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03/05/2021 às 09:39, atualizado em 03/05/2021 às 13:13
Em formato de cone, flor verde dá aroma, textura e sabor a cervejas; Emater tem incentivado produção na capital
Com o crescente consumo de cervejas artesanais e diferenciadas na capital, produtores estão apostando no cultivo do lúpulo, um dos principais ingredientes da bebida. Em formato de cone, a flor verde é responsável por garantir aroma, textura e sabor à bebida. Em Brasília, o interesse pelo cultivo, que tem mercado certo, vem crescendo.
[Olho texto=”“É um mercado que está crescendo. É um insumo que não se encontra com tanta facilidade nas proximidades” ” assinatura=”Breno Borges, arquivista e produtor” esquerda_direita_centro=”direita”]
Em cinco anos, o número de cervejarias nacionais cresceu 264%, segundo dados do Anuário da Cerveja no levantamento divulgado no início de 2020 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em 2015, eram 332 fábricas. Em 2019, esse número saltou para 1.209. Já um outro estudo elaborado pela Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo) aponta que, em 2019, o Brasil importou 3,6 mil toneladas do produto.
De olho no mercado, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater) tem auxiliado produtores com o cultivo de lúpulo na capital. No Lago Oeste, Breno Borges, 42 anos, arquivista de formação e profissão, é um dos exemplos de pessoas que estão investindo na planta. Há dois anos, ele se interessou pelo mercado e começou os experimentos em sua propriedade.
“Foi por curiosidade”, conta. “Tinha conhecidos que plantavam ou que conheciam quem plantava. É um mercado que está crescendo. É um insumo que não se encontra com tanta facilidade nas proximidades. Achei que seria uma boa oportunidade de plantar o lúpulo e conquistar o mercado cervejeiro.”
Nas primeiras conversas com o produtor Pablo Tamayo, Breno conta ter se interessado ainda mais e, com isso, passou a comprar algumas mudas. No início, o cultivo era na varanda da propriedade, apenas como experimento. Mas, de acordo com ele, logo veio a vontade de ocupar mais espaços com a plantação. Foi então que decidiu entrar de vez no ramo e investiu nas estruturas de eucalipto e cabo de aço para aguentar o peso da planta, que, segundo informa, pesa entre 20 kg e 25 kg.
[Olho texto=”Clima do DF permite ao produtor ter até três safras de lúpulo por ano” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”]
“Apesar do investimento alto e de todo o trabalho, eu estou feliz; está indo no ritmo que eu imaginava, está funcionando bem”, comemora Breno. Ele já provou a cerveja feita com seu lúpulo e garante ter gostado do resultado. “Já tem cervejeiros caseiros e pequenas cervejarias interessados no lúpulo que estou produzindo. Já passei para algumas pessoas da área que se comprometeram a fazer a cerveja justamente para testar e, posteriormente, me darem um retorno da qualidade.”
Na propriedade de Breno, a Emater tem prestado assistência com orientações diversas sobre o cultivo. “Como não sou agrônomo e não sou da área, não tenho muita noção da parte de adubação, manejo do solo, o que colocar na terra, como fazer análise. Foi então que procurei ajuda da Emater”, relata o novo produtor.
No Distrito Federal, que tem um clima diferenciado, com estações chuvosa e seca bem-definidas, é possível ter até três safras do lúpulo por ano. No entanto, para os iniciantes, apenas na terceira ou quarta safra é que o lúpulo atinge boa maturidade e alcança a qualidade ideal de sabor e aroma para a bebida.
“Por ser uma cultura trabalhosa e com alto investimento, ao longo do processo ela dá um retorno muito grande”, explica o gerente do Escritório de Agricultura Orgânica e Agroecologia da Emater, Daniel Oliveira. “Então, a partir deste despertar, a Emater começou a atender de forma mais efetiva e até estimular os produtores no cultivo de lúpulo, que tem muito valor agregado”. Auxílio com técnicas de irrigação e adubação, identificação de pragas na plantação, análise de solo, questões de pós-colheita e aquisição de crédito rural são alguns dos serviços prestados pela empresa aos produtores.
“Minha expectativa é começar a comercializar meu lúpulo no próximo ano, a partir do momento em que eu conseguir uma qualidade boa para venda”, diz Breno, que está na fase de experimentos do lúpulo. Em flor, para consumo in natura, o ingrediente precisa ser utilizado poucos dias após a colheita. No formato de flor seca e embalada a vácuo, o tempo de uso sobe para dois anos. Já quando se transforma a flor em pellet, deixando-a igual aos lúpulos importados, em formato de pastilha, o prazo de validade é aumentando para até três anos.
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Referência em produção
Considerado uma das referências em conhecimento no cultivo do lúpulo, Pablo Tamayo começou a investir e estudar o lúpulo em 2017. Hoje, sua produção ainda não está em grande escala, mas ele consegue ter até três safras no ano e vender seu produto fresco e também embalado a vácuo e refrigerado. Segundo o produtor, mesmo o lúpulo desidratado e embalado a vácuo, com validade de até seis meses, tem alto valor agregado, por ser considerado fresco.
Em 200 metros quadrados, em sua propriedade no Lago Norte, Tamayo consegue cultivar cerca de 60 plantas, o que lhe rende entre 30 kg a 45 kg por colheita e de 100 kg a 150 kg por ano. Como a planta cresce para cima, é possível colocar entre 2,5 mil a 3 mil exemplares em 1 hectare – o que, segundo ele, permite um produto final, já seco, entre mil e dois mil quilos.
“É um negócio bastante atrativo do ponto de vista financeiro”, frisa Tamayo. “Ele é um produto que tem um potencial muito bom de preço de venda. Tem lúpulos bons, brasileiros, sendo vendidos entre R$ 150 e R$ 300 o quilo. O custo de algumas produções varia entre R$ 40 e R$ 50 o quilo.”
Hoje, ele consegue vender seu lúpulo para fábricas de kombucha em Brasília e em Florianópolis (SC), além de algumas cervejarias artesanais da capital. Por comercializar lúpulo orgânico, ele garante ter um bom retorno das vendas. “A expectativa é expandir para um cultivo profissional e comercial maior”, diz.
Pablo trabalhava com infraestrutura de tecnologia de redes quando começou a se interessar por agricultura e cultivo orgânico. Com o conhecimento repassado por alguns amigos sobre o cultivo orgânico de hortaliças, seu interesse era cultivar algo diferente. Na época, ouviu falar do lúpulo, que era uma planta importada, sem cultivo no Brasil e que dava sabor e características especiais para a cerveja. Foram motivos suficientes para se apaixonar, aprender tudo sobre o cultivo e começar o investimento no quintal de casa.
Colheita
No processo de colheita, a parte aérea da planta é arrancada no tronco. Daí são aproveitados os cones. A rebrota ocorre a partir da raiz (rizoma) que permanece em campo, sendo vigorosa, crescendo até 30 cm por dia. A nova colheita somente ocorre após quatro meses, quando as hastes já estão grandes novamente e com flores.
Com a colheita feita toda manualmente, Breno conta ter bastante trabalho. “Tem que arrancar planta e arrancar cone por cone. Isso demanda muito tempo. Quem tem o maquinário agiliza todo esse processo, mas adquirir o maquinário tem um custo muito alto”, pontua.
De acordo com o extensionista Daniel, a perspectiva da Emater e do grupo de produtores que cultivam lúpulo é adquirir o maquinário por meio do Fundo de Desenvolvimento Rural (FDR). Com isso, todo o trabalho hoje manual, de colheita e separação do cone, será realizado pelo maquinário, eliminando grandes gargalos para pequenas produções.
Após a colheita dos cones, Breno diz que o passo seguinte é levar para a secagem, para depois embalar a vácuo. No caso do uso sem secar, ele explica que a cervejaria precisa ser próxima para utilização do produto em até 48 horas. O consumo do lúpulo fresco, segundo Breno, dá mais frescor e sabor à cerveja. No entanto, a quantidade usada acaba sendo quase quatro vezes maior do que o lúpulo seco.
*Com informações da Emater