02/01/2022 às 10:58, atualizado em 02/01/2022 às 12:08

Toque feminino na construção do Túnel de Taguatinga

Um grupo de mulheres participa da obra que vai mudar a rotina da região. Até agora foram executados 60% dos serviços

Por Adriana Izel, da Agência Brasília | Edição: Isaac Marra

“Quando eu passar por aqui no futuro, sempre vou lembrar que tem um pedaço meu”. É assim que a jovem Alanna de Moura Lemos, 21 anos, estagiária de engenharia civil do Túnel de Taguatinga, explica a sensação de fazer parte da equipe de operários que trabalha para construir a importante passagem que mudará o trânsito da região. A obra atingiu 60% dos serviços executados e a entrega está prevista para o primeiro semestre deste ano.

Alanna compõe um grupo de 10 mulheres de diferentes áreas que integra o quadro de cerca de 300 funcionários do consórcio Novo Túnel, responsável pelos trabalhos. A mais jovem profissional do time feminino diz se sentir bastante acolhida no ambiente de trabalho. “Quando eu entrei, recebi muito apoio dos homens. Eu não esperava. Acredito que cada um deles têm contribuído bastante na minha formação”, completa.

Patrícia Carias Santos, técnica de qualidade, é outra trabalhadora que destaca a importância da presença feminina na obra viária considerada uma das maiores em andamento no país. “Acho muito interessante falar que as mulheres estão junto com os homens fazendo o projeto acontecer. Um projeto que vai ser de extrema importância, que vai desafogar o trânsito. É uma obra muito bonita. Fico muito entusiasmada para ver a obra logo pronta”, admite ela, que tem 12 anos de experiência na área.

Fotos: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Apesar do pequeno número, as mulheres são presença marcante na obra do Túnel de Taguatinga. Fotos: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Presença feminina

Apesar das mulheres ainda serem minoria no canteiro do Túnel de Taguatinga, as profissionais percebem mudanças. “Hoje, a gente já evoluiu bastante. O número de mulheres é bem maior do que já foi um dia”, comenta a assistente técnica Mairla Carneiro Machado, que entrou na construção civil em 2008.

Técnica em gestão há 15 anos, Solange Nunes dos Santos notou a evolução no cenário da construção civil com o passar do tempo. “Quando eu fui trabalhar em obras de trechos, mulher era raridade. Você via muito no escritório, mas em obra é algo que está acontecendo nessa geração nova”, explica.

Uma das recordações de Solange no início da carreira era a preocupação dos homens com a falta de um banheiro feminino. “Quando eu entrei não tinha essa preocupação [no canteiro de obras]. Esse ambiente que abraçava a mulher, não tinha. Hoje, você chega e vê essa preocupação, com vestiário, banheiro”, comenta.

Incentivo

“A presença feminina é cada vez mais marcante, seja na gestão, seja ocupando outros espaços dentro da cadeia da construção civil. Nós procuramos incentivar [a presença feminina], uma vez que entendemos que as mulheres têm tanta capacidade ou até mais do que os homens”, avalia o secretário de Obras, Luciano Carvalho.

O titular da pasta destaca que essa iniciativa ocorre dentro da própria secretaria que tem mulheres em cargos importantes e segue para as obras. “Uma das maiores contribuições, fora a força de trabalho, é esse olhar diferenciado. A mulher consegue fazer uma análise mais ampla da situação, com um olhar mais humano”, completa.

“A engenharia civil tem muito a ganhar com a presença de mulheres. A gente traz mais sensibilidade e um novo olhar, mais detalhista”, concorda a engenheira civil Giovana Assis Heider. Ela atua na área de planejamento.

[Numeralha titulo_grande=”10″ texto=”é o total de mulheres no canteiro de obras do túnel” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

A  técnica de edificações Nara Gama Alves é uma das mulheres que está no dia a dia do trabalho de campo, fazendo a verificação do aço e das peças da obra. “Não gosto de ficar só olhando, às vezes eu coloco a mão na massa, ajudando os meninos na contagem, na separação das peças… 99% das pessoas com quem eu trabalho são homens. Mas é uma relação de respeito”, comenta. Ela acredita que a forma de convivência vem da reciprocidade. “Eu não os trato com diferença. O meu relacionamento com as mulheres é o mesmo dos meninos”, classifica.

O engenheiro civil Antonio Amorim Sobrinho afirma que trabalhar com mulheres é algo muito natural, apesar do ambiente predominantemente masculino. “As mulheres trazem um senso de organização, meticulosidade e um pouco mais de leveza ao ambiente. Havendo respeito e postura correta, podemos mudar essa visão torta e a competição descabida, uma vez que capacidade e inteligência não dependem de sermos homens ou mulheres”, classifica.

Fotos: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Além de conferir de perto o trabalho de seus colegas, Nara faz questão de “colocar a mão na massa” : ajuda na contagem e separação das peças, entre outras coisas. Fotos: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Túnel de Taguatinga

Com previsão de entrega para este ano, o Túnel de Taguatinga terá 1.010 metros de extensão e vai contar com duas vias paralelas, cada uma com três pistas de rolamento em cada sentido, facilitando a vida dos motoristas que chegam ou saem de Taguatinga.

A passagem subterrânea fará uma ligação para motoristas que trafegam no sentido Ceilândia, pela Avenida Elmo Serejo, além de oferecer uma via alternativa pela superfície para o centro de Taguatinga, evitando retenção de veículos nos semáforos do centro da cidade.

Com 38,7 quilômetros de extensão, o Corredor Eixo Oeste – do qual o túnel de Taguatinga faz parte – terá o alargamento de pistas e a construção de faixas exclusivas nas principais vias de ligação do Sol Nascente com o Plano Piloto, como a Avenida Hélio Prates, a Estrada Parque Indústrias Gráficas (Epig) e a Estrada Setor Policial Militar (ESPM), que leva ao terminal da Asa Sul.