04/10/2022 às 18:19

GDF faz apelo para vacinação contra a pólio de crianças de até 4 anos

Poliomielite é grave, não tem cura e ameaça retornar ao Brasil devido à baixa cobertura vacinal

Por Agência Brasília* | Edição: Carolina Lobo


Brasília, 29 de setembro de 2022 – 
Uma infância presa à cadeira de rodas, observando outras crianças brincando enquanto mal conseguia se movimentar. Na escola, a hora do recreio era o momento de maior tristeza. Uma vida limitada e cheia de obstáculos. Essa foi a realidade vivida pela pesquisadora de cinema aposentada Berê Bahia, 73 anos. Ela ficou com paralisia infantil após ser diagnosticada com poliomielite.

[Olho texto=”A campanha contra a poliomielite, iniciada em 8 de agosto, e prorrogada até 30 de setembro, só alcançou até o momento 33% do público-alvo” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”]

“Até os meus 7 anos, eu tinha uma vida normal. Um dia senti febre e muita dor no corpo, principalmente muscular. Desde então, perdi a mobilidade da perna direita e de parte do meu braço”, conta a aposentada. “Minha mãe fazia massagens com ervas e óleos e eu tomava banhos de luz no hospital, até o médico confirmar o diagnóstico de paralisia infantil. O tratamento era somente remédios para dor”, relembra.

Ao longo da vida, Berê passou por 16 cirurgias na perna. Por conta do tratamento, que demandava tempo, acabou desistindo da faculdade. Na vida profissional, não foi muito diferente. A doença atrapalhava a locomoção, gerando dor e muitos afastamentos.

“Faço um apelo para os pais e responsáveis: levem suas crianças para se vacinarem contra essa doença tão terrível. Façam por amor, tenham consciência e não deixem que as crianças tenham uma vida tão limitada e dolorosa. Hoje existe vacina, na minha época não tinha”, diz Berê Bahia, 73 anos | Foto: Secretaria de Saúde

De janeiro a junho deste ano, a cobertura de rotina da vacina contra a poliomielite no DF, em crianças menores de 1 ano, foi de pouco mais de 73,5%. Já a campanha contra a doença, iniciada em 8 de agosto, e prorrogada até 30 de setembro, só alcançou até o momento 33% do público-alvo. O índice significa que apenas 48 mil das 160 mil crianças entre 1 e 4 anos de idade receberam o reforço com a vacina oral de poliomielite.

“Hoje, fico muito indignada e triste em ver que a poliomielite pode voltar a registrar novos casos. Há 28 anos, erradicamos essa doença do Brasil”, comenta Berê. “Faço um apelo para os pais e responsáveis: levem suas crianças para se vacinarem contra essa doença tão terrível. Façam por amor, tenham consciência e não deixem que as crianças tenham uma vida tão limitada e dolorosa. Hoje existe vacina, na minha época não tinha”, frisa. A meta da cobertura vacinal da Secretaria de Saúde é atingir 95% dessa população.

[Olho texto=”O Distrito Federal está entre as unidades federativas com menor taxa de adesão à vacinação, com 33,09%, atrás apenas de Roraima (23,17%), Acre (24,49%) e Rio de Janeiro (30,59%)” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

Enfermeira da área técnica de imunização, Fernanda Ledes destaca que a poliomielite é uma doença grave e que pode causar a perda dos movimentos, especialmente dos membros inferiores. Além disso, não tem cura. “A melhor forma de prevenção contra a poliomielite é a vacinação, que está disponível no SUS [Sistema Único de Saúde] para crianças de 2, 4 e 6 meses, por meio da vacina inativada poliomielite (VIP) e a partir dos 15 meses aos 4 anos de idade com a vacina VOP [vacina oral poliomielite], que é a de gotinha”, explica.

Ledes esclarece que a baixa cobertura vacinal, que desde 2017 não atinge a meta de 95%, pode ocasionar a volta da doença. “Como a poliomielite ainda circula em alguns países, existe o risco de ressurgimento no Brasil. Por isso, é tão importante proteger todas as crianças e levá-las para serem vacinadas”, ressalta. O Distrito Federal está entre as unidades federativas com menor taxa de adesão, com 33,09%, atrás apenas de Roraima (23,17%), Acre (24,49%) e Rio de Janeiro (30,59%).