21/07/2020 às 19:36, atualizado em 21/07/2020 às 22:08

Cultivo de abelhas nativas do Cerrado no Parque da Cidade

Monitoradas, espécies sem ferrão são fundamentais para a polinização de alimentos e o bom desenvolvimento do meio ambiente

Por  Hédio Ferreira Júnior, da Agência Brasília* I Edição: Carolina Jardon

Você provavelmente nunca tenha ouvido falar, mas há oito meses o Parque da Cidade Dona Sarah Kubitscheck tem um meliponário. O nome soa estranho para leigos e nada mais é do que um espaço para cultivo de abelhas meliponas.

O gênero, típico do Brasil, não tem ferrão, produz mel e é extremamente importante para o desenvolvimento do ecossistema. Acredita-se que o parque urbano de 420 hectares abrigue pelo menos 25 espécies dessas abelhas.

O trabalho de cultivo de três espécies do inseto – Uruçu Amarela (rufiventris), Mandaçaia MQA (quadrifasciata) e Borá – é desenvolvido pelo Instituo Abelha Nativa, em parceria com o Governo do Distrito Federal (GDF), por meio do Parque da Cidade.

Em uma área da Escola de Equitação, de frente para o Sudoeste, a instituição realiza um trabalho de identificação dessas espécies não violentas para a mantê-las em seu habitat, sem prejuízo ambiental – e, menos ainda, risco aos frequentadores.

Os tipos de abelhas existentes no Brasil são as melíponas e a apis. As primeiras não têm ferrão e, por isso, não oferecem risco à saúde e ao bem-estar das pessoas e animais. Produzem mel em pequena escala e não picam.

O especialista que cuida delas é o meliponicultor. Já as segundas são as mais conhecidas da população. Grandes produtoras de mel, as abelhas africanizadas têm ferrão, reagem a ataques e podem até matar ao liberarem veneno pela picada.

Ambas são fundamentais na polinização das flores e, consequentemente, na produção dos alimentos. São as abelhas quem fazem o acasalamento dos pólen macho e fêmea em uma flor, o que possibilita o desenvolvimento da flora e a produção de frutos (como mamão, abacaxi e morango) e hortaliças. Sem falar nos benefícios causados pelo mel e seus derivados (entre eles, própolis e cera).

Luiz Lustosa é presidente da Associação dos Meliponicultores do DF e do Instituto Abelha Nativa. É ele quem cultiva algumas das espécies identificadas no Parque da Cidade e agora busca parceiros para a construção de pequenos jardins com identificação em volta das áreas onde as abelhas melíponas vivem no parque.

A ideia é mantê-las na natureza e que a população saiba onde estão. “As abelhas não fazem mal, elas fazem mel”, brinca, ao defender as espécies produtoras de Brasília.

Segurança no parque

A administração do Parque da Cidade alerta aos frequentadores que identificarem um enxame ou colmeia de abelhas que os acione. Em caso de ataque de espécies com ferrão, quem deve ser acionado é o Corpo de Bombeiros, pelo telefone 193.

“O parque conta com instituições colaboradores e caso alguém identifique algum ninho deve nos acionar por meio dos nossos seguranças”, alerta o administrador Silvestre Rodrigues da Silva.

Nesta quarta-feira (22), uma instituição particular será responsável pela remoção de abelhas da espécie apis em um teto de alvenaria da área da Piscina com Ondas. Sem risco iminente à área de acesso à população, os insetos serão recolhidos no início da noite – que é o horário em que deixam de circular e permanecem na colmeia – e transferidos para uma área de produção particular.

Extensionista da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) e apicultor há mais de 30 anos, Névio Guimarães explica que a migração de abelhas da área rural para a urbana é fruto da desordenação ambiental causada pelas queimadas e consequentes desmatamentos nesta época do ano. Isso faz com que casos de incidentes envolvendo esses insetos sejam mais frequentes nesta época do ano, como que aconteceu no final de semana próximo ao estacionamento 6 do Parque da Cidade.

Ele ressalta a importância desses insetos ao meio ambiente e reforça o pedido da administração do Parque da Cidade para que não sejam exterminados.

“Quem tiver algum problema com algum enxame que chegou à sua casa ou região, avise o Corpo de Bombeiros e nãos os matem, pois eles são muito importantes na natureza.”

Nunca atirar fogo

O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) orienta a população a redobrar a atenção ao passar por locais arborizados. De acordo com o chefe da equipe de Informações Operacionais dos Bombeiros, tenente Fábio Bohle, é importante que crianças não brinquem próximas às abelhas e que tanto os menores quanto os adultos não tentem matar ou espantar os insetos atirando objetos ou fogo contra as colmeias.

“Ao fazer isso a situação pode se agravar. Ao serem atacadas, as abelhas liberam hormônios, uma espécie de autodefesa. Desta forma, o enxame é atraído e a pessoa poderá ser atacada por um número ainda maior de insetos”, informa o tenente.

*com informações do Corpo de Bombeiros