23/07/2021 às 18:12, atualizado em 23/07/2021 às 18:32

Projeto do FAC reúne violas do DF em dois documentários

Com fomento de R$ 80 mil, os filmes – de 15 minutos cada um – estreiam no YouTube nesta sexta (23) e sábado (24), às 19h

Por AGÊNCIA BRASÍLIA* | EDIÇÃO: ROSUALDO RODRIGUES

Há um sentimento intenso que une o tocador e a viola. Essa paixão move o projeto Viola Central – Ponteios Regionais, que também narra a origem e o destino do instrumento e os desafios enfrentados no aprendizado e no treino.

[Olho texto=”“Em Brasília, temos desde a viola tradicional em Planaltina à viola repentista nordestina em Ceilândia, bem como a viola mais urbana, no Plano Piloto. Resolvemos propor um mapeamento de toda essa riqueza”” assinatura=” Domingos de Salvi, pesquisador e diretor musical do Instituto Câmara Clara” esquerda_direita_centro=”direita”]

São dois documentários (A Viola e o Tempo e Viola Mística), gravados em estúdio, que chegam ao público, com acesso gratuito, nesta sexta (23) e no sábado (24), às 19h, no Canal Câmara Clara, no YouTube, com chat aberto para participação. Os dois filmes somam cerca de 30 minutos e contam com intérprete de libras e legenda.

Coordenado por Domingos de Salvi, Daniel Choma, Tati Costa e Sara de Melo, o projeto tem fomento do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), no valor de R$ 80 mil, com a geração de oito empregos diretos e indiretos.

“Brasília é um lugar muito rico culturalmente, e no universo da viola caipira, ou viola brasileira, não é diferente. Nós temos desde a viola tradicional em Planaltina à viola repentista nordestina em Ceilândia, bem como a viola mais urbana, no Plano Piloto. A partir disso, resolvemos propor um mapeamento de toda essa riqueza”, explica Domingos de Salvi, pesquisador e diretor musical do Instituto Câmara Clara.

Realizado entre 2019 e 2021, o projeto fortalece o reconhecimento social da viola como patrimônio cultural nacional | Foto: Divulgação/Secec

O objetivo é reunir a história da viola no Distrito Federal e apresentar violeiros das distintas Regiões Administrativas (RAs). Os filmes também circularão em DVD, cujos exemplares serão distribuídos gratuitamente a redes de TV a cabo, canais de televisão públicos, universitários e educativos.

Realizado entre os anos de 2019 e 2021, o projeto Viola Central – Ponteios Regionais fortalece o reconhecimento social da viola como patrimônio cultural nacional. Assim, a narrativa convida violeiros a mostrarem como é apaixonada e diversa a relação entre tocador e instrumento.

Participam do projeto os violeiros Chico Nogueira, Claudivan Santiago, Domingos de Salvi, Fábio Pozzebom, Juca Violeiro, Macedo e Mariano, Mariana Mesquita, Reinaldo Cordeiro, Sousa Coelho, Tião Violeiro, Wellington Abreu e Wellington Assis.

Tião Violeiro, 79 anos, é o entrevistado mais experiente entre os entrevistados do projeto | Foto: Daniel Choma/ Divulgação

Gerações candangas

Nascido em Brasília e criado em fazendas de Goiás, Fábio Pozzebom ouvia, durante a infância, música caipira com seu avô, Francisco Alves, o Chico Viola. Ganhou um violão do tio e, em 1994, começou a cantar em festas familiares e em pequenos festivais. Em 2005, começou uma dupla sertaneja com Cleyton Mendes, chamada Charles e Cleyton. Na ocasião, adotou o nome Charles, o nome do meio. Juntos, lançaram o disco Papel Amassado.

“A viola tem essa particularidade, de ser familiar, de ser de casa. Apesar de que, para você ser sertanejo ou caipira, basta se sentir do sertão. A música caipira está no DNA de quem viveu no interior. Como a viola é um instrumento presente no nosso país desde o descobrimento, acredito que a música caipira está no inconsciente coletivo do nosso povo”, relata Pozzebom.

[Olho texto=”“Todo instrumento bem tocado é bonito, mas acho que a viola tem um quê que atrai quando se ouve pela primeira vez”” assinatura=”Regivaldo de Sousa Coelho, luthier” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

Enquanto compunha a dupla, Fábio profissionalizou-se como músico com o mestre Roberto Correa, da Escola de Música de Brasília (EMB). Atualmente, Pozzebom também atua como fotojornalista, mas nunca deixou de tocar os clássicos caipiras e canções de sua própria autoria.

O entrevistado mais experiente que compõe os documentários do projeto é o Tião Violeiro, que aos 79 anos toca moda em eventos e festas. Com a mulher, fez dupla durante muito tempo, Tião Violeiro e Anita participaram diversas vezes do programa televisivo Brasil Caipira, comandado por Luiz Rocha.

Natural de Patos de Minas, Tião aprendeu o instrumento sozinho, ouvindo as tradicionais músicas caipiras e tentando reproduzi-las em seus instrumentos. Morador de Brasília desde os 22 anos de idade, trabalhou como mestre de obras até a aposentadoria. Em casa, ensinou a viola para dois de seus netos.

“Comecei por volta dos meus 10 anos, tocando em Folia de Reis. Em casa, tínhamos instrumentos, violão, acordeom. Mas eu era mais chegado aos de corda. Comecei mesmo em um cavaquinho. Tomei gosto e, aos 13 anos, comecei a tocar viola. Desde então, não parei mais. Toquei e cantei em duplas com meus irmãos e primos.”, conta Tião Violeiro.

No documentário, o trabalho de luthier é descrito por Regivaldo de Sousa Coelho, que há quatro anos fabrica violas | Foto: Divulgação/Secec

O violeiro acredita que a viola nunca esteve tão em alta. Como foi professor de viola, ensinou muitas pessoas e se orgulha de seu ofício e de suas apresentações. “A minha mente é muito boa, eu cantava 50 modas de cabeça, fazia e faço até hoje.”, concluiu.

Criador de violas

Cordas, tarraxas, osso, captadores elétricos e madeira são os materiais básicos utilizados por um luthier, profissional especializado em construção e manutenção de instrumentos de corda com caixa de ressonância. Pau ferro, cedro, mogno e Jacarandá da Bahia são as melhores espécies de madeira para o serviço artesanal. É importante, sobretudo, que as ripas tenham pelo menos 10 anos de cortadas, e que estejam sem trincas ou rachaduras.

Regivaldo de Sousa Coelho, luthier há quatro anos e residente em Arniqueira, relata ter clientes de todos os segmentos da viola, dos mais tradicionais aos instrumentais modernos. Especialista em violas, Regivaldo dedica seu tempo também ao tocar do instrumento. Ele enxerga um crescimento no interesse dos jovens pela arte caipira.

“Todo instrumento bem tocado é bonito, mas acho que a viola tem um quê que atrai quando se ouve pela primeira vez. E está ganhando uma outra dimensão no cenário cultural. Hoje, vejo muitas crianças que são violeiras e tocam vários estilos de música”, diz Regivaldo, um dos entrevistados do documentário.

Programação

A Viola e o Tempo
Estreia em 23 de julho de 2021, às 19h

Viola Mística
Estreia em 24 de julho de 2021, às 19h

 

*Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa