16/01/2022 às 11:17, atualizado em 16/01/2022 às 14:27

Estudante de 62 anos formada na EJA inicia o ano na UnB

Quem quiser seguir o mesmo caminho da diarista Maria da Conceição pode se matricular no programa, que abrirá vagas remanescentes em fevereiro

Por Adriana Izel, da Agência Brasília I Edição: Carolina Jardon

A diarista Maria da Conceição Lucas de Macedo, 62 anos, vai inaugurar 2022 com um novo capítulo na sua vida: a entrada na universidade. No segundo semestre de 2021, ela foi aprovada no vestibular da Universidade de Brasília (UnB) no curso de Artes Cênicas. Moradora da capital desde 2000, ela se diz “calma e tranquila” para a nova fase.

“Tenho colegas que estão na UnB. Não vou ficar sozinha. Agora são mais quatro anos de “ralação”. “Serão novos desafios, não será fácil, mas vou chegar de novo onde quero”, define. As aulas começam amanhã, 17 de janeiro, de forma remota devido à pandemia.

Dar continuidade aos estudos era um sonho antigo de Conceição que, aos 47 anos, se formou no ensino médio pela Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Distrito Federal. Em 2016, pela primeira vez na vida, a diarista foi ao teatro. Encantada com o que viu, em seguida, matriculou-se em uma oficina gratuita e, depois, fez parte de uma companhia de teatro do Espaço Semente, no Gama. Em 2019 ela decidiu voltar a estudar e fazer o curso de formação superior.

Antes de passar para a UnB ela fez um curso técnico em Administração no Instituto Federal de Brasília (IFB), que serviu de base para o vestibular. “Voltei a estudar, porque eu não queria ficar em um quadro de depressão. Não queria envelhecer triste. Eu queria viver. Lutei e fui correr atrás de outros horizontes. Quando descobri que fui aprovada [no vestibular], fiquei em êxtase”, conta a diarista.

Ensino básico

A Educação de Jovens e Adultos é um direito previsto na Constituição de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)

Histórias como a de Maria da Conceição não são raras na EJA. A diretora do segmento na Secretaria de Educação, Lilian Sena, diz que ao retomar e concluir os estudos os jovens e adultos se sentem empoderados, o que resulta em várias realizações.

“Esse é o objetivo: estudar, melhorar a qualidade de vida, exercer cidadania, ajudar sua comunidade. Quando isso acontece, eles percebem a própria capacidade e começam a sonhar com o futuro, com a formação superior. É algo que acontece com frequência na EJA”, analisa.

A Educação de Jovens e Adultos é um direito previsto na Constituição de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). No Distrito Federal existem 112 escolas do formato nas 14 regionais de ensino. A educação é ofertada em três segmentos, sendo os dois primeiros relativos ao ensino fundamental I e I, e o terceiro, ao ensino médio. Cada série é otimizada em semestres e a carga horária é flexível.

Além do formato presencial, a EJA também pode ser feito à distância. Quem opta pelo modelo conta com o Centro de Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissional à Distância de Brasília (Cejaep EaD), na Asa Sul, como base.

Outra modalidade da EJA é a integrada, que oferece educação profissional aos estudantes. Os cursos técnicos ocorrem de forma concomitante com o ensino básico. A unidade do Cruzeiro capacita técnicos em serviço público. Controle ambiental é o curso técnico de Brazlândia. Enquanto que a escola de Ceilândia oferece capacitação técnica em informática.

Vagas

O período de matrículas ocorre duas vezes ao ano. Quem quiser se inscrever para as aulas de 2022 pode aguardar a reabertura das vagas remanescentes, prevista para início de fevereiro. Caso o estudante não tenha o histórico escolar, não tem problema. “Mesmo sem esse documento que declara a escolaridade, nós conseguimos fazer um diagnóstico e identificar a série que ele pode ser matriculado”, explica.

De acordo com a diretora da EJA na Secretaria de Educação, o DF atende de 40 a 50 mil alunos por semestre. Mesmo assim, ela diz existir uma grande demanda. “Quase 1 milhão de pessoas não concluíram a educação básica e poderia estar na EJA”, afirma. “O que a gente costuma dizer é que a EJA é um direito, não estamos prestando um favor”, completa.