12/01/2022 às 20:19, atualizado em 12/01/2022 às 20:21

Eduardo e Mônica se amam no Cine Brasília

Pré-estreia nacional terá três sessões, de quinta-feira (13) a sábado (15), sempre às 21h, com classificação indicativa de 14 anos

Por Agência Brasília* | Edição: Renata Lu

O Cine Brasília faz pré-estreia nacional de um dos filmes mais aguardados desde 2020, quando irrompeu a pandemia da covid-19: “Eduardo e Mônica”, filme de René Sampaio estrelado nos papéis do título da canção de Renato Russo por Gabriel Leone e Alice Braga. Serão três sessões pagas (R$ 20 a inteira e R$ 10 a meia), de quinta-feira (13) a sábado (15), sempre às 21h, com classificação indicativa para 14 anos.

“Eduardo e Mônica” recebeu o prêmio de “Melhor Filme Estrangeiro” no Festival de Cinema de Edmonton, no Canadá, que tradicionalmente seleciona filmes que se credenciam ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro | Foto: Divulgação

Os ingressos podem ser comprados na bilheteria do Cine Brasília (dinheiro e cartões de crédito e débito ou pela plataforma Digital Ingresso). O equipamento da Secretaria de Cultura e Economia Criativa dispõe de 607 lugares, com uso obrigatório de máscaras.

Com fomento do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) no valor de R$ 994.720,93, para um orçamento total de R$ 10 milhões, o longa-metragem é a segunda película do brasiliense René Sampaio sobre o repertório do “trovador solitário”, como era conhecido Renato Russo. Admirador confesso da Legião Urbana, Sampaio havia alcançado o sucesso com “Faroeste Caboclo” (2013), outro grande sucesso da Legião Urbana, cuja adaptação cinematográfica foi vista por mais de 1,5 milhão de espectadores.

“A Secretaria de Cultura e Economia e Criativa tem apostado no cinema brasiliense e tem consciência de sua qualidade para ganhar o Brasil e o mundo. Só em 2021 foram R$ 54 milhões para o audiovisual. Poucas unidades da Federação têm investido no cinema como o Distrito Federal”, aponta o secretário de Cultura em exercício, Carlos Alberto Jr.

O diretor lamenta não poder estar na sala projetada por Oscar Niemeyer. “Estive numa apresentação do filme em Brasília em dezembro. Desta vez, também queria muito estar. Mas, as sessões acontecem uma semana antes da estreia no restante do país e coincidem com a estreia nos EUA, em Miami.”

René recorda as circunstâncias da estreia mundial do filme no Festival de Cinema de Miami em março de 2020. “Depois, veio a pandemia. Agora, finalmente, ele vai entrar no circuito comercial. É uma grande vitória para o nosso cinema estrear comercialmente em outros países, em particular nos Estados Unidos.” Mas ele faz uma promessa: “Assim que voltar a Brasília, quero ver o filme com o nosso público no Cine Brasília, num cinema de shopping, em alguma das cidades fora do Plano Piloto e no Cine Drive-in”.

“Eduardo e Mônica” recebeu o prêmio de “Melhor Filme Estrangeiro” no Festival de Cinema de Edmonton, no Canadá, que tradicionalmente seleciona filmes que se credenciam ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Confira abaixo entrevista com René Sampaio.

René Sampaio | Foto: Divulgação

Qual o sentimento de estrear “Eduardo e Mônica” agora no Cine Brasília?

Só podia ser assim. É a minha terra, a do Renato, a da Legião. A banda retrata Brasília nas letras. Eu, nos meus filmes. A primeira pré-estreia já foi em Brasília, com mais de mil pessoas, no retornar às salas, após uma longa espera. Esse é, sem dúvida, um filme feito para a tela grande e para grandes emoções. Por isso, adiamos a estreia, resistimos aos apelos do streaming. Escolhemos o momento em que já seria possível para todo mundo celebrar o amor, a vida, a amizade, ir de mãos dadas aos cinemas, um verdadeiro evento. Ir ao cinema é como estar presente em um show. Uma sensação diferente de ouvir uma música numa playlist. A história de amor desse casal é universal. O filme se comunica com todas as plateias e foi premiado em importantes festivais internacionais. Mas é óbvio que, para os brasilienses, tem um sabor muito especial, de se ver na tela, de ver coisas com as quais vão se identificar de uma forma muito particular. E talvez, exatamente por ser tão brasiliense, tão local e autêntico, ele tenha um charme especial para quem é de fora também. A gente vê Brasília muito menos do que deveria no nosso audiovisual. E geralmente, sem abordar a vida do cidadão comum, o cotidiano.

Em entrevistas anteriores, você menciona o desafio de fazer um filme baseado em uma música. Menciona como facilitadora a questão da emoção coletiva. Pode dar uma ideia dos desafios que o roteiro enfrentou?

O maior desafio em relação ao roteiro é completar as lacunas da história da música e aprofundar os dilemas dos personagens sem fugir do espírito da música. Na hora de fazer a adaptação, a gente tentou ser muito fiel ao que está na letra e, principalmente, ao espírito solar da música. Buscamos, também, contemplar um pouco da visão do autor original e da minha, claro. Ali a gente busca resgatar não só essa música, mas toda a obra do Renato, que sempre teve um fundo político e também emocional.

Você se refere ao filme como “comédia romântica”. O lado político das letras de Renato Russo aflora também de alguma maneira?

É uma comédia romântica, um filme de amor, com momentos incríveis de humor. Mas ele também pode ser encarado como uma “dramédia”, porque tem um drama ali também, além da graça. Acho que é, na verdade, um amálgama de gêneros. E é uma história que se passa nesse período da nossa história, final da ditadura, meados dos anos oitenta. Não poderia, portanto, passar longe do que foi aquele momento político. Muitas músicas dele (Renato Russo) trazem esse cunho que é não partidário, mas é muito político. O filme é um grito de liberdade, de defesa da democracia, fala sobre equidade de gênero… Enfim, é uma manifestação de tudo que eu acredito que fará esse país ser melhor.

Em que medida fazer filme depende de aporte público?

O cinema no Brasil e em quase todo o mundo só é possível com incentivo público. A exceção está nos EUA. E mesmo lá existem enormes políticas de ‘tax rebate’ (dedução fiscal) para estimular a produção local. E o motivo é bem claro. É uma política de geração de empregos, renda, riqueza e também de afirmação cultural. Importante ressaltar que, para cada real investido pela Secretaria de Cultura, mais dois reais foram investidos pelo Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Também tivemos diversos outros aportes de outras fontes privadas, mas grande parte delas também vinculada a alguma lei de incentivo. Os produtores ficam muito felizes de saber que esse investimento gerou mais de 10 mil empregos diretos e indiretos e também vai continuar gerando riqueza de agora em diante, com o lançamento, e deixar um legado eterno pra cultura brasileira. Cinema é imortal.

Tem alguma tese para explicar o interesse dos brasilienses pelo cinema? Acredita ser um traço especial da capital?

Olha, acho que muito desse imaginário da relação íntima entre a capital federal e o cinema brasileiro se explica pelo pioneirismo da UnB, do projeto de Darcy Ribeiro. Estamos falando de seis décadas dessa que é uma das primeiras faculdades de cinema do país, uma referência. Muitos dos cineastas da cidade foram formados lá ou tiveram contato com esse universo universitário. Além disso, temos o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, também uma baita referência. O último Drive-in em funcionamento também é em Brasília. Isso para não falar do cenário que é nossa cidade. Busco sempre evidenciar isso nos meus trabalhos. Claro que também é uma questão ligada com termos maior renda per capita e instrução do país. Mas não é só isso e também não há como negar: Brasília é coisa de cinema!

Você mencionou em algum lugar que há mais um filme seu cujo projeto bebe no repertório da Legião Urbana. Pode dar uma dica?

Quando ouvi “Eduardo e Mônica” já na primeira vez, na minha adolescência, eu pensei “isso aí dá um filme!”. “Faroeste Caboclo” eu ainda fui além e disse: “Quero fazer esse filme!” Serão uma felicidade e uma honra imensas se eu conseguir realizar mais um filme baseado nas obras do Renato, que são tão significativas para mim.

Será uma trilogia…

Não sei se posso dizer que teremos uma trilogia. Talvez até uma tetralogia, quem sabe? A verdade é que são várias as músicas da Legião que me tocam para virar filme… Índios, Tempo Perdido, Pais e Filhos, entre tantas outras… Algumas mais obviamente adaptáveis, outras mais “misteriosamente” cinematográficas. O que posso dizer é que certamente quando eu comecei isso tudo eu já tinha três músicas que eu queria adaptar. Eu já decidi e estamos negociando. Não posso revelar ainda.

Alguma novidade que dê para contar?

Posso dizer para os fãs que já tá bem encaminhado um documentário sobre a vida do Renato Russo. Estou produzindo com a Bianca de Felippes, repetindo a nossa parceria de “Faroeste Caboclo” e “Eduardo e Mônica”. Teremos acesso exclusivo a todas as peças que integraram a exposição no MIS [Museu da Imagem e do Som, São Paulo, em 2017/18], como diários e letras não publicadas.

 

*Com informações da Secretaria de Cultura e Economia Criativa