19/11/2021 às 10:09, atualizado em 19/11/2021 às 10:47

Número de negros desempregados cresceu nos seis primeiros meses de 2021

Redução da população negra no mercado de trabalho no DF pode ter se agravado em razão da pandemia

Por Agência Brasília* I Edição: Carolina Jardon

Em alusão ao Dia da Consciência Negra, a Companhia de Desenvolvimento do Distrito Federal (Codeplan) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos (Dieese) apresentaram, nesta quinta-feira (18), o boletim anual População Negra e Desemprego no Distrito Federal, com intuito de atualizar o quadro das relações raciais no mercado de trabalho regional.

O ano de 2020 ficou marcado pela pandemia, que impactou, de forma ainda mais negativa, os números do desemprego para a população negra. Já em 2021, a chegada da vacinação trouxe uma esperança para a degradação do mercado de trabalho, mas, mesmo com seu avanço, indicadores de participação e desemprego ainda marcavam defasagens em relação a 2019.

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Mulheres e homens negros entre 18 e 24 anos são o maior grupo dentre os desempregados, correspondendo a 31,9% e 34,0%, respectivamente, no primeiro semestre deste ano

Nos primeiros seis meses de 2021, a População em Idade Ativa (PIA) do DF era, em sua maioria, negra, com volume de pessoas que se autodeclaravam pretas e pardas alcançando 61,7% dos moradores com 14 anos ou mais, o equivalente a cerca de 1.552 mil pessoas.

Desse número, a proporção de mulheres negras na PIA foi de 32,7%, e a de homens negros, 29,0%. Enquanto a população não negra correspondia a 21,4% e 16,9%, mulheres e homens respectivamente.

A força de trabalho da capital também era majoritariamente negra no primeiro semestre de 2021 (63,9%), todavia, essa presença superava o percentual identificado na configuração demográfica da população potencialmente mobilizável para o universo do trabalho pago (PIA).

Já a relação de gênero na integração da População Economicamente Ativa (PEA) regional apresentava nuances, uma vez que homens negros se integravam mais intensamente à PEA (33,3%) do que figuravam na PIA, enquanto o engajamento das mulheres negras (30,6%) ficava aquém da correspondência populacional.

Entre o primeiro semestre de 2021 e o de 2019, período anterior à pandemia, houve uma redução na presença da população negra no mercado de trabalho do DF, passando de 69,9% da PEA para o patamar atual de 63,9%. O patamar das taxas de desemprego no período antes da pandemia, ou seja, 2019, demonstra com nitidez o diferencial vivenciado por negros e não negros no mercado de trabalho.

“A pandemia de covid afetou as economias e os mercados de trabalho regionais atingindo com mais contundência os segmentos mais vulneráveis da população, isso todos já sabemos. Porém, o que se percebe é que a superação desse período deixará marcas. A população negra ainda sofria com o desemprego alto no DF, no primeiro semestre de 2021. Além disso, enfrentava maior dificuldade para uma recolocação, mesmo tendo experiência anterior de trabalho. O desemprego ainda atingia parcela substantiva dos responsáveis pela renda domiciliar e percentual importante dos jovens adultos. Estamos falando do coração da força de trabalho negra. Essa situação afeta a vida não apenas dos pretos e pardos, mas de todo o DF”, explica a economista Lúcia Garcia, técnica do Dieese.

Quem são os desempregados negros?

Mulheres negras chefes de domicílio representaram 18,6% das desempregadas, acima da proporção constatada no primeiro semestre de 2019 e abaixo que do mesmo período de 2020

A PED registrou uma persistente concentração dos desempregados negros em duas faixas etárias: jovens entre 18 e 24 anos e adultos entre 30 e 39 anos. Os grupos juntos agregavam mais da metade dos desempregados negros nos primeiros seis meses de 2021 (51,5%), número inferior ao identificado no mesmo período em 2020.

Mulheres e homens negros entre 18 e 24 anos são o maior grupo dentre os desempregados, correspondendo a 31,9% e 34,0%, respectivamente, no primeiro semestre deste ano.

Quanto aos adultos entre 30 e 39 anos, o segundo maior segmento etário em desemprego regional, a proporção de mulheres nessa época foi de 20,0%, número superior ao de 2019 (19,6%); e a de homens; 17,0%, sendo esse percentual 0,9 e 1,5 pontos percentuais menor que o os observados em iguais períodos de 2019 e 2020.

“O que observamos no mercado de trabalho é um reflexo da sociedade brasileira, um ponto de vista da questão racial, onde ele também é‘ racializado’, assim como nossa sociedade. Os negros representam o maior contingente entre os desempregados, recebem os menores rendimentos e possuem menos tempo de escolaridade e formação”, afirmou o presidente da Codeplan, Jean Lima.

Na perspectiva de inserção por domicílio, em 2021, as pessoas que ocupavam as posições de filho e chefe de domicílio preponderam dentre os desempregados (71,3%). Desse percentual, 48,8% na condição de filhos e 22,5% na de chefes. Por sua vez, a parcela negra de desempregados que ocupava a posição de cônjuge e de demais membros em suas moradias correspondia, respectivamente, a 16.6% e 12,1%.

A análise por cortes de sexo mostrou que, entre as mulheres negras desempregadas na capital federal, a posição de filhas no domicílio de residência foi predominante, representando 44,1% (primeiro semestre de 2021), percentual 1,4 e 2,2 pontos percentuais maior que os observados no mesmo semestre dos dois anos anteriores. As mulheres negras na posição de cônjuge correspondiam a 26,1%, grupo que teve redução gradativa, no comparativo de anos anteriores (29,7% em 2019; e 28,8% em 2020).

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Já mulheres negras chefe de domicílio representaram 18,6% das mulheres negras desempregadas, acima da proporção constatada no primeiro semestre de 2019 e menor que do mesmo período de 2020.

“Entre os negros ainda há uma simetria entre gêneros, em que as mulheres exercem funções de baixa qualificação e em atividades informais. Apesar do avanço das políticas de ações afirmativas de acesso a renda nos últimos anos, que mitigaram um pouco essas desigualdades, é necessário que o Estado garanta acesso e permanência da população negra, principalmente de baixa renda, a escolaridade e educação, a formação profissional, para que esses indicadores possam ser alterados.  Sem isso, será difícil diminuir essa desigualdade no mercado de trabalho”, concluiu o presidente da Codeplan.

* Com informações da Codeplan