/06/2020 às 13:04
Violão virtuoso de Fábio Zanon marca vídeo a ser veiculado nas redes da Secec e de parceiros do governo da Espanha
Os primeiros arpejos de violão que abrem o segundo movimento do “Concerto de Aranjuez” (Joaquín Rodrigo, 1939) tocam o ouvinte com um misto de paz e melancolia. “Qualquer momento de dificuldade e incerteza encontra eco em determinadas músicas que nos permitem elaborar sentimentos de dor. O concerto de Rodrigo é um desses casos”, diz o violonista Fábio Zanon sobre fazer o solo em uma das obras mais populares do repertório clássico universal, no momento em que o mundo atravessa a pandemia de Covid-19.
Nascido em Jundiaí (SP), com mais de 40 concertos e formação no Brasil e em Londres, Zanon se junta a 43 músicos da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro (OSTNCS) e, sob a regência do maestro Cláudio Cohen, produzem um vídeo com a joia da música erudita espanhola para ser veiculado nas redes sociais da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), do Instituto Cervantes e da embaixada da Espanha.
“Rodrigo foi muito feliz na concepção dessa peça num momento especialmente triste para ele, pessoalmente”, conta Zanon.
O instrumentista se refere ao fato de que Aranjuez – que dá nome ao concerto para violão mais popular do século 20 – é a cidade a 50 quilômetros de Madri onde o compositor passara felizes momentos em lua de mel. Paradoxalmente, no momento da criação da peça, havia acabado de perder um filho no parto da esposa.
O contexto era o de ascensão do fascismo, referência que ganha legenda no VT pela alusão à tela “Guernica” (1937), de Picasso, um protesto da arte contra o bombardeio da cidade de mesmo nome, naquele ano, pelos nazistas na Guerra Civil Espanhola.
Cego desde a infância, Joaquín Rodrigo foi responsável por dar ao violão o status de um instrumento sinfônico, ensina Zanon.
“Até os anos 20, pairava um ponto de interrogação sobre o violão, que não era considerado muito apropriado para as salas de concerto – seja pelo pouco volume, pela falta de repertório ou porque tinha reputação duvidosa dada a sua popularidade”, acrescenta o solista, que já se apresentou nos principais teatros em mais de 50 países e é, segundo o regente da OSTNCS, “nosso principal violonista da atualidade”.
Zanon também fala da dificuldade que a obra representa para solistas do instrumento: “Exige do violonista a bravura que se espera da música espanhola, mas também uma certa elegância e estabilidade na interpretação. É uma obra muito encrencada, com escalas rápidas e alternância entre técnicas que desestabilizam umas as outras”.
O violonista, que já se apresentou com Yamandu Costa e cantores de todos os estilos – Claudia Riccitelli, Carole Farley, Rosana Lamosa, Rodrigo del Pozo, Toquinho, Ney Matogrosso e Maria Mulata, por exemplo –, anota que o concerto escrito por Joaquín Rodrigo também é complexo por beber, a um só tempo, nas fontes da música folclórica espanhola, dentro da qual pontifica o flamenco, e render tributo ao estilo neoclássico do século 18.
Obra de arte
“O Concerto de Aranjuez é uma das obras mais representativas da cultura musical espanhola, e o segundo movimento é admirado por ouvintes de todo o mundo. A interpretação de Zanon agrega ainda mais força a escolha desta belíssima obra”, diz Cohen.
Além do mais, acrescenta o maestro, “a música traz uma mensagem poética de paz e reflexão adequadas para este momento de isolamento social”.
Trompista da Sinfônica, Ellyas Lucas Souza e Veiga trabalhou três horas por dia na edição do VT, que contará com parcerias do Instituto Cervantes (mais de 25 mil seguidores, somados os perfis nas redes sociais – Facebook, Instagram e Twitter) e da embaixada da Espanha (quase 50 mil de seguidores no Facebook e Instagram juntos) para divulgar a gravação pelo mundo.
* Com informações da Secretaria de Cultura