15/10/2022 às 14:55, atualizado em 21/10/2022 às 10:51

Cigarros eletrônicos: o vício da nicotina camuflado de sabores

Consumo do produto vem crescendo no DF, mesmo diante das apreensões feitas para combater as vendas; quase 60 postos da rede pública de saúde tratam viciados

Por Hédio Ferreira Júnior, da Agência Brasília | Edição: Rosualdo Rodrigues

Eles surgiram em 2014 como alternativa para quem queria parar de fumar mas não conseguia encarar os tratamentos usuais. O que era pra ser um instrumento inofensivo foi, ao longo dos anos, ganhando ingredientes novos, muitos sabores e uma dose de nicotina mais viciante que os cigarros convencionais.

[Olho texto=”“Mesmo sem combustão, é um produto proibido que surgiu como porta de saída para a dependência, mas que virou a porta de entrada para o vício”” assinatura=” André Godoy, diretor da Diretoria de Vigilância Sanitária” esquerda_direita_centro=”direita”]

Conhecidos como vape, smok, pen drive ou “caneta” – em razão do seu formato –, os cigarros eletrônicos têm cada vez mais adeptos, causando muitos malefícios à saúde.

O Governo do Distrito Federal (GDF), por meio da Diretoria de Vigilância Sanitária (Divisa), vem fechando o cerco contra a venda desses dispositivos e apreendeu, de setembro de 2021 a agosto de 2022, mais de 43 mil cigarros eletrônicos, acessórios, insumos e correlatos.

“Mesmo sem combustão, é um produto proibido que surgiu como porta de saída para a dependência, mas que virou a porta de entrada para o vício”, informa o diretor da Divisa, André Godoy.

Os vapes trazem corantes e sabores, substâncias da indústria alimentícia que não deveriam ser filtradas pelos pulmões | Foto: Divulgação/Ministério da Saúde

A Secretaria de Saúde, por sua vez, conta com 62 unidades básicas de saúde (UBSs) cadastradas para o tratamento de tabagismo. Para saber quais são elas, acesse aqui ou ligue 136. Além disso, promove ações preventivas com bate-papos em escolas para alertar as crianças e os jovens sobre os riscos por trás dessa fumaça odorizada que atrai usuários, principalmente, entre 13 e 17 anos de idade.

O cigarro eletrônico não tem alcatrão, mas estudos do Instituto de Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc) comprovaram que a fumaça do produto contém propilenoglicol, uma substância cancerígena.

Quando serve de diluente para a nicotina e é vaporizada e inalada, libera o formaldeído em concentrações cinco a 15 vezes maiores do que as encontradas nos cigarros tradicionais.

[Olho texto=”“Costumo dizer que os pulmões não comem. Eles servem para a passagem do ar, de preferência de boa qualidade. Receber esses componentes que não deveriam ser levados até eles é um fator que causará problemas pulmonares no futuro”” assinatura=”Nancilene Melo, pneumologista e RTD de tabagismo da Secretaria de Saúde” esquerda_direita_centro=”direita”]

De acordo com a pneumologista e referência técnica distrital (RTD) de tabagismo da Secretaria de Saúde Nancilene Melo, os vapes trazem corantes e sabores – como cappuccino, menta, banana e até crème brûlée –, substâncias da indústria alimentícia que não deveriam ser filtradas pelos pulmões.

“Costumo dizer que os pulmões não comem. Eles servem para a passagem do ar, de preferência de boa qualidade. Receber esses componentes que não deveriam ser levados até eles é um fator que causará problemas pulmonares no futuro”, alerta a médica.

A especialista ressalta que esses componentes saborizantes amenizam a sensação agressiva da nicotina, uma droga psicoativa com alto poder viciante e uma das mais difíceis de se tratar a dependência.