21/10/2020 às 16:21, atualizado em 21/10/2020 às 17:56

De servidora a paciente: história de uma voluntária do Outubro Rosa no HRT

Ainda em tratamento, servidora planeja a ornamentação do centro cirúrgico

Por Agência Brasília* | Edição: Renata Lu

A técnica de enfermagem Olívia Maria Passos, do HRT, descobriu um câncer de mama enquanto preparava uma surpresa para uma médica querida pela equipe: “Agora sou funcionária e estou paciente” | Foto: Breno Esaki/Agência Saúde DF

“No início do ano, a gente precisava fazer uma surpresa para a doutora Josiane. Eu a retirei da sala com a desculpa de que era para ela ver o que tinha no meu peito. Ela me levou para fazer a mamografia, a ecografia, marcou uma punção. Apareceu lesão nas duas mamas”. Esse relato é da técnica de enfermagem Olívia Maria Passos e a médica a que ela se refere é a mastologista Josiane Fernandes. Foi  Josiane quem idealizou o mutirão de reconstrução mamária há cinco anos, no Hospital Regional de Taguatinga. E Olívia, desde aquela época, trabalhou ativamente em cada edição.

Neste ano, Olívia será uma das mulheres que serão atendidas na ação enquanto trabalha, à distância, por ainda estar em tratamento contra o câncer de mama. A técnica havia percebido um caroço em uma das mamas ainda durante as atividades do Outubro Rosa, em 2019. Embora tivesse consciência do risco, Olívia preferiu ignorar aquele nódulo e focar no trabalho que realizava preparando o ambiente com toda a decoração do centro cirúrgico para receber as pacientes e voluntários.

Mas apenas no início de 2020, quando a sua filha percebeu a alteração no seio, que a servidora sentiu que realmente precisava investigar. E somente quando ela utilizou como desculpa o pedido para que a médica a examinasse, para poder preparar uma homenagem a uma das profissionais mais queridas da unidade, que ela precisou enfrentar a notícia da doença e encarar o tratamento.

Olívia não quis passar por isso sozinha e fez questão de dividir o momento com as colegas, recebendo o apoio de todas.

“Em março fiz o esvaziamento da mama com a reconstrução. Foi muito tranquila a recuperação. Não senti incômodos. No final de maio iniciei a quimioterapia e ainda estou fazendo o tratamento. Aí o cabelo caiu, mas quando começou a cair eu passei a máquina zero e não tenho problema em usar assessórios”, conta Olívia. E ela acrescenta: “Eu sou funcionária, e hoje estou paciente”.

A servidora ainda está passando pelas sessões de quimioterapia, depois fará radioterapia e hormonioterapia. Neste Outubro Rosa, a paciente fará pigmentação do mamilo, pois depois da retirada e reconstrução imediata das mamas, na recuperação, algumas pequenas áreas necrosaram e ficaram mais brancas que o tom da sua pele. Todo o tratamento está sendo realizado na rede pública.

Desde 2015, funcionários e voluntários se mobilizam para as ações do Outubro Rosa no HRT, incluindo a decoração das áreas do hospital | Foto: Breno Esaki/Agência Saúde

Voluntariado

As ações do Outubro Rosa no HRT tiveram início em 2015 com o propósito de melhorar a autoestima e encerrar o ciclo das mulheres que venceram o câncer. Embora disponível na rede pública, a reconstrução mamária é uma cirurgia eletiva, podendo levar algum tempo para ser autorizada. A cada ano, o número de pacientes atendidas tem aumentado, assim como o número de voluntários. Na primeira edição foram 20 pacientes assistidas; em 2019, já foram realizados 73 procedimentos. Neste ano estão previstas 40 cirurgias, devido à pandemia.

Além da parceria com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, que contribui com materiais para a decoração dos ambientes do hospital e próteses mamárias, profissionais da saúde de outras unidades e estados se voluntariam para compor as equipes. São médicos cirurgiões, anestesistas, enfermeiros, técnicos e outros mais.

[Olho texto=”Esses servidores fazem diferença onde estão” assinatura=”Wendel Moreira, superintendente da região de saúde Sudoeste” esquerda_direita_centro=”centro”]

Além disso, a comunidade também tem se sensibilizado durante os anos e garantido lanches para os trabalhadores, cafés e almoços. Entre os próprios servidores, há quem disponibilize seu tempo quando o plantão acaba, costurando as toucas dos profissionais, os lençóis e aventais das pacientes, tudo rosa. Com o tempo, as próprias pacientes que foram beneficiadas pelo mutirão, passaram a contribuir com os lanches.

O superintendente da região de saúde Sudoeste, Wendel Moreira, exalta a atitude dos profissionais de saúde que somam forças para cuidar da saúde das pacientes. “Neste momento de pandemia e de todas as outras patologias que incidem sobre a população, eles se voluntariam preocupados com o seu próximo no momento de conversão de esforços. Eu vejo isso como uma virtude do profissional de saúde. Esses servidores fazem diferença onde estão”, destaca o gestor.

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São trabalhadores que atuam antes, durante e depois da ação para que tudo aconteça, cuidando de detalhes para fazer diferença na vida das pacientes.

“Desde 2017 eu sempre faço uma lembrancinha, que é uma caneta decorada, para distribuir. É em torno de 150 canetas, para a ginecologia, maternidade e oncologia. De abril para maio eu já começo a planejar e fazer as coisas”, relata Olívia, que neste ano está fazendo as contribuições de casa. Ela planejou a ornamentação de casa, recortou os materiais e teve o auxílio das colegas para colocar tudo no lugar.

*Com informações da Secretaria de Saúde