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08/12/2020 às 19:56, atualizado em 09/12/2020 às 13:37
Evento enfrenta ano da pandemia com arte, ciência e paciência
O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB) é um grito de resistência. Foi com esse eco que atravessou 53 anos, ora travando batalhas inglórias contra governos autoritários e políticas perversas de desmonte ao audiovisual nacional, ora instaurando linguagens e identidades ao cinema brasileiro. Em 2020, diante de uma pandemia que já vitimou mais de 175 mil brasileiros e desempregou alguns milhões, esteve, como a maioria dos eventos culturais, em iminência de ser cancelado. Seria interrompido mais uma vez. De 1972 a 1974, foi censurado pela ditadura militar.
[Olho texto=”Como secretário de Cultura e Economia Criativa (Secec) do Distrito Federal, não poderia deixar que o mais longevo e importante festival de cinema do país fosse pausado. Só a censura calou o Festival de Brasília e essa é uma cicatriz que não podemos remexer. É, com profundo sentimento de dever cumprido, que chegamos a essa 53ª edição, histórica e única” assinatura=”Bartolomeu Rodrigues, secretário de Cultura e Economia Criativa” esquerda_direita_centro=”centro”]
Curador e diretor artístico, o cineasta Silvio Tendler há mais de dois meses respira esse estado de felicidade, como fez, em 1996, quando então secretário de Cultura e Esportes do DF projetou uma das mais potentes edições do FBCB, com ênfase em intercâmbio artístico e filmes de uma novíssima geração, da chamada retomada do cinema nacional, após a devassa dos anos Collor e o desmantelo da Embrafilme.
“O cinema brasileiro é um resistente e renitente. Resiste a tudo que tenta derrubá-lo. Como diz Glauber Rocha, em “Deus e o Diabo na Terra do Sol”: ‘mais forte são os poderes do povo”. Não desistiremos e não calaremos, o 53º FBCB é uma prova viva. Nesta edição, foram 698 filmes inscritos. Isso significa que estamos resistindo com arte, ciência e paciência”, aponta Silvio Tendler.
Parceria com o Canal Brasil
Maior vitrine do cinema político no país, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro escancara-se ao mundo pela primeira vez. De 15 a 20 de dezembro, o público de todos os cantos pode acompanhá-lo no Canal Brasil (Mostra Oficial de Longa-Metragem) e na plataforma de streaming Canais Globo (Mostras Oficial de Curtas e Brasília).
O Canal Brasil já mantinha parceria duradoura com o FBCB, seja na cobertura jornalística, no Prêmio Canal Brasil de Curtas, seja nas rodadas de negócios e eventos.
“Neste momento tão atípico, é muito importante para o cinema e para a cultura que o Festival de Brasília aconteça e que isso possa se dar nas telas do Canal Brasil. É também uma oportunidade para que um número maior de pessoas possa acompanhar a exibição dos filmes, agora com alcance nacional. Estamos muito felizes em levar mais um festival de cinema para o grande público”, afirma Gesiele Vendramini, gerente de Negócios, Produção e Digital do Canal Brasil.
[Olho texto=”Estamos muito felizes em levar mais um festival de cinema para o grande público” assinatura=”Gesiele Vendramini, gerente de Negócios, Produção e Digital do Canal Brasil” esquerda_direita_centro=”centro”]
Todas as formas de narrar
Os 30 filmes selecionados para as mostras Oficiais de Longa e Curta e a Brasília apontam para o cinema contemporâneo brasileiro que se apropriou de suas narrativas para firmar uma identidade. Há filmes das cinco regiões brasileiras, o que indica essa vitalidade.
Na Mostra Oficial de Longas, essa tendência fica evidente na busca por um fio de memória que não pode se perder, num momento tão delicado, no qual a Cinemateca, guardiã de um acervo inestimável, é desmontada pelo poder público. Entre os concorrentes, “Ivan, O TerrirVel”, de Mário Abbade, e “A Luz de Mário Carneiro”, de Betse de Paula, voltam-se para dentro da história do cinema e esticam a memória como um tensionador do debate central, enquanto “Por Onde Anda Makunaíma (RR), de Rodrigo Séllos, mergulha no personagem-chave de Mário de Andrade para discutir a mítica do brasileiro.
A memória deixa de ser vestígio e vira caminhos abertos para a narrativa de “Espero que Esta te Encontre e que Estejas Bem (PE, RS, MS), de Natara Ney, a partir de um lote perdido de 110 cartas de amor encontrada numa loja de antiguidades.
Em “Entre Nós Talvez Estejam Multidões (MG/PE)”, de Alano Bemfica e Pedro Maia de Brito, monta um painel brasileiro e político ao entrelaçar o cotidiano de 300 famílias da Ocupação Eliana Silva, que surgiu em abril de 2012 na região do Barreiro, em Belo Horizonte, com eleição de Jair Bolsonaro.
Os cinco concorrentes documentais dialogam com “Longe do Paraíso (BA)”, única ficção da mostra comandada pelo veterano Orlando Senna, que toca no delicado e perigoso universo dos crimes sob encomendas de líderes populares no Brasil.
Mostra Oficial Longa-Metragem
Dia 15 de dezembro de 2020
Canal Brasil, às 23h
Espero que Esta te Encontre e que Estejas Bem (PE, RJ, MS)
(Natara Ney, Documentário, PE/RJ/MS, 83 min)
Dia 16 de dezembro de 2020
Canal Brasil, às 23h
Longe do Paraíso (BA)
(Orlando Senna, Ficção, BA, 106 min)
Dia 17 de dezembro de 2020
Canal Brasil, às 23h
(Betse de Paula, Documentário, RJ, 73 min)
Dia 18 de dezembro de 2020
Canal Brasil, às 23h
(Rodrigo Séllos, Documentário, RR, 84 min)
Dia 19 de dezembro de 2020
Canal Brasil, às 23h
Entre Nós Talvez Estejam Multidões (MG, PE)
(Aiano Bemfica e Pedro Maia de Brito, Documentário, MG/PE, 92 min)
Dia 20 de dezembro de 2020
Ivan, O TerrirVel (RJ)
(Mario Abbade, Documentário, RJ, 103min)
Canal Brasil, às 23h
Curtas acendem a força do lugar de fala
Os 12 curtas selecionados para a Mostra Oficial indicam a quebra de hegemonia de narrativas masculinas, brancas e de polos centralizadores de poder. Com cinco representantes do Nordeste (BA, RN, MA, CE e PE), dois do Sul (SC, PR) e cinco do Sudeste (RJ, ES, SP e MG), o mosaico criado é diversificado com presença forte de mulheres, negros e LGBTQIAP+ tanto na direção quanto nas temáticas.
“Guardião da Noite” (RJ), de Milena Manfredini, passeia pelo mito exuberante e potente de Exú, orixá do Candomblé, e guia de luz da Umbanda, enquanto “República” (SP), de Grace Passô, foi criado durante a pandemia diante da necropolítica de negar a pandemia.
Mostra Oficial Curta-Metragem
Disponível: de 15 a 20 de dezembro
A Morte Branca do Feiticeiro Negro
(Rodrigo Ribeiro, Documentário, SC, 11mim)
A Tradicional Família Brasileira KATU
(Rodrigo Sena, Documentário, RN, 25mim)
(Lilih Curi, Ficção, BA, 10m38s)
(Milena Manfredini, Experimental, RJ, 3 mim)
(Matheus Faria e Enock Carvalho, Ficção, PE, 19m57s)
(Anderson Bardot, Ficção, ES, 25m)
(Muniz Filho, Sávio Fernandes, Documentário, CE, 19m)
(Gregory Baltz, RJ, Documentário, 17m24s)
(Tamiris Tertuliano, Ficção, PR, 5mim)
(Grace Passô, Ficção, SP, 15m30s)
(Breno Nina, Ficção, MA, 23min)
(Ricardo Alves Jr. Ficção, MG, 14m)
Mostra Brasília traz o vigor do cine DF
Com 12 filmes (quatro longas e oito curtas), a Mostra Brasília, com boa parte dos filmes apoiados pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secec, radiografa o polo de criação vigoroso que se espelha nos selecionados. O traço memorial é uma linha que permeia todos os longas-metragens, sendo um deles, “Candango: Memórias do Festival”, de Lino Meirelles, uma ode ao Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
De Jorge Bodanzky, “Utopia Distopia” dá vida ao sonho da Universidade de Brasília (UnB) destroçado pelas sucessivas invasões militares do regime totalitário da década de 1960. A narrativa política segue firme em “Cadê Edson”, de Dácia Ibiapina, sobre militante de movimento sem teto preso em 2015, e se personifica na história do cabelereiro das socialites de Brasília Derly Silva, o preferido da então primeira-dama, Ruth Cardoso. O filme “O Mergulho na Piscina Vazia”, de Edson Forgaça, fecha o quarteto de documentários brasilienses.
Entre os oito curtas, a possibilidade de narrativas e experimentações indica um mosaico de linguagens e temas. Do documentário sobre prostitutas da terceira idade, “Rosas do Asfalto”, de Daiane Cortes, à ficção científica de Thiago Foresti, em “Algoritmo”, há a importância do exercício de criação do cinema feito do Distrito Federal, que, neste ano, destacou-se em sucessivos festivais nacionais e internacionais.
Longas
(Edson Fogaça, Documentário, 83min)
(Dácia Ibiapina, Documentário, 72 min)
Candango: Memórias do Festival
(Lino Meirelles, Documentário, 119 min)
(Jorge Bodanzky, Documentário, 74 minutos)
Curtas
(Thiago Foresti, Ficção, 20min)
(Péterson Paim, Documentário, 29m53s)
(David Murad, Ficção, 15m36s)
(Daiane Cortes, Documentário, 19m57s)
(Letícia Castanheira, Documentário, 13m50s)
Brasília 60 + 60: Do Sonho ao Futuro
(Raquel Piantino, Animação, 13mim)
Delfini Brasília, Olhar Operário
(Maria do Socorro Madeira, Documentário, 22m58s)
(Pablo Ravi, Documentário, 17m14s)
Ken Loach ao vivo
Em torno da exibição dos 30 filmes selecionados, o FBCB terá, como pontos altos, o encontro com o diretor britânico Ken Loach, sobre “o cinema como ferramenta política”, mediado por Silvio Tendler. Expoente do cinema político contemporâneo, o autor de Eu, Daniel Blake (2016) estará, ao vivo, numa sala virtual, no dia 16.12, das 11h às 12h, com transmissão para o Canal do YouTube da Secec.
Serviço
53º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB)
De 15 a 20 de dezembro no Canal Brasil (às 23h, Mostra Oficial de Longas) e na plataforma de streaming Canais Globo (disponíveis de 15 a 20 de dezembro, Mostra Oficial Curtas e Mostra Brasília).
Dia 21 de dezembro, às 20h, cerimônia de premiação transmitida pelo Canal do Youtube do 53º FBCB.
*Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa