26/11/2020 às 11:59, atualizado em 26/11/2020 às 14:53

Jovens rurais vencem etapa no Start BSB

Três dos 286 selecionados do DF para a segunda fase do programa participaram de cursos da Emater

Por Agência Brasília * | Edição: Chico Neto

Yara, Vitor Hugo e Sérgio: projetos aprovados caminham para a final do Start BSB | Reprodução/Emater

Três jovens que participaram do programa de empreendedorismo e sucessão rural Filhos deste Solo, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater), tiveram seus projetos selecionados para a segunda fase do Start BSB, programa da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) apoiado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e operado pela Fundação Certi.

Ao todo, 702 ideias foram apresentadas, tendo sido 300 aprovadas nesta fase inicial. Dos participantes que tiveram o projeto selecionado, 286 são do Distrito Federal, 13 de Goiás e um de Minas Gerais.

Entre as iniciativas, três são de jovens que atuam na agricultura familiar do DF. Yara Ballarini, 30 anos, inscreveu seu projeto de produção de cogumelos comestíveis e medicinais. Já Vitor Hugo Moraes de Lima, 34, decidiu apostar nos projetos de sistema de aquaponia com monitoramento remoto em estrutura alternativa de bambu e bicicletas de bambu elétricas. Por sua vez,  Sérgio da Costa Júnior, 33 anos, está investindo no projeto de adubação orgânica peletizada ou capsulada.

Exemplo incentivador

Para a presidente da Emater, Denise Fonseca, o resultado inicial com os jovens do campo é um grande incentivo para que outros moradores de áreas rurais invistam em seus projetos e busquem meios de realizá-los. “Esse resultado mostra que muitos deles estão levando adiante a ideia, desenvolvendo projetos viáveis e lucrativos que abrem um mundo de perspectivas econômicas para esses jovens, e isso é muito gratificante para todos nós”, diz.

Com a vaga garantida para a segunda fase, as equipes empreendedoras das ideias selecionadas deverão elaborar e submeter, até 7 de dezembro, um projeto de empreendimento, detalhando o plano de negócio executivo com o objetivo de demonstrar a viabilidade da solução. Durante a primeira semana de submissões, os participantes selecionados terão acesso a capacitações diárias e um workshop ao vivo para elaborar um projeto mais conciso.

Ao final, até 50 projetos serão contemplados com premiações que chegam a R$ 70 mil em subvenção econômica, R$ 3,5 mil de bolsa por projeto, acompanhamento e suporte durante seis meses para o desenvolvimento da proposta e modelo de negócio, além do networking e acesso à rede de parceiros do programa.

Conheça, abaixo, um pouco mais das iniciativas dos jovens do campo.

Adubação orgânica capsulada

Sérgio da Costa Júnior é agroecólogo e estudante de agronomia da Universidade de Brasília (UnB). Sua proposta, feita em parceria com outros estudantes, visa à elaboração de adubos orgânicos em formulação que atenda a necessidade nutricional das plantas e se adeque ao maquinário agrícola por meio da capsulação – transforma ou envolve os produtos em capsulas –  ou peletização –  transforma o material seco em péletes.

De acordo com ele, por meio da técnica de peletização, é possível reduzir o volume dos adubos orgânicos. Morador da Colônia Agrícola Catingueiro, área rural da Fercal Oeste, Sérgio tem planos caso eu projeto chegue à fase final.

“Se tudo der certo, vamos investir no desenvolvimento e marketing dos protótipos de adubos orgânicos”, adianta. “A ideia também é contribuir para a disseminação de conhecimento para diferentes agentes da agricultura familiar”. Segundo ele, o projeto também contribuirá para valorização de produtos nacionais e reaproveitamento de resíduos de plantas e animais.

[Olho texto=”“A ideia também é contribuir para a disseminação de conhecimento para diferentes agentes da agricultura familiar” ” assinatura=”Sérgio da Costa Júnior” esquerda_direita_centro=”centro”]

Cogumelos comestíveis

Bióloga com mestrado em ecologia, Yara Ballarini apresentou no prêmio o projeto Caliandra Cogumelos. Moradora no Núcleo Rural Córrego do Urubu, região do Lago Norte, seu negócio está situado em propriedade com vegetação nativa preservada com certificado de produção orgânica pelo Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (Opac) Cerrado, entidade ligada ao Sindicato dos Produtores Orgânicos do Distrito Federal (Sindiorgânico). Yara utiliza energia solar em sua produção e destina os resíduos para reciclagem.

No local, ela produz cogumelos comestíveis e medicinais orgânicos a partir da técnica chinesa jun cao, que utiliza  rejeitos da agricultura para o plantio. A partir de capim, serragem e outros materiais desse natureza, é possível a produção de alimentos de alto valor nutricional com baixo custo.

“A utilização de rejeitos de outras culturas proporciona engajar a comunidade produtiva, gerar renda alternativa e diminuir problemas de destinação de resíduos orgânicos”, explica ela, que diz ter colocado em prática o projeto após ter participado do programa de empreendedorismo Filhos deste Solo, da Emater.

[Olho texto=”“A utilização de rejeitos de outras culturas proporciona engajar a comunidade produtiva, gerar renda alternativa e diminuir problemas de destinação de resíduos orgânicos” ” assinatura=”Yara Ballarini” esquerda_direita_centro=”centro”]

Com estrutura já montada, Yara, caso seja uma das ganhadoras, pretende investir em capacitação técnica na área de cogumelos, aperfeiçoamentos por meio de cursos, consultorias na área de gestão de processos e também em maquinário – como uma ensacadeira e um freezer grande ou uma câmara fria para manter conservados os cogumelos. “Além do prêmio em dinheiro, sei que tem vários auxílios técnicos de outros órgãos, todo um programa de capacitação que também vai contribuir muito no meu negócio”, analisa.

Aquaponia com bambu

Por meio das iniciativas que resultaram nos projetos de fabricação de bicicletas de bambu elétricas e no sistema de aquaponia com monitoramento remoto em estrutura alternativa de bambu, Vitor Hugo, artesão, conseguiu ser aprovado para a segunda etapa. Junto aos programas da Bamburiti, empresa que trabalha com agroecologia, ele desenvolve estruturas rurais construídas com bambu para agricultores familiares e promove capacitações.

Vitor cursou os ensinos fundamental e médio em escolas públicas. Atualmente, estuda agronomia no Instituto Federal de Brasília (IFB). O recurso do prêmio, avalia, vai permitir o investimento em equipamentos, em estrutura e em promoção e consolidação da marca.

“A gente vem de baixo”, conta. “O nosso serviço e a nossa ideia são de alto padrão. Temos alguns concorrentes em nível mundial, de alto poder aquisitivo. Com esse recurso, a gente quer chegar de uma forma supermadura e concisa ao mercado e se consolidar. Já prototipamos tudo, já fizemos ensaio. O patrimônio imaterial, que é o conhecimento, nós temos, e cada dia a gente está aprimorando mais.”

[Olho texto=”“O patrimônio imaterial, que é o conhecimento, nós temos, e cada dia a gente está aprimorando mais” ” assinatura=”Vitor Hugo Moraes de Lima” esquerda_direita_centro=”centro”]

A aquaponia é uma técnica de produção de alimentos que visa reduzir o consumo de água, comparada aos sistemas convencionais de irrigação, e promover o reaproveitamento integral do efluente gerado dentro do próprio sistema.  O sistema é uma alternativa para o desenvolvimento rural sustentável na produção alimentícia da agricultura familiar. A meta é alimentar os peixes e utilizar seus excrementos, que são ricos em nutrientes, para também adubar as plantas, que por sua vez filtram a água para o peixe.

Em 2018, a Bamburiti desenvolveu um temporizador de baixo custo configurável via aplicativo de celular e monitoramentos das variáveis via navegador de internet. A tecnologia, de acordo com Vitor Hugo, se aplica à agricultura familiar e funciona como monitoramento e controle da aquaponia. “Vem se apresentando como uma tecnologia viável para a pequena propriedade agrícola”, conta.

Os programas

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O programa de empreendedorismo rural Filhos deste Solo abriu suas primeiras turmas em 2019 e tem como objetivo apoiar a permanência dos jovens no campo, com condições dignas, por meio de incentivo na condução de negócios bem-sucedidos, dotando-os de competências e habilidades, com novas perspectivas culturais, sociais e empreendedoras dentro da própria comunidade.

O Start BSB visa contribuir para o estabelecimento da ponte entre academia e mercado no Distrito Federal, a partir da constatação de que muitas ideias são provenientes de pesquisadores da universidade, tanto de cursos de graduação quanto de pós-graduação. Além disso, o programa tem como objetivo impulsionar o empreendedorismo inovador e acelerar o desenvolvimento do ecossistema de inovação do DF e Entorno, possibilitando o intercâmbio de conhecimentos e tecnologias.

“Brasília tem um grande potencial empreendedor que ainda é subutilizado, e essa iniciativa surge para integrar setor produtivo e governo”, afirma o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Gilvan Máximo. “Precisamos fortalecer nosso ecossistema de empreendedorismo e inovação, e o Start BSB é um importante passo nessa caminhada.”

 

* Com informações da Emater