13/12/2020 às 11:57, atualizado em 14/12/2020 às 16:52

Mais nutrição para tamanduás no zoológico

Projeto inédito no Brasil investe na criação de ração seca para os animais. DF coordena grupo com foco em garantir segurança alimentar dos bichos 

Por Jéssica Antunes, da Agência Brasília | Edição: Carolina Jardon

Com uma língua comprida, o prato favorito dos tamanduás são os cupins I Foto: Tony de Oliveira / Agência Brasília

Tamanduás são inconfundíveis. Eles têm focinho típico, alongado e estreito, que termina em uma boca pequena com língua comprida e pegajosa usada para saborear cupins na natureza – menu principal da espécie. Acontece que conseguir cupins aos montes não é tarefa fácil, tampouco é simples cupinzeiros crescerem em cativeiro para alimentá-los.

Zoológicos de todo o mundo, incluindo o de Brasília, já desenvolveram, há algum tempo, uma papa líquida cheia de nutriente, mas, agora, na Fundação Jardim Zoológico de Brasília (FJZB), os nove animais estão recebendo uma comida inovadora: a primeira ração feita para a casta, com foco na segurança alimentar e condicionamento animal.

O zoológico da capital faz parte da Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZAB) e coordena o grupo de nutrição que desenvolve a ração produzida por uma empresa especializada na fabricação de insumos para animais. Diretor de Nutrição e Alimentação da instituição brasiliense, Lucas Andrade Carneiro conta que foram meses de trabalho e pesquisa para chegar em uma dieta personalizada e com o tamanho compatível com a anatomia do animal.

“A grande dificuldade que temos no campo de nutrição de animal silvestre é que sempre fazemos adaptações de dietas, que são calculadas e estudadas para chegar no ideal para o animal. Isso é muito trabalhoso e tem limitações porque a composição varia muito entre itens e deve ser precisa. Com tamanduás, isso é multiplicado porque é um bicho muito especialista, que só come cupim”, explica.

A composição da ração criada inclui proteínas, aminoácidos, gorduras parecidos com os encontrados nos insetos – como farinha de carnes e ovos, milho, soja e arroz. No fim do processo, os grãos dissolvem-se facilmente, permitindo a ingestão dos tamanduás, que não têm mandíbula I Foto: Tony de Oliveira / Agência Brasília

A composição da ração criada inclui proteínas, aminoácidos, gorduras parecidos com os encontrados nos insetos – como farinha de carnes e ovos, milho, soja e arroz. No fim do processo, os grãos dissolvem-se facilmente, permitindo a ingestão dos tamanduás, que não têm mandíbula. Os animais começaram a receber a oferta do alimento há um ano em várias unidades do país. A primeira fase era descobrir se os animais trocariam a dieta líquida pela seca, o que foi confirmado.

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No DF, a alimentação é destinada para sete tamanduás-bandeira e dois tamanduás-mirins. Eles são acompanhados, fazem exames periódicos e têm apresentado bons resultados. “A aceitação é boa. Os animais têm mantido o peso, além de passarem a consumir mais água”, descreve o gestor. Outra vantagem é a possibilidade de espalhar a ração pelo espaço de convivência, incentivando a circulação e exploração do recinto.

Líquida, a papa até então utilizada fermenta e estraga com facilidade e tem dificuldade em limpeza e higienização. Por isso, não pode ser distribuída para estimular a movimentação. O preparo também é demorado e custoso. Na prática, cada quilo pode custar quase o dobro do investido na mesma quantidade de ração. “Mas o foco não é economia. É a consciência positiva de que estamos fazendo focado em qualidade e segurança alimentar dos animais”, garante Lucas Andrade Carneiro.

Pode melhorar?

A nova etapa é descobrir quanto dos ingredientes são digeridos pelos animais a partir de análises laboratoriais de fezes coletadas durante cinco dias. “A gente ainda não sabe quanto os tamanduás aproveitam por ser uma ração inédita. Então fazemos um trabalho de digestibilidade para descobrir quanto foi absorvido pelo animal, quanto ele aproveitou e quanto vai usar para se manter vivo. Com isso, poderemos melhorar a composição”, explica a pesquisadora Tatiane Moreno, doutoranda da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Os estudos vão apontar se a proteína do ovo ou a energia do milho também são absorvidos da melhor forma pelos animais, por exemplo. “Estamos conseguindo bons resultados e estamos esperançosos. Já sabemos que a ração funciona, agora queremos saber quantificação para trabalhar melhor os índices. A ração possibilita mais opções de enriquecimento sem ter prejuízo sanitário”, ressalta o diretor de nutrição e alimentação do Zoo.

Até agora, a ração distribuída tinha origem na parceria da associação com a empresa que produz o alimento. Confirmada a aceitação dos animais, o Zoo de Brasília fez a primeira compra e investiu R$ 16.650 na compra de itens para consumo dos tamanduás que vivem na capital.

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