26/06/2021 às 09:07, atualizado em 26/06/2021 às 17:21

Odontologia do HRT atende casos de anemia falciforme

Doença também se manifesta na cavidade oral, o que reforça a importância de consultar regularmente com um profissional da área

Por Agência Brasília * I Edição: Carolina Jardon

A equipe de odontologia do Hospital Regional de Taguatinga oferece atendimento especializado a pessoas com anemia falciforme. A doença é uma das alterações genéticas mais frequentes no Brasil, que passa dos pais para os filhos, e se caracteriza pela mutação no gene da hemoglobina, produzindo a hemoglobina S.A, manifestando-se com anemia, icterícia, infecções, crises álgicas, úlceras de perna e acidente vascular cerebral.

Em adultos, observa-se o maior risco de doenças periodontais e de cárie, não apenas pela utilização de medicamentos que suprimem o fluxo salivar, alterando os fatores de defesa do hospedeiro, mas pela própria característica da depressão, comum nesses pacientes. Outras complicações orais são bem mais frequentes nos pacientes com doença falciforme, como osteomielite, neuropatia do nervo mandibular, dor orofacial e necrose pulpar assintomática.

O trabalho da equipe de saúde bucal com um paciente com doença falciforme é ensinar medidas para estimular a adotar hábitos que resultem no autocuidado | Foto: Geovana Albuquerque / Agência Saúde

O atendimento a esses pacientes no ambulatório de odontologia do Hospital Regional de Taguatinga é realizado logo após uma detalhada entrevista e exames clínicos, considerando todo o histórico da doença, a tolerância aos procedimentos operatórios e as condições físicas e emocionais do paciente. Uma situação de estresse poderia desencadear uma crise falcêmica.

O enfoque da equipe de saúde bucal frente a um paciente com doença falciforme é adotar medidas educativas, estimulando uma maior consciência e autonomia a respeito de sua saúde, com vistas à adoção de hábitos que resultem no autocuidado, como a prevenção da cárie e da doença periodontal. Os procedimentos envolvem instrução de higiene oral, aplicação tópica de flúor, aplicação de selantes e adequação do meio bucal.

Atuação da odontologia

A cirurgiã-dentista Patrícia Ferreira Gontijo trabalha na Unidade de odontologia do HRT e fala da parceria entre os setores para o melhor atendimento a esses pacientes: “Atuamos conjuntamente com a hematologia. Respondemos pareceres e acolhemos os pacientes com cuidados de atenção primária e especializada. São pacientes com várias comorbidades associadas, que merecem um atendimento humanizado e interdisciplinar”.

[Olho texto=”O diagnóstico da doença falciforme é feito nos bebês pelo teste do pezinho, pois os sintomas aparecem logo nos primeiros quatro meses da criança” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”]

O profissional de odontologia atua como integrante multidisciplinar da rede e desenvolve importante função no tratamento da doença, por meio de exames laboratoriais, clínicos e radiológicos, para adoção da conduta mais favorável a esses pacientes. Pessoas com doenças falciformes possuem problemas que podem fazer com que o tratamento desencadeie crises em virtude do risco de infecções, bem como do estresse físico. O cirurgião-dentista deve estar atento a qualquer foco de infecção bucal, atuando no sentido de eliminá-lo para evitar o desencadeamento de uma crise falcêmica.

Comitê técnico

No Distrito Federal há um comitê técnico dedicado ao estudo de hemoglobinopatias hereditárias, criado por meio de parceria entre a Fundação Hemocentro de Brasília e a Associação Brasiliense de Pessoas com Doença Falciforme (Abradfal) para cadastrar pessoas com anemia falciforme.

Elvis Silva Magalhães é o coordenador científico da Federação Nacional das Associações de Pessoas com Doença Falciforme e coordenador geral da Abradfal. Ele atua com transplante de medula óssea há 16 anos e sabe da importância desse atendimento direcionado.

“Essas pessoas não vão ao hospital à toa; quando elas chegam às emergências, é porque não estão suportando mais a dor em casa. E ter profissionais treinados que seguem os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde, para sanar a dor desses pacientes, é o que a gente busca, porque a dor da doença falciforme é uma dor excruciante”, informa.

O que é a doença falciforme?

Caracteriza-se pela alteração no formato dos glóbulos vermelhos. Por causa da aparência, é chamada de falciforme (em forma de foice). Devido a essa alteração, esses glóbulos têm um tempo de vida menor e aumentam o risco de obstrução dos vasos sanguíneos, o que pode levar o paciente a ter dor generalizada, apatia e fraqueza.

O diagnóstico da doença falciforme é feito nos bebês, com o teste do pezinho, pois os sintomas aparecem logo nos primeiros quatro meses da criança. Outro meio de descobrir a existência da doença é medir a dosagem de bilirrubina associada ao hemograma em pessoas que não fizeram o teste do pezinho ao nascer.

Pacientes com doença falciforme tendem a desenvolver infecções bacterianas orais com mais frequência, devido à mutação dessa hemoglobina. As consultas regulares com um profissional de odontologia são importantes, pois a doença se manifesta também na cavidade oral. Em crianças, pode-se observar hipomineralização em esmalte e dentina e atraso na erupção dos dentes.

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Quando o hematologista necessita de um parecer ou um atendimento especializado, encaminha o paciente à Unidade de Odontologia do HRT. O atendimento no ambulatório do HRT é regulado, e os pacientes são direcionados à unidade via regulação. O atendimento inicial ocorre nas unidades básicas de saúde, que encaminham, quando necessário, os pacientes para outra unidade especializada. Na Região de Saúde Sudoeste, a referência é o HRT, cujo ambulatório oferece atendimento em endodontia, periodontia e cirurgia.

*Com informações da Secretaria de Saúde