04/04/2021 às 17:00, atualizado em 05/04/2021 às 10:55

Mais de 4 mil atendimentos on-line de terapia comunitária

Grupos de conversa completam um ano de forma virtual, garantindo acolhimento e dando assistência no DF e em outros estados

Por Ana Luiza Vinhote, da Agência Brasília | Edição: Renata Lu

A pandemia levou a terapia comunitária para a internet | Foto: Joel Rodrigues

A barreira física que separa Edcleia Moreira, 42 anos, da terapia comunitária presencial – oferecida pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal – não foi suficiente para atrapalhar o tratamento. Há um ano, os encontros acontecem virtualmente, devido à pandemia do novo coronavírus. Mesmo do outro lado da tela, a assistente de recursos humanos se sente acolhida, ouvida e nunca julgada.

“Eu me sentia muito sozinha. Nos grupos de conversa conheci outras pessoas, que têm os mesmos problemas que eu ou até piores, mas que podem ser superados”, conta Edcleia. “O que eu acho mais interessante é que sempre falamos na primeira pessoa, no eu. Não tratamos a nossa doença, mas sim os sintomas”, comenta.

Edcleia é uma das 4.444 pessoas que foram atendidas pela terapia comunitária. A prática é ofertada desde 2002 pela ONG Movimento Integrado de Saúde Comunitária do DF (Mismec-DF) e também pela Secretaria de Saúde. “Os profissionais são muito atenciosos e carinhosos com a gente. Estão sempre disponíveis para nos ajudar. Mesmo com essa pandemia, não esqueceram da gente. Toda semana fico na expectativa do dia do encontro”, comenta.

[Olho texto=”“Eu me sentia muito sozinha. Nos grupos de conversa conheci outras pessoas, que têm os mesmos problemas que eu ou até piores, mas que podem ser superados”” assinatura=”Edcleia Moreira, 42 anos” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

Os grupos de conversa atravessam mais de mil quilômetros para dar assistência a pessoas de outros estados. Esse é o caso de Magnólia Cardoso, 62 anos, que mora em Santo Antônio, na Bahia. “Uma sobrinha que mora em Brasília me indicou assim que começou a pandemia. Eu estava angustiada, desorientada. Todo mundo dizia que isso ia passar, mas só passou depois que eu comecei a participar do grupo”, lembra.

“Sempre fui adepta a terapia. Acho que todo mundo tinha que fazer, é uma necessidade, mas eu não tinha condições de pagar agora e surgiu essa oportunidade de participar sem custos”, comemora a professora. “Estou aprendendo que eu tenho tudo, que não posso deixar a depressão tomar conta de mim. A terapia comunitária é fantástica, foi a minha salvação. Mesmo se um dia tiver condições de pagar o tratamento individual, continuarei participando desse”, garante.

Dinâmica

Atualmente, existem quatro grupos de conversa, sendo eles com a comunidade, associações e Organizações Não Governamentais (ONGs) – que divulgam o trabalho e ajudam a convidar os interessados, inclusive até fora do país – e estudantes da Universidade de Brasília (UnB). No ano passado, também foram realizados encontros com 2.400 professores da rede pública da capital. Na próxima semana, será a vez dos profissionais da saúde.

[Olho texto=”“Estou aprendendo que eu tenho tudo, que não posso deixar a depressão tomar conta de mim. A terapia comunitária é fantástica, foi a minha salvação. Mesmo se um dia tiver condições de pagar o tratamento individual, continuarei participando desse”” assinatura=”Magnólia Cardoso, 62 anos, professora” esquerda_direita_centro=”direita”]

“É uma forma de dar um suporte emocional, principalmente para eles que estão na linha de frente. Alguns já participam com a comunidade, mas teremos um grupo especialmente para eles”, adianta a técnica de terapia comunitária e psicóloga Doralice Oliveira.

A equipe de profissionais que dão essa assistência é formada por cinco profissionais. Além de Doralice, também participam as duas terapeutas comunitárias, Cássia Maria Garcia e Maria Angélica Raguzzoni, e os dois voluntários Fernando Barbosa e Rosângela Lima. As regras são claras: acolher, ouvir e não julgar. “Uma pessoa só pode falar quando a outra tiver terminado. Apesar de existirem grupos com muitas pessoas, nunca tivemos problemas”, explica Doralice.

Antes da sessão começar, são sugeridos temas. Um será o escolhido e debatido por duas horas. “Trabalhamos dores, dúvidas, auto cobrança, exaustão, principalmente por causa do momento que estamos vivendo. Compartilhamos estratégias de resoluções. É um grande ninho social, eles sentem que há pessoas que se importam com eles, que não estão sozinhos. Já vivemos situações de prevenção ao suicídio”, relembra a técnica de terapia comunitária.

Ajuda mútua

A terapeuta do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) II de Taguatinga Elvana Mihomem também participa das sessões em grupo. Além de dar assistência a quem mais precisa da sua ajuda profissional, ela também sente-se acolhida no trabalho. “É como se ao mesmo tempo eu estivesse fazendo terapia também. É um ambiente de muito respeito e valorização da sua história”, ressalta.

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Elvana ressalta que também é um lugar democrático, com espaço para as diversas manifestações. “Temos regras a serem seguidas, mas não há limite de idade. Aquele pai ou mãe que precisam estar com o filho, podem participar. Além disso, há música, poesia, piadas”, afirma a terapeuta comunitária da rede pública.

Como participar

Além dos pacientes que são encaminhados pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), outros interessados também podem participar das sessões de terapia comunitária. Estudantes da UnB podem enviar um e-mail com a solicitação para o dasu@unb.br e os profissionais da saúde para tcintegrativa@gmail.com.

No site da Associação Brasileira de Terapia Comunitária Integrativa (Abratecom) – organização sem fins lucrativos e parceira da prática da Secretaria de Saúde – é possível encontrar agenda completa de rodas de conversa on-line em todo Brasil, inclusive no DF.